Surf

Frederico Morais e a rainha das ondas do Havai continuam a ter uma relação complicada

À sétima vez em que competiu em Pipeline, na ilha de Oahu, ainda não foi desta que o surfista português conseguiu vencer um heat. Frederico Morais foi eliminado na terceira ronda da etapa inaugural do circuito mundial de surf e acabou no 17.º lugar, classificação que nunca superou naquelas ondas
Brent Bielmann/WSL

Na transmissão oficial da World Surf League, em inglês, ouvia-se Shane Dorian, outrora um surfista de competição no Championship Tour (CT), a cumprir serviço de comentador. Hoje mais dedicado a brincar com a vida em ondas gigantes e a ser treinador quando está em terra, o cinquentão, às tantas, defendeu que a melhor habituação à força da natureza que é Pipeline implica, em tradução coloquial, estar lá no mar a ‘levar porrada’ até se apanhar o jeito. Havaiano de gema, Dorian defendeu ser isso que transmite a quem treina.

Enquanto fornecia o seu conhecimento, no mar raso que constrói e desmancha ondas poderosas e tubulares sobre um afiado banco de coral estava Frederico Morais a ser como é costume: um observador atento do mar, à espera da melhor onda e sem pressa que afete a sua parcimónia na escolha da vaga a que pedirá boleia. A paciência que exibiu para ir em apenas duas ondas já lhe foi muitas vezes uma virtude, mas não neste regresso ao circuito mundial.

Pela sétima vez em que surfou em Pipeline, o português não foi capaz de vencer uma bateria. Desta feita, o responsável pela derrota era um nativo, Barron Mamiya, que no início da adolescência já andava a espreitar dentro dessas ondas e a maior rodagem do havaiano empurrou-o para sete ondas - eliminou os 7 pontos de ‘Kikas’ com os seus 14.16, deixando o surfista de Cascais na 17.ª posição da etapa inaugural do CT.

Frederico Morais nunca ultrapassou essa classificação desde 2016, quando se estreou na prova como convidado. No ano seguinte, qualificou-se pela primeira vez para o circuito onde, aos 32 anos, voltou esta temporada. Antes de parar em Portugal, em março, o mundial visita a praia de Sunset, na mesma ilha de Oahu, no Havai, onde as memórias já afagarão o conforto de ‘Kikas’.

Nessa onda mais retilínea, com uma parede a implorar por um estilo de surf mais clássico e que a trate com a prancha a desenhar cortes e rasgos na água, o português logrou, há oito anos, um 2.º lugar na então penúltima prova do Qualifying Series (QS). O feito catapultou-o a entrar, pela primeira vez, no circuito que agrega os melhores do mundo. Saído de Pipeline, a relação com as ondas de Sunset suscita proezas, não traumas.