Surf

Caitlin Simmers, a adolescente que usa vernáculo quando conquista as assustadoras ondas de Pipeline

Só tem 18 anos, há meses andou na luta pelo do título mundial de surf e nos gigantes tubos de Pipeline, no Havai, ganhou a primeira etapa do circuito desta temporada. Caitlin Simmers é nova surfista precoce que venceu em Peniche, em 2023, e chegou a recusar entrar no Championship Tour por ser demasiado nova

Brent Bielmann/WSL

“Pipeline is for the fuc***** girls!”

O ligeiro vernáculo no uso da palavra começada por ‘f’, em inglês, não seria inesperado pela circunstância, mais pela pessoa que a profere. A televisiva World Surf League, entidade que filma, pensa e transmite de graça o seu produto que é um circuito mundial, há muito que tem uma pessoa a boiar no mar, sentada numa prancha, a salvo da zona de rebentação das ondas mas bastante próxima da ação. Ainda Caitlin Simmers mal tivera tempo para assimilar o que acontecera e já tinha um homem de fato vestido, microfone na mão e uma câmara apontada a ambos ao largo da praia, no Havai.

A adolescente, de capacete preto na cabeça, estendeu o braço a pedir o captador de som e a primeira frase a sair-lhe foi esse impropério que invocou a propriedade da rainha das ondas do arquipélago perdido a meio do Pacífico onde o surf é rei. E com razão. A magricela Caitlin Simmers acabara de vencer a primeira etapa do Championship Tour (CT) em Pipeline, enfiando-se dentro de tubos formados por ondas assustadoras que levaram a adversária, a australiana Molly Picklum, também a proteger-se com um capacete contra o poderio das mandíbulas daquelas ondas - e da fome incessante de uma rapariga que parece vidrada em surf.

Esta foi a terceira vitória de Simmers no circuito mundial, americana que só tem 18 anos e aos 16 chegou a recusar entrar na prova onde tantos sonham estar porque achou, na altura, ser demasiado precoce. A decisão não evitou que Caitlin seja uma miss precocidade no surf que ficará para sempre umbilicalmente ligada a Portugal, especificamente à onda de Supertubos, em Peniche, onde venceu a sua primeira etapa o ano passado e voltará daqui a um mês. Talvez já sem capacete, pois a areia no fundo da praia no oeste português não é tão assustadora quanto a dentadura escondida em Pipeline.

No derradeiro dia da competição na onda havaiana que dá o tiro de partida no CT, o mar cresceu para Pipeline se mostrar no seu clássico: ondas para lá dos dois metros que precipitaram os surfistas em take offs (gesto de se colocarem de pé na prancha) difíceis para se esconderem em tubos aos quais tentam sobreviver. “Esta onda é aterradora. Respeito toda a gente que queira ser parte dela e todos os que não querem, porque é mesmo assustador estar lá fora”, admitiu Caitlin Simmers, já vitoriosa e líder do ranking que quase tomou de assalto há meses, quando terminou o ano de estreia no 5.º lugar e a lutar pelo título nas WSL Finals.

É ela agora, tímida e ruiva, a esconder-se por trás da cara repleta de sardas e sem ocultar a idade num discurso cheio de “like” a servir de vírgula entre frases, que sai na frente do circuito mundial feminino. Caitlin Simmers já tem três eventos ganhos nos 11 em um ano, rácio formidável para a surfista mais nova do CT. A americana tem cara de miúda, mas o seu surf é do mais adulto que há.

E sim, Pipeline também é das raparigas e das mulheres, como são todas ondas e sempre foram antes de a WSL as deixar competir lá em vez de escolher quais eram reservadas aos homens por, supostamente, serem demasiado difíceis ou agressivas para serem domadas no feminino.