Ao fim de um ano em Portugal, Roger Schmidt não fala português. Eis o magno problema da nação futebolística. Os jornalistas, que bastas vezes tratam a língua portuguesa ao pontapé, recusam-se agora a fazer perguntas em inglês ao treinador alemão do Benfica e há quem defenda a defenestração de Schmidt por ofensa ao país e ao povo que tão bem o acolheu. Já os benfiquistas, menos dados a bizantinas questões linguísticas, estão mais preocupados com os problemas de expressão da equipa do que com a fluência do treinador na língua de Camões.
Convém, é certo, não menosprezar o poder da língua, para o bem e para o mal. Quando Deus quis semear a confusão entre os homens que pretendiam edificar uma torre que tocasse nos céus e rivalizasse em grandeza com a divindade o que é que fez? A Bíblia explica: “Confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro.” E assim foi, provando que nada pode ser construído onde os homens não se entendam. Por outro lado, no Novo Testamento lemos o relato da descida do Espírito Santo sobre os discípulos. Subitamente, os galileus, para espanto dos que os ouviam, principiaram a falar línguas estranhas em que louvavam as grandezas de Deus de modo que os estrangeiros os compreendessem. O método funcionou, embora inicialmente os forasteiros tenham julgado que os discípulos estavam bêbados.