Exclusivo

A casa às costas

“Na Roménia tinha um colega que se vestia como o adversário e ia para o balneário deles ouvir a tática. O treinador nem se apercebia”

Hugo Moutinho, de 41 anos, fez a maioria do seu percurso sénior entre a Roménia e o Chipre, onde contactou de perto com a realidade de alegados jogos viciados. Nesta segunda parte do Casa às Costas conta várias histórias desses anos em que ainda regressou uma vez a Portugal para jogar no Oriental. Casado com uma romena, continua a viver em Drobeta-Turnu Severin, onde treina crianças dos 8 aos 10 anos, mas diz que o futuro próximo pode passar por Espanha, Itália ou até mesmo Portugal, onde pretende investir

D.R.

Como foi o primeiro impacto quando chegou ao FC Drobeta, na Roménia?
Ficámos os três num hotel, sendo um clube pequeno, pagava bem. Passados seis meses, arranjaram-me um apartamento e as coisas correram normalmente.

Como eram os treinos?
Tive um treinador que foi vice-presidente da Federação Romena de Futebol e fazia treinos bidiários três vezes por semana. Da II divisão para cima são todos profissionais. Mas tentam muitas vezes fazer dois contratos. Por exemplo, para um ordenado de 5 mil euros, eles tentam colocar €500 no contrato para dar à federação, para não pagarem mais impostos, e para os restantes €4500 fazem outro contrato. Só que este não te dão, ou seja, se tiveres necessidade de recorrer à FIFA por alguma razão, não tens o contrato por isso nunca vais receber esse dinheiro.

Tentaram fazer isso consigo?
Sim, mas não aceitei. Renovei contrato duas vezes. No 3.º ano não recebi dinheiro nenhum, nem um euro, até dezembro. Em dezembro, acontece muito aqui na Roménia, as equipas acabam, fecham a torneira e acaba tudo. Na altura a equipa acabou e foi toda a gente para casa. A partir de novembro até março não havia campeonato porque era neve até aos joelhos. Fui a Portugal, como ia normalmente, para passar o Natal e quando cheguei cá, em janeiro, para começar a pré-época de inverno, meto as chaves na porta do apartamento e já não entrava.

O que fez?
Liguei para várias pessoas. O clube já não pagava a renda há três meses. Eu tinha lá todas as minhas coisas. O que vale é que na altura já tinha a minha namorada, hoje esposa, que me ajudou. Ela vivia sozinha com a mãe e fiquei com ela. Desde esse momento que estamos juntos.

A casa às costas