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Tribuna Expresso

Crónica de Jogo

Sem flores e tensão, os 99 minutos foram resolvidos pelo acelerador de partículas futeboleiras

Christian Pulisic marcou o único golo da partida, uma das mais esperadas do Campeonato do Mundo pela carga política e pelo histórico entre Estados Unidos e Irão, a quem bastaria um empate para seguir em frente (caso se confirmasse o que aconteceu no outro jogo). A primeira parte foi um abafo dos norte-americanos, mas nos segundos 45 minutos houve uma estóica reação da seleção de Queiroz. Foi um bom jogo de futebol, emotivo e leal

Stuart Franklin

Hugo Tavares da Silva

Viajando sozinho e com um ralenti importante no verbo que soava quase a má vontade, Donald estava nas imediações do Al Thumama, em Doha, à espera que as portas abrissem. Estava nervoso, o texano. Mas jogam muito bem, lembramos. “Yeah… mas não fazemos golos”, denunciou. Encolheu os ombros quando a conversa abordou a questão Estados Unidos-Irão, um dos jogos mais esperados deste Campeonato do Mundo, abrindo o baú da lembrança até 1998. “Eles só vieram cá jogar.”

Donald gosta mesmo de soccer, embora nunca tenha usado o termo. Em 1994, em casa, viu um jogo. Ofereceram-lhe um bilhete e ele lá foi, feliz da vida. Era um Holanda-Brasil, em Dallas, “as melhores equipas do torneio”. Foi um jogaço com cinco golos – Romário, Bebeto e Branco, Bergkamp e Winter. Este homem, que leva na ideia reformar-se e ficar uns meses em cidades como Lisboa e Bali, tem um plano para o Mundial 2026. Mas agora o que interessa mesmo é dar de beber à dor, então coloca-se encostado a um poste, sentado, a ver o Equador-Senegal.

Os caminhos que abraçavam o estádio começavam a encher-se de gente. Os iranianos ouviam-se em casa quase. Havia fotografias com os dois lados da história, havia até cumplicidade, como se fosse todos ativistas pela paz. A certa altura, aparece alguém com a máscara de Donald Trump, dançando exemplarmente, com o que parecia ser um buraco na têmpera, de onde escorria algo vermelho. Não gerou tensão, houve risos.

Simon M Bruty

Bastava um empate à seleção iraniana, orientada por Carlos Queiroz, caso o País de Gales fizesse o favor de não ganhar à Inglaterra. Dentro de campo, no entanto, os Estados Unidos trouxeram as boas ideias que haviam demonstrado contra os ingleses. Houve momentos de sufoco. Os números ao intervalo, aliás, confirmam-no: 9-0 em remates e 62% de posse de bola para os norte-americanos.

É uma bela equipa. O coração está nas pernas (e nos pés que decidem bem) de Tyler Adams (jogaço), que teve talvez a conferência de imprensa mais exigente da carreira, e Yunus Musah. Weston McKennie, menos participativo, trata de desequilibrar através do passe e combinações. Foi assim que descobriu a subida do deslumbrante Sergiño Dest, pela direita. O lateral do AC Milan meteu de cabeça para o meio e Christian Pulisic, acelerador de partículas futeboleiras e fino driblador, mergulhou com o pé para encostar para a baliza do regressado Alireza, ex-Boavista. Foi aos 38’. E teve consequências: depois do choque com o guarda-redes, o avançado do Chelsea saiu porventura tocado ao intervalo.

O Irão inventou uma ou outra subida interessante. Era tudo meio desgarrado, em esforço ou deixando para dois ou três tentarem a sorte. Medhi Taremi, o cérebro e líder espiritual do grupo, foi o autor moral da jogada mais perigosa, mas o derradeiro toque na bola não encontrou o colega. Às vezes, o quarteto da defesa encontrava a companhia de Ahmad Nourollahi. O rival tocava bem, rápido, tinha pilhas para jogar até amanhã de manhã no deserto e empurrava os iranianos para trás.

Soccrates Images

Os adeptos do Irão faziam um ruído quase insuportável, com cornetas e parentes da vuvuzela. Com uma certa cadência, lá enfiavam um “Iran” pelo meio. Esta seleção vai vivendo momentos difíceis. O país tem nas ruas muita gente a lutar pelos direitos das mulheres e censurando as mortes que o regime vai acumulando, no seguimento do assassinato de Mahsa Amini. Há quem assobie o hino (voltou a acontecer esta noite), que os futebolistas não cantaram no jogo contra a Inglaterra. Então, é quase uma situação win-win mas ao contrário, já que incomodam sempre um dos lados da barricada e sentem um pressão brutal por tudo o que se diz e as ameaças que alegadamente são feitas a familiares e amigos. O histórico Ali Karimi revelou esta terça-feira que recebeu ameaças de morte por parte do governo por apoiar os manifestantes.

Se o elenco que controla o meio-campo dos EUA ia enchendo o olho de quem tem a fortuna de o ver, do outro lado havia alguns detalhes técnicos que mereciam arregalaram os olhos, como uma cueca de Ali Gholizadeh ao vaivém tremendo que está em Antonee Robinson.

Na segunda parte, a história foi outra. Surpreendentemente, a bola deixou-se de amizades com os Estados Unidos, tendência fria que se estendeu até às pernas. E o Irão cresceu. A reação foi corajosa e estoíca. Saeid Ezatolahi fez um remate espectacular, passou perto da esquina esquerda da baliza de Matt Turner, e Abolfazl Jalali, com as orelhas a ferver por ter um português a dar-lhe duras, ia desequilibrando pela esquerda. Morteza Pouraliganji, um central com o número 8, ficou perto do empate e o estádio quase veio abaixo, naquele som atrasado que chega como um rugido violento. Foram lutadores leais e infinitos.

No fim, após mais um longo desconto de tempo que levava o jogo para quarta-feira e tal como no início, os futebolistas cumprimentaram-se e os vencedores apurados para os 'oitavos' consolaram as lágrimas e as angústias dos vencidos, engolindo as hesitações de 1998, que até culminaram com os asiáticos a oferecerem flores aos adversários. Desta vez não houve flores nas mãos dos iranianos, apenas ancas, rostos, cabelo e mãos dos companheiros. Competiram e, acima de tudo, jogaram por eles, quem sabe esquecendo o caos que vai agitando o país deles. Daqui a quatro anos há mais… e nos Estados Unidos.

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