Exclusivo

A casa às costas

“Adotei o meu filho no Brasil, onde estive preso 51 dias, acusado de 'falsidade ideológica'. Voltaria a fazer o mesmo, com outros contornos”

Em 35 anos de vida como treinador, Acácio Casimiro esteve em 10 países, maioritariamente na zona do Magrebe e Médio Oriente, onde viveu mil e uma histórias, muitas das quais conta nesta entrevista. No entanto, a maior aventura da sua vida viveu-a no Brasil, onde esteve preso e de onde trouxe o seu filho Rui, num processo de adoção rocambolesco. Entre várias revelações, explica porque hoje quase não fala com João Alves, de quem foi adjunto durante muito anos

Rui Duarte Silva

Estreou-se como treinador no USC Paredes, em 1981/82. Recorda-se da primeira época no cargo?
Foi um bocado complicado porque uma coisa é tirar o curso e a parte teórica, outra coisa é a prática. Nunca previ que fosse treinador tão cedo, ou nunca. O meu objetivo não era seguir como treinador, era eventualmente terminar o curso superior de Economia que cheguei a frequentar e depois seguir noutro setor, até no caso, se não tivesse havido o incêndio, continuar nas duas lojas que tive, uma de discos e outra de eletrodomésticos, bibelôs e cristais, mais o pub. Mas, logo em 1982, fui contratado como treinador-adjunto pelo major Valentim Loureiro, para o Boavista.

Quem era o treinador?
O Mário Wilson, que foi embora a meio da época e ficou o João Alves como jogador/treinador e quis que eu continuasse como adjunto. Fiquei mais dois anos como adjunto do Alves e no último ano, ele foi buscar o Celso como adjunto. Eu disse que não treinava mais. O Alves, entretanto, foi treinar o Leixões e veio pedir-me para ser adjunto dele no Leixões. Depois do Leixões fomos para o Estrela da Amadora. Subimos à I Divisão e no ano seguinte ganhámos a Taça de Portugal, contra o Farense. A seguir fomos para o V. Guimarães e quando o Alves veio embora o Pimenta Machado quis eu ficasse como adjunto do Marinho Peres. Quando o Alves se despediu do Boavista, o major também quis que eu ficasse, e eu não quis, por fidelidade.

Como era lidar com João Alves?
Complicado. Estive 13 anos com ele. Eu é que resolvia os problemas.

De balneário?
Quase todos. O Alves era muito inconstante, tinha litígios terríveis com o major, mas o major considerava-o como um filho. O Alves tinha sido a maior transferência do Boavista até então, para o Salamanca. Éramos muito chegados. Familiarmente, o filho dele, o Carlitos, ficava muitas vezes em casa dos meus pais, em Espinho, ao fim de semana, quando o Alves queria ir jantar e ir ao casino. Tivemos uma cumplicidade muito grande, temos muitas histórias. Mas acabei por me afastar.

Porquê?
É uma história muito comprida. Quando regressámos ao Estrela da Amadora a última vez, em 1992, fui nomeado pelo Alves para ir para o Brasil buscar quatro jogadores para o Estrela. Fiquei um mês sozinho no Brasil. Na última semana, o Alves, o presidente e o Pedrosa, o administrativo, foram ter comigo para ver os jogadores e encetar as negociações, se tivessem de acordo. Esses quatro jogadores vieram. Foi o Fernando, o Edinho, o Mazo e o Leomir. Voltámos a Portugal, fomos jogar o último jogo em Campo Maior, empatámos, e ficou decidido que eu voltava ao Brasil para fechar contrato com os jogadores, porque na altura não havia empresários e era eu que ia tratar do assunto. Acabei por ir ao Brasil buscar os jogadores e aconteceu-me um caso que é hoje meu filho. É a história da minha vida. Isto em 1993.

A casa às costas