Nenhuma notícia da morte deste homem há de escapar ao óbvio: Sven-Göran Eriksson era um cavalheiro, um gentleman. Acontece que o óbvio é também o essencial e, por isso, ninguém o vai evitar, por muito que receie o cliché e a falta de originalidade. Porque quem ignorar o óbvio arrisca-se a fazer do obituário uma compilação de dados: vencedor da Taça UEFA com o humilde Gotemburgo, três vezes campeão nacional ao serviço do Benfica, clube que levou a duas finais europeias, ambas perdidas, treinador da Lazio no segundo e último scudetto conquistado pelo clube romano, primeiro selecionador estrangeiro de Inglaterra. Nas vitórias e nas derrotas, sobretudo nestas, nunca deixou de ser um gentleman. Pagou o preço dessa postura inamovível com as críticas a uma aparente e excessiva frieza que contrastava com os ambientes explosivos e apaixonados, dentro e fora de campo, onde exerceu funções.
Como encaixar um sueco tão sueco que mais parecia uma caricatura do escandinavo fleumático na cultura tabloide da Inglaterra do início deste século para a qual não havia fronteiras entre vida pública e privada? Como é que um timoneiro sueco com ar de professor de Educação Física (e foi mesmo professor de Educação Física nos arredores de Karlskoga) poderia navegar as águas turbulentas do futebol italiano e do futebol português no final dos anos 80 sem perder a compostura, sem perder a aura cavalheiresca?