Tribuna 12:45

Borges, Faria, Rocha, Cabral: o êxito do ténis português não surge por acaso. Bem-vindos à geração CAR

Djokovic, o recordista de triunfos em Grand Slams, a cumprimentar Jaime Faria, que o sérvio diz ter "um futuro brilhante"
Clive Brunskill

A 14 de abril de 2023, a beleza do Centralito, um court de ténis que é tanto recinto desportivo como joia arquitetónica, acolheu o Portugal-Grécia, eliminatória da Billie Jean King Cup, o torneio feminino por seleções. A certa altura do embate, as bancadas eram uma concentração de nomes grandes do ténis nacional: lá estavam sentados Nuno Borges, João Sousa, Gastão Elias, Rui Machado, Pedro Sousa ou Francisco Cabral.

Por outras palavras, ali, a escassos metros do encontro de Francisca Jorge, a número um nacional, encontravam-se o número um português (Borges), o melhor tenista de sempre do nosso país (João Sousa), o terceiro (Elias), o quarto (Machado) e o sétimo (Pedro Sousa) que mais alto escalaram no ranking ATP e um representante do único par nacional a ganhar um torneio do circuito principal (Cabral, que o fez juntamente com Borges, no Estoril).

Cada modalidade fala da “família”. “A família” disto, a “família” daquilo. Pois bem, ali, debaixo do sol de primavera em Oeiras, estava, de facto, reunida a família do ténis. Não como expressão, mas como realidade.

Durante muito tempo, o ténis nacional, na busca por competir relativamente próximo dos melhores das raquetes, forçou os nossos melhores a emigrar. Faltavam condições de treino, faltavam técnicos, faltam quadros competitivos. João Sousa ou Rui Machado foram, adolescentes, para Espanha, tal como Gastão Elias foi para os Estados Unidos. Michelle Larcher de Brito veio, também, do outro lado do Atlântico.

Até que, à base de muito trabalho invisível, de muito fazer na sombra, de um projeto estruturado e pensado que deveria ser um exemplo para o resto do nosso desporto, as coisas começaram a mudar.

Faltavam condições de treino? Vamos criar um grupo de elite, no Centro de Alto Rendimento do Jamor, com técnicos, fisioterapeutas, nutricionistas, apoio à saúde mental. Vamos colocar jovens num programa de apoio, pagando-lhes custos de viagens, custeando as despesas dos seus treinadores, não os deixando andar sozinhos na selva do circuito profissional masculino.

Faltavam técnicos? Vamos meter os nossos melhores, os da geração anterior, os tais que tiveram de emigrar, a apoiar os mais novos. Rui Machado como diretor técnico da Federação Portuguesa de Ténis. Neuza Silva e Pedro Sousa igualmente como treinadores.

Faltavam quadros competitivos? Vamos criar torneios e torneios em solo nacional. Muitos challengers, batendo sucessivamente recordes deste tipo de competições em Portugal. Para os mais desatentos, começa hoje o terceiro e último Indoor Oeiras Open, uma série de três eventos realizados nos courts cobertos no Jamor. Como os italianos bem sabem, mais torneios em casa significa facilidade para obter wild cards, menos despesa, menos desgaste em viagens. Mais facilidade para subir em rankings — que o diga Jaime Faria, que há um ano quase chegou a Roland-Garros quase sem sair das nossas fronteiras.

Luke Hales

A “família” do ténis não é uma expressão vaga. Existe mesmo. Existe em almoços promovidos em casa de Gastão Elias, existe em viagens de amigos de fim de temporada a Amsterdão. Existe quando Henrique Rocha, em dia de encontro em Oeiras, confessa que acordou de madrugada e espreitou os últimos 30 minutos do duelo do seu amigo de infância, Jaime Faria, contra Novak Djokovic. Existe quando Francisco Cabral e Nuno Borges, outros amigos de infância, sonham com continuar a sonhar no Open da Austrália.

A família existe e está reunida. Está reunida no Centro de Alto Rendimento, que permite que, em Portugal, haja um sistema de produção de talento, que leva a que, ali no Jamor, treine um tenista que faz mira ao top 30 e outros dois que fazem mira ao top 100, já para não falar das irmãs Jorge ou de Frederico Silva. Está reunida através do elo intergeracional que conecta Pedro Sousa, treinador, e Jaime Faria, pupilo, ou Rui Machado, treinador, e Nuno Borges, pupilo.

Há pouco tempo era impensável que um jogador que quisesse andar entre os 200 primeiros vivesse em Portugal. Quem sabe se, durante 2025, não teremos três tenistas que vivem em Portugal entre a primeira centena de raquetes do planeta.

Eis a geração Centro de Alto Rendimento. A geração CAR, o centro que formou Henrique Rocha e Jaime Faria, dois talentos entusiasmantes, e onde treina Nuno Borges. Ir ao Jamor, num qualquer dia, é arriscar cruzar-se com tenistas que andam a bater à porta da elite da bola amarela. Isto quando não há torneios, claro, num local que fervilha de paixão e trabalho em redor do ténis.

O Open da Austrália 2025 foi mais um ponto alto neste crescimento. Com base nas contas feitas pelo “Raquetc”, que faz um verdadeiro serviço público no tratamento e compilação de registos históricos do ténis português, nunca um major teve tantas vitórias em encontros com a marca nacional. Foram, até agora, 11, quantidade que ainda pode subir consoante o que Borges e Cabral façam nos pares.

Em 48 horas, dois membros da geração CAR ganharam sets a craques absolutos do desporto mundial. Faria competiu com bravura contra Djokovic, Borges resistiu com qualidade frente ao furacão Alcaraz. Nas laterais dos courts estavam os técnicos do CAR, a ver pela televisão estaria o resto da família do ténis.

Poucas modalidades serão tão selvagens e até predatórias como o ténis. Um circuito global, competir individualmente, estar sujeito às implacáveis variações de um ranking que não permite descansar. Mas, com trabalho sustentado, Portugal está a crescer neste mundo feroz. E não é um crescimento que se deva a fenómenos isolados, a um acaso cósmico, à fortuna. Houve planeamento, pensamento, vontade, investimento. Que a geração CAR seja a geração de ouro. E aproveitem para irem vê-los aos muitos challengers que há em Portugal, quase todos gratuitos e cheios de qualidade.

O que se passou

Em notícias das últimas horas, o FC Porto despediu Vítor Bruno. A saída dá-se depois de nova derrota, no caso frente ao Gil Vicente.

O Sporting, já com Rui Silva na baliza, passou sem dificuldade em Vila do Conde. O Benfica goleou o Famalicão, na grande noite de Barreiro, dias depois de eliminar o Farense, na Taça.

No Mundial de andebol, Portugal segue com uma campanha perfeita. Depois de derrotar os Estados Unidos e o Brasil, a seleção nacional conseguiu um triunfo de grande prestígio, superando a Noruega para seguir cheia de moral para a main round.

Ainda quando Vítor Bruno treinava a equipa principal de futebol masculina, o FC Porto publicou a auditoria forense que era uma promessa eleitoral de Villas-Boas. Entre outras coisas, o trabalho da Deloitte revelou que o clube contratou jogadores ao Portimonense por preços 30 vezes superiores aos das suas avaliações.

A vida continua difícil para o Manchester United de Ruben Amorim, que perdeu, em casa, com o Brighton. Antes da partida, os red devils receberam a notícia da morte do lendário Denis Law.

Entre lavagante, camarão e santola, Fábio Coentrão foi apanhado com uma tonelada de marisco vivo ilegal.

Ivan Domingues, leiriense de 18 anos, vai disputar o Mundial de Fórmula 3, uma das antecâmaras da Fórmula 1.

Zona mista

Devido a divergências irreconciliáveis com o Sport Lisboa e Benfica, que inviabilizam a minha continuidade, decidi deixar de ser atleta do clube.

Pedro Pablo Pichardo há muito que manifestara as suas divergências com a estrutura do Benfica. Após algumas ameaças, a rotura deu-se mesmo, ainda que o presidente da federação de atletismo tenha manifestado surpresa. O campeão olímpico de Tóquio deverá, agora, passar a competir como atleta individual

O que vem aí

Segunda-feira, 20

⚽ O fecho da jornada 18 da I Liga: Boavista-Casa Pia (20h15, Sport TV1)
⚽ Liga de futsal em dose dupla: Elétrico-Benfica (20h00, Canal 11) e Sporting-Leões de Porto Salvo (21h30, Canal 11)
⚽ No futebol internacional, o Wolves de Vítor Pereira visita o Chelsea (20h00, DAZN1), o Como de Cesc Fàbregas recebe a Udinese (19h45, Sport TV2) e o Villarreal defronta o Maiorca (20h00, DAZN2)
🏒No hóquei no gelo norte-americano, Colorado Avalanche-Minnesota Wild (20h00, Sport TV4)
🏀 Na NBA, os Boston Celtics de Neemias Queta diante dos Golden State Warriors (22h00, Sport TV3)

Terça-feira, 21

🎾 O Open da Austrália prossegue, entrando nas rondas decisivas (a partir das 00h30, nos canais Eurosport e na Max). Por volta das 9h30, arrancará um brutal Djokovic-Alcaraz
⚽ O regresso da Champions tem o Benfica com jogo grande na Luz diante do Barcelona do fenómeno Lamine Yamal (20h00, Sport TV5)
⚽ Mais Liga dos Campeões: Mónaco-Aston Villa (17h45, DAZN 1), Liverpool-Lille (20h00, DAZN1) ou Atlético de Madrid-Bayer Leverkusen (20h00, DAZN2)
🎾 Não é em Melbourne, mas também é ténis de qualidade. Pela terceira semana seguida, há um challenger para ver no Jamor, com muita presença portuguesa, entre a qual estarão Henrique Rocha, Jaime Faria ou Gastão Elias (13h00, Sport TV3)
⛷️ Esqui alpino: Taça do Mundo de Kronplatz (9h15, Eurosport 2)

Quarta-feira, 22

🎾 O Open da Austrália prossegue (00h30, canais Eurosport)
⚽ Embate de grande importância para o Sporting em Leipzig, a contar para a Liga dos Campeões (17h45, Sport TV5)
⚽ Ainda na principal competição europeia, um grande PSG-City (20h00, DAZN 1) ou um Real Madrid-Salzburg (20h00, DAZN 2)
⚽ As meias-finais da Taça da Liga feminina são, por alguma razão estranha, marcadas para horário laboral de um dia de semana: Sporting-Damaiense (14h00, Canal 11) e Torreense-Benfica (16h00, Canal 11)
🤾 Na chamada main round, Portugal entrará em campo, não se conhecendo ainda o adversário (14h30, RTP2)

Quinta-feira, 23

🎾 Open da Austrália (08h30, Eurosport 1)
⚽ Com escassa margem de erro e sem sabermos ainda quem estará no banco, o FC Porto recebe o na Liga Europa o Olympiacos de Costinha, David Carmo, Chiquinho, Sérgio Oliveira e Gelson Martins (17h45, Sport TV5). Também o Sporting de Braga precisa de um bom resultado, no caso na visita ao Royale Union Saint-Gilloise (20h00, DAZN 1)
🏁 O mítico rali de Monte Carlo (17h00, Sport TV4)
🏌️DP World Tour, Ras Al Khaimah Championship, primeiro dia (08h30, Sport TV3)

Sexta-feira, 24

🎾 Mais Open da Austrália (01h00, canais Eurosport)
🤾 Outro encontro de Portugal na main round do Mundial de andebol (17h00, RTP2), sem adversário conhecido
🏀 NBA: os Celtis de Queta contra os Lakers (03h00, Sport TV1)
⚽ A jornada 19 começa com um Arouca-Moreirense (20h15, Sport TV1)
⚽ Na II Liga, Académico Viseu-Feirense (18h00, Sport TV+). Lá fora, Wolfsburg-Kiel (19h30, DAZN1)

Sábado, 25

🎾 A final feminina do Open da Austrália, para ver a partir das 8h30 (Eurosport 1)
⚽ Dia cheio na I Liga: o Famalicão recebe o Estrela (15h30, Sport TV1), o Farense defronta o Rio Ave (15h30, Sport TV3), há dérbi de Lisboa — que se disputa em Rio Maior — entre Casa Pia e Benfica (18h00, Sport TV2) e Sporting-Nacional (20h30, Sport TV1)
⚽ Há muito futebol internacional: Friburgo-Bayern (14h30, DAZN6), o Wolverhampton de Vítor Pereira contra o Arsenal (15h00, DAZN2) e o Nottingham Forest de Nuno frente ao Bournemouth (15h00, DAZN4), Atlético de Madrid-Villarreral (15h15, DAZN3), Nápoles-Juventus (17h00, Sport TV7), Manchester City-Chelsea (17h30, DAZN 1) ou Valladolid-Real Madrid (20h00, DAZN1)

Domingo, 26

🎾 A final masculina do Open da Austrália (08h30, Eurosport 1)
⚽ Na I Liga, Estoril-Vitória SC (15h30, Sport TV2), FC Porto-Santa Clara (18h00, Sport TV1) e SC Braga-Boavista (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League, há confronto português entre o Fulham de Marco Silva e o United de Ruben Amorim (19h00, DAZN1). Também na Premier League, Tottenham-Leicester (14h00, DAZN1) e Villa-West Ham (16h30, DAZN1). Em Espanha, um sempre quente Barcelona-Valencia (20h00, DAZN2). Em Itália, Lecce-Inter (17h00, Sport TV5) e, na Turquia, o Fenerbahçe de Mourinho contra o Goztepe (16h00, Sport TV6)
🤾 O derradeiro embate de Portugal na main round, sem se saber ainda contra quem (19h30, RTP2)
🏀NBA: Charlotte Hornets-New Orleans Pelicans (00h00, Sport TV4)

Hoje deu-nos para isto

Cristiano Bacci. Tiago Margarido. Ian Cathro. César Peixoto. João Pereira. Vasco Matos.

Apontem estes seis nomes, protejam-nos como espécie em vias de extinção, criem um programa de conservação, coloquem-nos sob vigilância permanente. Eles são os resistentes, os únicos treinadores que começaram a I Liga 2024/25 e ainda não foram despedidos.

A 14.ª saída foi a de Vítor Bruno. Após o despedimento de João Pereira nas últimas horas do dia de Natal, o adeus a Vítor Bruno de madrugada.

NurPhoto

As 14 trocas nos bancos são tantas como no total da época passada. Ainda só estamos em janeiro e, na última década, só tivemos menos mexidas no global do campeonato em 2019/20, quando houve 16 mudanças, e em 2016/17, quando houve 18.

Tem havido de tudo em 2024/25. Técnicos que saíram antes da jornada 1 (Tozé Marreco, Gil Vicente); técnicos que saíram sem qualquer ponto somado (José Mota, Farense), técnicos que saíram com todos os pontos somados (Ruben Amorim, Sporting); técnicos que saíram de um clube e assumiram outro (Tozé Marreco, do Gil para o Farense, e Luís Freire, do Rio Ave para o Vitória SC).

Tivemos o caso Daniel Sousa, a exceção entre as exceções, o caso peculiar entre os casos peculiares: assumiu o SC Braga no início da época e só durou quatro partidas. Assumiu o Vitória SC após a saída de Rui Borges e só durou três embates. Em 2024/25, soma mais despedimentos (dois) do que derrotas (uma).

O último a cair foi Vítor Bruno. A derrota contra o Gil, e as ondas de choque que lhe seguiram, deixaram pouca margem para André Villas-Boas.

Foram seis meses de instabilidade, quase sempre de mini-crise em mini-crise, como lembra a Lídia Paralta Gomes. Vítor Bruno tinha a difícil missão de pegar num clube a viver profundos processos de mudança: mudança da liderança mais duradoura do futebol mundial, mudança do técnico mais marcante da história recente do clube, saída de um capitão emblemático. Ganhou a Supertaça, sofreu uma goleada histórica na Luz, somou invulgares séries de derrotas. Deixa boas heranças (Moura, Martim) e um balneário com visíveis problemas.

Terá parte da culpa, não será a totalidade do problema. José Tavares é, para já, o interino. A bola está do lado de André Villas-Boas, a quem não tem faltado coragem para tomar decisões difíceis. Mas, num mercado de treinadores cada vez mais difícil, cada vez com menos garantias, não há nenhum nome óbvio para reerguer o Dragão.

Tenha uma excelente semana de regresso de competições europeias e de continuação do mundial de andebol. Cuidado com as olheiras provocadas pelo Open da Austrália e obrigado por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook,Instagram e no Twitter.

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