Sim, as maiores tempestades ainda estarão para vir e, aí, tudo será mais difícil, mais cinzento. Terminará o verão, chegará o outono e depois o inverno e tudo será mais complicado. A equipa principal de futebol deixará de ganhar sempre, questionar-se-á a experiência de Vítor Bruno, surgirá o fantasma de Sérgio Conceição.
As limitações da defesa trarão dores de cabeça. O ataque não será tão forte como com Taremi-Evanilson. Tudo o que surgir em torno de Fernando Madureira e dos Super Dragões significará desgaste adicional. Todos os grupos e interesses que se viram prejudicados com o fim da era Pinto da Costa estão ao virar da esquina, à espera da primeira derrota para causar instabilidade e dúvida.
O antigo regime não morreu nem desapareceu. É, sim, um fantasma desejoso de voltar a ganhar forma corpórea.
As maiores dificuldades ainda estarão para vir. Mas, para já, a bonança do novo FC Porto de André Villas-Boas não poderia ser mais evidente.
Num clube que precisava de um abanão depois de perder, no espaço de curtas semanas, o presidente mais marcante da história do futebol português, o treinador com mais peso institucional num clube português deste século e o capitão de longevidade singular, o arranque do novo regime poderia não ser tarefa fácil, mas era tarefa fundamental para dar algum oxigénio para respirar com maior tranquilidade quando chegarem as tempestades.
O Santa Clara-FC Porto disputou-se no 101.º dia desde que André Villas-Boas tomou posse como presidente dos dragões. E o triunfo, o terceiro em três jogos oficiais em 2024/25, fecha simbolicamente a centena de dias inaugurais para AVB na cadeira de sonho 2.0., um tiro de partida dificilmente melhorável nos planos desportivo, estrutural, institucional, comunicacional e de aproximação aos adeptos.
Desportivamente, o começo de Vítor Bruno na equipa principal de futebol é o carimbo perfeito que era necessário. Ganhar a Supertaça, juntando-a à Taça do final da época passada ainda com Conceição, deu confiança e embalo para um grupo que, sem a abundância de opções de talento dos rivais, precisa destes estímulos, destas injeções de moral. Quando se parte de uma posição de inferioridade, arrancar com o vento a favor é fundamental [ver Sporting 2020/21].
Vítor Bruno tem conseguido o difícil trabalho de, sem renegar à herança do passado recente, de que faz parte, dar um cunho próprio. Apresenta estruturas táticas com variáveis, dá vida nova a proscritos (Iván Jaime), aposta no famoso “ouro da casa” (Martin Fernandes e Vasco Sousa), aceita a difícil situação financeira do clube e não faz da falta de reforços motivo de ruído.
Mas talvez nem seja a parte desportiva a absolutamente fundamental deste arranque. Mais do que vencer três jogos de futebol, são questões mais estruturais que devem ser elogiadas.
AVB herdou uma situação financeira muito má. Não a escondeu, não andou a tentar contorná-la com empréstimos que significassem soluções de curto prazo ou os famosos — e falsos — “custos zero”. Esperou, pediu ao treinador que valorizasse o que havia. A venda de Evanilson, por valores que não distarão muito de um Luis Díaz, será um primeiro passo para respirar melhor.
Neste fim de mercado, será a altura de ver que armas dará Zubizarreta a Vítor Bruno. E, por falar em mercado, outro elogio fundamental a fazer é na comunicação.
Durante demasiado tempo, a cúpula do FC Porto viveu fechada, afastada do mundo exterior. Villas-Boas removeu essas barreiras, fala com abertura, há louváveis casos de entrevistas de jogadores azuis e brancos. De uma assentada, parece haver uma verdadeira revolução cultural no dragão.
Havia separação com os adeptos? Pois bem, só nas últimas semanas tivemos o regresso à baixa do Porto, 5 anos depois, para a apresentação dos equipamentos; adeptos convidados para assistir a um treino da equipa, para ir à apresentação de Vítor Bruno ou para visitas ao autocarro da equipa principal de futebol.
Há, sobretudo, um plano. Reativou-se o marketing, há a ideia de estarem coisas a ser pensadas e executadas, longe do marasmo recente. Segundo o “Público”, desde a tomada de posse, a 7 de maio, e 28 de julho houve um aumento de 420% de angariação de novos sócios face a igual período em 2023.
Nestes primeiros 100 dias, tivemos, ainda, promessas cumpridas. O futebol feminino já está em marcha, tendo já técnico contratado e treinos que arrancaram a 13 de agosto. A equipa começará, de raiz, na III divisão nacional, sem cair de pára-quedas comprando o lugar de outros emblemas. Também no futsal o caminho traçado por Villas-Boas, inscrevendo equipas de sub-11 e sub-13, já começou.
Virão as tempestades. A bola baterá na barra. Este é um clube sem dinheiro e cheio de problemas. Sem paciência para “anos zero” e cheio de pessoas importantes que se sentirão atacadas por tanta mudança. Mas a mudança está a chegar com força e com notáveis alterações. Nem sempre o céu será azul, mas a multiplicação dos esforços de Villas-Boas, tocando em tantas áreas tão diferentes, só merece um rasgado elogio inicial.
O que se passou
A Vuelta começou em Portugal, com McNulty a ser o primeiro líder depois de um contra-relógio inicial em que João Almeida deu boas indicações. Kaden Groves venceu a segunda etapa e o Francisco Martins andou a ver e ouvir o que se basta nos bastidores de uma das maiores corridas de ciclismo do mundo.
O FC Porto prossegue um início de época completamente vitorioso, obtendo um triunfo nos Açores frente ao Santa Clara. O Sporting também chegou aos 6 pontos, goleando na Madeira, e o Benfica reagiu à derrota em Famalicão com uma vitória contra o Casa Pia.
Lá fora, o Real Madrid venceu a Supertaça Europeia, com direito a estreia goleadora de Mbappé. Na Premier League, o Chelsea deixou um camião de jogadores de fora da convocatória para o duelo contra o Manchester City, que foi a Londres bater os blues. João Neves estreou-se oficialmente pelo PSG e somou duas assistências, num encontro em que Gonçalo Ramos se lesionou e será baixa para os parisienses — e para a seleção nacional — durante três meses.
Ainda em modo rescaldos dos Jogos Olímpicos: as figuras de Paris 2024, pela Lídia Paralta Gomes e o Diogo Pombo; quantas medalhas por milhão de habitantes tem cada país? os momentos políticos dos Jogos, pela Margarida Mota; as últimas homenagens a José Manuel Constantino; um retrato, feito em 2016 pela Marta Gonçalves, da família Oliveira, pioneira no ciclismo de pista que tantas alegrias nos deus em Paris
Zona mista
Se o valor económico atual não é monetizável, como é que vamos colocar mais 100 milhões sobre este valor? E como é que vamos trabalhar isto de forma consistente nos próximos"
A interrogação é de Jorge Pavão de Sousa, diretor-geral da DAZN, em entrevista à Lusa. A centralização dos direitos televisivos parece ser, para o futebol nacional, uma ideia vaga e distante, mas a distância está, legalmente, cada vez mais perto: por decreto do Governo, o modelo, que tem de entrar em vigor a partir de 2028/29, tem de ser apresentado até ao final da próxima época.
No entanto, há muitas interrogações e, sobretudo, a ideia de algum irrealismo por parte de muitos dirigentes. Para se ter noção das dificuldades existentes no mercado televisivo a nível europeu,recomenda-se olhar para as (previsíveis) dificuldades do caso francês, mercado de valor claramente superior ao da I Liga. Em resumo, o pacote global dos direitos de transmissão na Ligue 1 é de €660 milhões por temporada, uma queda de 11% face ao valor de 2021-2024.
O que vem aí
Segunda-feira, 19
🎾 Siga a final do ATP 1000 de Cincinnati, entre Jannik Sinner e Frances Tiafoe (23h00, Sport TV2)
⚽ A conclusão da jornada 2 da I Liga, com o Estrela da Amadora-Famalicão (20h15, Sport TV1)
⚽ O Como, orientado por Cesc Fàbregas, é uma das mais entusiasmantes novidades da época no futebol internacional. A equipa estreia-se nesta edição da Serie A com uma deslocação ao terreno da Juventus (19h45, Sport TV2)
⚽ II Liga: Tondela-FC Porto B (18h00, Sport TV3)
⚽ Na Premier League, Leicester-Tottenham (20h00, DAZN 1); na La Liga, Villarreal-Atlético de Madrid (20h30, DAZN 2)
🚲 A última etapa da Vuelta em Portugal liga a Lousã a Castelo Branco (13h30, Eurosport 1)
Terça-feira, 20
🚲 A quarta tirada da Vuelta é a primeira em solo espanhol e ditará, também, o primeiro teste de montanha. Plasencia-Pico Villuercas (13h30, Eurosport 1)
🎾 Ao longo da semana, siga o ATP 250 de Winston-Salem, com presença de Nuno Borges (19h00, Sport TV7)
⚽ O play-off da Liga dos Campeões entre Lille e Slavia Praga (20h00, Sport TV5)
Quarta-feira, 21
⚽ Conseguirá uma equipa portuguesa, finalmente, superar as eliminatórias da Liga Conferência? O Vitória SC testará o seu grande arranque de época, na primeira mão do play-off, contra o Zrinjski, da Bósnia (17h45, Sport TV1)
⚽ Young Boys-Galatasaray, a contar para o play-off da Liga dos Campeões (20h00, Sport TV5). Também para a mesma fase da competição, Dínamo Kiev-RB Salzburg (20h00, DAZN 1)
🚲 Quinta etapa da Vuelta, entre Fuente del Maestre e Sevilla (13h30, Eurosport 1)
Quinta-feira, 22
⚽ O play-off da Liga Europa, na sua primeira mão: Sporting Braga-Rapid Viena (20h30, Sport TV1)
🚲 Sexta tirada da Vuelta, entre Jérez de la Frontera e Yunquera (13h30, Eurosport 1)
⚽ Numa fase em que a saída de Luís Castro do comando técnico do Al-Nassr parece estar próxima, a equipa de Cristiano Ronaldo e Otávio estreia-se na liga saudita. Al-Nassr-Al-Raed (19h00, Sport TV2)
⚽ A seleção de futsal continua a preparação para o Mundial do Uzbequistão. Há encontro amigável contra Cuba (18h00, Canal 11)
Sexta-feira, 23
⚽ Por razões que alguém saberá explicar, a final da Supertaça feminina não é ao fim de semana. Benfica-Sporting (20h45, RTP1)
⚽ O começo da jornada 3 da I Liga: Farense-Sporting (20h15, Sport TV1)
⚽ Lá fora, PSG-Montpellier (19h45, Sport TV2); na Alemanha, a Bundesliga começa com a deslocação dos campeões, o Bayer Leverkusen, ao terreno do Borussia Monchengladbach (19h30, DAZN 1); na La Liga, Celta-Valencia (18h00, DAZN 2) e Sevilla-Villarreal (20h30, DAZN 2)
🚲 Sétima etapa da Vuelta, ainda na imensidão andaluza. Archidona-Córdoba (13h30, Eurosport 1)
⚽ Novo particular da seleção de futsal: Portugal-Costa Rica (18h00, Canal 11)
Sábado, 24
⚽ Muita I Liga: Casa Pia-Santa Clara (15h30, Sport TV2); FC Porto-Rio Ave (18h00, Sport TV1); Benfica-Estrela da Amadora (20h30, BTV) e Famalicão-Boavista (20h30, Sport TV2)
🚲 Oitava etapa da Vuelta. No regresso de alguma dificuldade a subir, Úbeda-Cazorla (13h30, Eurosport 1)
🏎️ F1, qualificação do GP dos Países Baixos (14h00, Sport TV4)
⚽ Na Premier League, Brighton-Manchester United (12h30, DAZN 1), Manchester City-Ipswich (15h00, DAZN 1) ou Aston Villa-Arsenal (DAZN 1). Na La Liga, Barcelona-Athletic (18h00, DAZN 2), na Bundesliga siga o Borussia Dortmund- Eintracht Frankfurt (17h30, DAZN 3) e na Serie A o AC Milan de Paulo Fonseca vai a Parma (17h30, Sport TV4)
🎾 Meias-finais do WTA 500 de Monterrey (00h00, DAZN 1)
Domingo, 25
🏎️ F1, GP dos Países Baixos (14h00, Sport TV4)
🚲 Nona etapa da Vuelta (13h30, Eurosport 1), entre Motril e Granada
⚽ Novo dia de dose quádrupla de I Liga: Arouca-Nacional (15h30, Sport TV1), Estoril-Gil Vicente (18h00, Sport TV1), AVS-Vitória SC (20h30, Sport TV2) e SC Braga-Moreirense (20h30, Sport TV1)
⚽ Na Premier League, duelo cheio de portugueses entre Wolverhampton e Chelsea (14h00, DAZN 1). Na La Liga, Real Madrid-Valladolid (16h00, DAZN 1). Na Bundesliga, Wolfsburg-Bayern (14h30, DAZN 2). Na Serie A, Roma-Empoli (19h45, Sport TV3
Hoje deu-nos para isto
Como é que se gere isto? Bem, talvez o melhor seja mesmo verbalizá-lo, escrevê-lo. O medo da coisa começa no medo de a nomear, o pavor por Voldemort começa quando se esquece que “quem nós sabemos” é só Tom Riddle.
Então, vamos a isto: pela primeira vez em (pelo menos) 40 anos, um português está entre os três maiores candidatos a ganhar uma grande volta. O conceito pode assustar, pode ser estranhamente novo, mas aí está ele. Talvez seja o maior candidato, como alguns defendem, poderá ser o segundo ou terceiro, mas é unânime que João Almeida está no pódio de favoritos a chegar a Madrid no 1.º lugar da Vuelta.
Depois de longos anos sem ter nenhum ciclista que pudesse, sequer, lutar por estar entre os 10 melhores numa grande volta, o aparecimento do caldense foi uma bênção para a velocipedia nacional. Este rótulo de candidato na Vuelta é uma etiqueta que aparece por mérito do homem da UAE-Emirates, graças ao 4.º lugar no Tour deste ano, somente atrás dos fenómenos Pogacar, Vingegaard e Evenepoel, ou ao 3.º no Giro do ano passado.
Há, claro, concorrência de peso. Há Roglic, tricampeão da Vuelta, Kuss, vencedor do ano passado, há ainda Yates dentro da própria equipa do português. Mas atestar que João é um dos maiores candidatos a ganhar a última das três grandes voltas não é delírio, não é otimismo, não é colocar-lhe pressão excessiva. É, apenas, constatar um facto. Ignorá-lo seria desrespeitar o que o português tem feito.
Para juntar a este favoritismo, a Vuelta está em Portugal, trazendo uma das maiores competições desportivas mundiais para as nossas estradas. De Lisboa a Castelo Branco, passando pelas Caldas da Rainha, terra de Almeida, ou por Torres Vedras, berço de Joaquim Agostinho, este arranque português era o toque que faltava para dar ainda mais entusiasmo à candidatura de Almeida.
Nunca um português venceu uma grande volta. O melhor resultado foi, claro, de Joaquim Agostinho, com aquele 2.º lugar na Vuelta de 1974, que começou antes do 25 de abril e terminou já em liberdade. O verão de 2024 já é o grande verão das bicicletas nacionais. Depois de Iúri Leitão e Rui Oliveira, teremos mais um pouco de inédito em cima de duas rodas?
Tenha uma boa semana e proteja-se do calor intenso. Muito obrigado por nos acompanhar aí desse lado, pode continuar a ler-nos no site, onde poderá informar-se sobre a atualidade desportiva e ler as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.
E escute também o podcast “No Princípio Era a Bola”, como sempre na companhia do Tomás da Cunha e do Rui Malheiro, onde continuaremos a analisar e debater sobre o futebol nacional e internacional.