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A casa às costas

“No Catar, o ministro do Desporto disse-me: ‘Ou assinas este contrato ou a polícia está à tua espera e encaminha-te para a esquadra’”

Aos 22 anos e após três meses no Sheffield da Inglaterra, Diogo Amado regressou ao Estoril Praia, onde jogou cinco épocas consecutivas, antes de voltar a sair, desta vez para o Catar, não devido às condições financeiras, mas para estar mais perto da filha. O médio defensivo conta nesta II parte os vários episódios que viveu no Médio Oriente, onde também jogou no Ajman, dos Emirados Árabes Unidos. Há duas épocas no União de Leiria, que ajudou a subir à II Liga, diz querer voltar a ver o clube no patamar mais alto do futebol português

D.R.

Como foi a adaptação ao Sheffield e a Inglaterra, em 2012?
Foi horrível. Não me adaptei ao futebol, nem a nada. Era jovem, se calhar hoje tinha superado aquelas dificuldades do viver num país estrangeiro.

Quais foram as maiores dificuldades?
Primeiro, acho que o nosso país é um país maravilhoso e só damos valor quando estamos fora; depois, o facto de o céu ser quase sempre cinzento e o futebol não me estar a correr tão bem como eu pretendia.

Vivia sozinho?
Sim, vivia mesmo junto ao centro de treinos do Sheffield.

Os ingleses receberam-no bem?
Em Portugal temos sempre o cuidado de receber bem as pessoas e de fazer quem vem de fora sentir-se em casa e lá não é assim, é mais “desenrasca-te”, um povo um bocadinho mais frio, pelo menos na zona onde estive.

Os treinos, muito diferentes?
Sim, principalmente na pré-época, tínhamos três treinos por dia. O primeiro logo às sete ou oito da manhã, que era treino físico, sem bola; depois tínhamos uma paragem para comer qualquer coisa e íamos para o ginásio. Depois do ginásio, tínhamos o almoço e, passado pouco tempo, já estamos novamente a treinar. Era assim, todos os dias.

Chegou a jogar?
Jogar, não. Porque eu fiz a pré-época e não estava mesmo a adaptar-me. Já estava mentalizado que não ia dar.

O que custava mais na adaptação?
O facto de estar longe de tudo e de todos foi a principal razão. Nem sequer tinha capacidade para me superar em campo. As opções sempre do treinador, tal como em todo o lado, mas eu não as compreendia e não fazia sequer por mudar a opinião dele. Não demonstrava em campo que merecia estar no 11 e comecei a conformar-me com isso. Tanto que mantinha contacto com o Estoril. O Marco Silva contactou-me, dizia que gostava que eu voltasse, eu como já tinha isso na cabeça, vou voltar, a minha resiliência foi zero, rigorosamente zero.

A casa às costas