Acabou por acrescentar o “Vieira” ao nome devido à quantidade de jogadores chamados “João Pinto” no futebol português. Ainda era assim conhecido quando, em 1992, deixou o Boavista de Manuel José e assinou pelo Benfica. “Surgiram então muitos interessados, mas no momento da decisão ficaram Benfica e Sporting,” contou o atual dirigente da FPF numa longa entrevista ao diário "Record", para marcar o seu 50.º aniversário.
Foi através dos conselhos dos amigos que se decidiu pela Luz, onde foi “muito feliz” mas teve “alguns momentos de sofrimento”.
Quase trinta anos depois, João Pinto admite que a ida para o Benfica “talvez tenha excedido as expectativas”. Isto apesar de uma pré-época difícil, rapidamente superada por uma boa integração na equipa. “As duas primeiras temporadas foram excecionais, prova da excelência dos plantéis que tínhamos, isto para não falar da grandeza do clube, que se detetava automaticamente,” disse JVP.
Em 93/94, houve um jogo especial que contribuiu para eternizar, na carreira de João Pinto, a rivalidade entre Benfica e Sporting. Num dos melhores jogos de sempre do futebol português, as águias foram a Alvalade vencer os Leões por 6-3. “É o jogo que sela o título para o Benfica e muda a minha carreira,” conta. João Pinto tinha 23 anos, era um dos jogadores mais destacados dos encarnados mas, a partir desse dia, transformou-se em símbolo do Benfica.
Recuando alguns meses até ao início da época, período conhecido por “verão quente” do futebol português, o antigo jogador lembra os “gravíssimos problemas financeiros” do Benfica, com “salários em atraso”. João Pinto acabaria por ser influenciado por pessoas ligadas ao Sporting e chegou mesmo a assinar contrato com os leões. “Disseram-me que eu tinha justa causa para rescindir. (…) Acabei por perceber que esses argumentos eram muito duvidosos,” conta. Durou pouco tempo essa primeira experiência em Alvalade. O antigo internacional português voltou à Luz. “Era, no fundo, o que eu desejava,” admite, entre elogios ao presidente do Benfica na altura, Jorge de Brito: “Era uma pessoa extraordinária.”
Ao mesmo tempo que João Pinto se enraizava na Luz como símbolo do clube, o Benfica perdia – e por longos anos – importância no futebol português. “Ganhámos a Taça de Portugal em 1996 e pouco mais do que isso,” diz o antigo capitão das águias, acrescentando: “Em dois anos, tive 42 novos companheiros de equipa”.
Com a chegada ao poder de João Vale e Azevedo, as coisas não melhoraram e, para João Pinto em concreto, até pioraram muito. “[Vale e Azevedo] entrou e definiu-me como alvo. (…) Ele próprio mo expressou.” Nessa altura, o então presidente do clube negociou-o com o Corunha sem a sua permissão e pô-lo a falar com os dirigentes galegos. Mas João Pinto já tinha tomado uma decisão. “Agradeço o interesse mas, neste momento, não estou interessado em sair do Benfica,” comunicou aos espanhóis num momento em que mal podia falar, devido a um problema no maxilar que ficaria na história e que quase terminou uma amizade nascida na seleção entre João Pinto e Paulinho Santos.
Com Jupp Heynckes, foi dispensado. A notícia caiu como uma bomba no futebol português mas João Pinto já sentia essa pressão com Graeme Souness, o primeiro treinador do Benfica na era Vale e Azevedo. “O clima era o mesmo. Depois do Europeu, o Heynckes telefonou para me dar os parabéns por um grande golo à Inglaterra. Agradeci mas disse-lhe que já não precisava dos parabéns dele. Teria gostado de recebê-los quando jogava no Benfica.”
No Europeu, João Pinto era o único jogador sem clube. Isso depressa mudou e o antigo capitão do Benfica acabou por ingressar no Sporting, que finalmente concretizava um desejo antigo.
Mundial asiático e o murro no árbitro
“A pressão era muito grande,” admite João Pinto ao relembrar um dos episódios mais infelizes da sua carreira. O seu historial disciplinar não previa que o avançado agredisse um árbitro mas foi o que aconteceu em 2002. “Em boa verdade, nem fazia muito sentido, porque o resultado do outro jogo do grupo permitia a qualificação de Portugal e Coreia do Sul. Foi tudo uma parvoíce,” admite.
"Essa expulsão foi uma estupidez. Arrependo-me do que fiz na Coreia como, aliás, me arrependi no minuto seguinte a ter praticado aquele ato", diz.
Aos 31 anos, o futebolista viu fugir-lhe o lugar na seleção nacional mas também a sua carreira ao nível de clubes iniciou a descida à Terra. “Ainda joguei mais uns anos, mas perder a seleção foi muito duro. Nada ficou como dantes.” João Pinto acabou por ser castigado pela FIFA e sentiu que “o fim (da carreira) estava muito mais próximo”.