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A casa às costas

“O meu treinador na Polónia chegou a dizer-me que tinha de correr 12 km por jogo. Em Portugal, uma pessoa fica ‘o quê? mas isso interessa?’”

Depois de duas épocas e meia a jogar na Polónia, onde aproveitou para estar mais tempo com a família paterna e melhorar a língua, Tomás Podstawski está agora na Noruega, onde joga numa intensidade elevada, segundo ele, por causa do frio. Amante de viagens e de enologia, nesta II parte da entrevista confessa que a maior extravagância que fez na vida foi abrir uma garrafa de vinho com um amigo que custou entre 400 e 500€. E conta como, para a namorada poder entrar na Polónia durante o confinamento, contratou-a para a sua empresa: "acabei por não lhe pagar o salário e despedi-a passado um mês"

D.R.

Como surgiu o interesse do Pogon Szczecin, da Polónia, em 2018?
O tempo estava a passar e acabam por telefonar-me da Polónia, ofereceram-me condições salariais mais estáveis e muito mais atrativas do que tinha no Vitória de Setúbal, apesar de terem uma dimensão desportiva muito parecida.

Não hesitou?
Hesitei, disse que não queria ir, queria outras coisas. Mas estávamos em agosto, o tempo estava a passar, não dava para dizer que não, porque se ficasse em Setúbal ficava seis meses quase sem jogar ou com atrasos salariais, até à próxima janela de transferências de janeiro. Podia ficar uma época sem jogar com 23 anos e não era nada do que eu queria. Nunca pensei ir para a Polónia jogar. Mas acabei por ficar contente, foi uma mudança boa, dado o nível do Vitória de Setúbal. Não é uma mudança boa para quem vem de um FC Porto, mas para quem estava no Vitória de Setúbal. E quando cheguei à Polónia as coisas correram-me muito bem, especialmente na primeira época, em que se falou que eu poderia ser chamado à seleção polaca.

Se fosse chamado aceitava ou estava de olho na seleção portuguesa?
Estive sempre de olho na seleção portuguesa, pela quantidade de jogos que fiz, por ter representado Portugal ao mais alto nível nas camadas jovens, pela relação que tinha com as pessoas da federação e porque sempre me senti português. Nasci na Sé, no Porto, e representar Portugal era diferente. Mas claro que se houvesse uma oportunidade para jogar na seleção A da Polónia, se calhar era estúpido dizer que não, porque era uma oportunidade numa carreira tão curta e podia elevar a minha carreira a outro patamar, por isso, se calhar diria que sim. Mas nunca tive essa possibilidade em concreto, não posso falar do que não tenho.

Vai sozinho para a Polónia?
Sim, mas a minha namorada e o meu pai acompanharam-me numa primeira fase, depois tiveram de regressar a Portugal.

Quando conheceu a sua namorada e o que ela faz profissionalmente?
Conheci a Teté [Teresa] no meu último ano no FC Porto B, numa discoteca, em Matosinhos. No dia seguinte encontramo-nos no mesmo café coincidentemente e a partir daí começamos a falar. Ela acabou o curso de gestão, o ano passado, e por isso só desde o ano passado é que está a viver a tempo inteiro comigo.

A propósito de discotecas, gosta de sair à noite? Como era quando estava no FC Porto?
No Porto é sempre muito complicado, mas no Porto nunca saía, era impossível, era um controlo imenso, podíamos estar em qualquer lado, eles sabiam. Ainda por cima o Porto acaba por ser pequeno. A empresa de segurança privada que trabalha nesses locais é a mesma que o FC Porto tem para fazer o serviço no Olival e no espaço do Estádio do Dragão, por isso a informação corria muito rápido. Nós saímos de uma forma muito mais à vontade quando fomos campeões pela equipa B. Aí senti uma leveza, OK, podemos sair sem ser julgados porque tínhamos sido campeões. Fomos à queima das fitas no queimódromo mais à vontade, mas lembro-me que chegamos a ir com os carapuços na cabeça, a tapar, para ninguém ver. Ficávamos uma ou duas horas e sempre naquela "espero que ninguém nos veja", porque eles reconheciam-nos, mesmo aos da equipa B. Mas, durante a época, nunca saía. Saí a primeira vez com 17 anos, não era uma pessoa de sair muito à noite, só nas férias, e gosto sim, gosto de divertir-me, mas mais nas férias.

A casa às costas