As ameaças repetem-se: “Vou ao balneário e violo-te”, “tens cara de quem chupa bem” ou “tira a camisola para me mostrares as mamas”. Foram todas dirigidas à mesma pessoa, uma jogadora de futebol feminino adolescente, que não tem ainda 18 anos e teve a coragem de dar a cara. Karolina Sarasúa é “apenas” o mais recente caso de abuso sexual verbal a somar aos que têm sido denunciados nos últimos tempos. Joga no Osasuna B, em Espanha.
As frases, publicadas nas redes sociais e citadas pelo "El Mundo", são apenas uma amostra retirada da longa lista de impropérios que Karolina fez. Outros insultos envolviam — como parece ser convenção — a mãe da adolescente. “Recebi tudo isto durante os 90 minutos do jogo [entre Osasuna B e Nueva Montaña],” publicou a jogadora nas redes sociais, suscitando imediatamente o apoio de quem leu.
A capitã da equipa de Karolina, Mai Garde, publicou uma parte do relatório do árbitro que refere a origem dos insultos: “cinco rapazes na bancada, na zona do meio-campo, alegadamente adeptos da equipa adversária”. Garde disse também: “Não temos nem devemos tolerar mais este tipo de atuações contra as mulheres. Tens o meu apoio, companheira”. O clube também se pronunciou, criticando o sucedido e agradecendo ao Nueva Montaña a “atitude exemplar”.
Karolina Sarasúa é um nome a juntar aos inúmeros casos conhecidos nos últimos tempos, levando a crer que o número de situações semelhantes será bem maior e que esta será apenas a ponta do icebergue. Na passada semana, três treinadores da Liga Feminina norte-americana foram despedidos após terem sido acusados de abuso e chantagem sexual, bem como de insultos emocionais.
Na mesma competição, no início deste mês, duas ex-jogadoras acusaram o técnico britânico Paul Riley, treinador que venceu a NWSL em 2018 e 2019, de abusos sexuais e emocionais. Curiosamente, no início de 2021, a entidade organizadora da Liga Feminina não viu quaisquer razões para investigar o técnico.
Na Austrália, uma antiga internacional, Lisa de Vanna, relata horrorizada o que viu acontecer no campeonato do seu país: “Mulheres a protegerem mulheres que abusam de mulheres, jogadoras que protegem jogadoras seniores que abusam de jogadoras jovens e organizações que protegem treinadores e jogadoras que abusam de jogadoras”. Foi aberta uma investigação a esta teia complexa.
Também da Venezuela surgem relatos de abusos da parte de um treinador.
Foram 24 as jogadoras que denunciaram abusos da parte de Kenneth Zseremeta e também do preparador físico Williams Pino. O técnico trabalhou com várias seleções femininas do país, entre 2010 e 2017. A Federação de Futebol da Venezuela mostrou-se completamente solidária com as atletas assediadas e abusadas.