Portugal

A 200.ª internacionalização é mais um marco na história de Cristiano Ronaldo, o homem que se diz perseguido pelos recordes

Frente à Islândia, o capitão da seleção torna-se no primeiro jogador de sempre a atingir duas centenas de partidas pela respetiva equipa nacional. Mais um marco para um dos maiores açambarcadores de registos únicos que o futebol já viu

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Os que conhecem Cristiano Ronaldo desde os tempos em que ele era um adolescente a dar os primeiros passos na formação do Sporting garantem que a ambição sempre esteve lá. Subir e descer as ruas perto de Alvalade com pesos amarrados às pernas, escapadelas noturnas ao ginásio, treinos de fintas e finalização, todo um leque de histórias sobre a vontade infinita de melhorar diariamente.

Mas, por muitos sonhos concretizáveis e talento que se fundissem naquele corpo ainda franzino, ninguém poderia vaticinar, a 20 de agosto de 2003, o que estaria para vir. Desde logo, porque o que se sucedeu àquela noite em Chaves foi uma viagem por mares não mapeados do futebol internacional, território desconhecido para um jogo cuja codificação remonta ao século XIX.

Num amigável entre Portugal e o Cazaquistão, vencido pela seleção de Scolari por 1-0 (golo de Simão Sabrosa), Cristiano Ronaldo, de 18 anos feitos meses antes e dias depois da exibição contra o Manchester United na inauguração do novo estádio do Sporting, vestiu pela primeira vez a camisola principal de Portugal. Agora, passados 7.244 dias e a milhares de quilómetros de distância, em Reiquiavique, o madeirense chega, contra a Islândia, às 200 internacionalizações, tornando-se no primeiro jogador da história a atingir duas centenas de partidas pela respetiva equipa nacional.

Para distanciarmos esta 200.ª vez da primeira, basta atestar que, na data da estreia do capitão, António Silva, parte desta seleção, nem era nascido. Gonçalo Inácio tinha um ano de vida, Vitinha, Diogo Costa e João Félix iam nos três, Diogo Dalot e Rafael Leão somente quatro.

Em contraponto, e no lado oposto da diferença geracional, a acompanhar Ronaldo no debute frente ao Cazaquistão estiveram em campo um atual membro da equipa técnica da seleção (Ricardo), o selecionador sub-21 (Rui Jorge), o presidente do Benfica (Rui Costa), o diretor-desportivo do Sporting (Hugo Viana), dois dirigentes da FPF (Hélder Postiga e Pauleta) e um ex-candidato à presidência da FIFA (Luís Figo). O elo entre 2003 e 2023, a cola que liga quase todo o século XXI do futebol nacional? Cristiano Ronaldo.

Antevendo o 200.º encontro pela seleção principal, o avançado do Al-Nassr falou sobre esta relação com registos históricos: “Eu não sigo os recordes, os recordes é que me seguem”, considerou. Perseguido ou perseguidor, os livros de estatísticas do futebol são hoje bem diferentes do que eram a 20 de agosto de 2003.

O beijo ao primeiro grande troféu da seleção principal
MIGUEL MEDINA/Getty

Cristiano já era, desde o encontro contra o Liechtenstein, em março, o jogador mais internacional de sempre. Na altura, superou Bader Al-Mutawa, com 196 compromissos pelo Kuwait.

Olhando a nomes que tenham atuado pelas respetivas seleções neste mês de junho, o que mais se aproxima do madeirense é o seu grande competidor de sempre: Lionel Messi leva 175 pela Argentina. Ainda mais distante está Luka Modric, com 166 partidas pela Croácia.

Ronaldo é, também, o melhor marcador de sempre da história do futebol de seleções. Leva 122 golos — escrever este número coloca este texto em sério risco de estar atualizado durante muito pouco tempo — por Portugal, mais 13 do que o mítico Ali Daei, que marcou 109 vezes pelo Irão entre 1993 e 2006.

O único outro homem que festejou mais de uma centena de vezes com a camisola nacional foi Lionel Messi, com 103 golos pela Argentina. Como curiosidade, o quinto máximo goleador da história das seleções é outro ex-Sporting: o indiano Sunil Chhetri, com uma breve passagem por Alvalade, com três encontros pela equipa B, e 87 golos pela Índia.

Um golo, uma camisola tirada, o nascimento de um ícone
FRANCOIS GUILLOT

Golos, golos, golos. Nos últimos 20 anos do futebol mundial, Cristiano tornou-se antecedente lógico de Ronaldo e o nome passou a ser prelúdio racional de golo. Da lista de recordes que o madeirense tem em seu nome, boa parte relaciona-se com o objetivo do jogo.

Só ele, entre os homens, marcou em cinco Mundiais. Marcou mais golos que ninguém em fases finais de Europeus (14) e também na qualificação (35).

É o máximo goleador das competições de clubes da UEFA (145) e da Liga dos Campeões (140), onde ninguém marcou mais do que ele numa só temporada (17 vezes, em 2013/14) ou nas fases a eliminar (67 golos).

Foi o primeiro homem a marcar 10 hat-tricks no futebol de seleções. Tem mais golos na soma entre fases finais de Mundiais e Europeus (22) que qualquer outro.

Em 2024, na Alemanha, poderá aumentar vários destes registos, bem como o de recordistas de jogos (25), de vitórias (12) ou de partidas como capitão (16) na fase final do principal torneio continental de seleções - o mesmo que, em 2004, o tornou ícone nacional, dançante agitador partindo da linha com um fio de esparguete na cabeça, o 17 nas costas e brincos tapados nas orelhas.

De Chaves a Reiquiavique, de colegas nascidos antes do 25 de abril a companheiros que vieram ao mundo quando ele já atuava no Manchester United, de Scolari a Martínez. Os quase 20 anos de Ronaldo na seleção trouxeram 200 internacionalizações, dois títulos (Euro 2016 e Liga das Nações 2018/19), golos, muitos golos, e recordes, muitos recordes.