Tribuna 12:45

Carlitos na relva com diamantes

Ninguém esperaria que Alcaraz conquistasse Wimbledon tão cedo, mas aqui estamos
ADRIAN DENNIS

A relva é um santuário especial no ténis. A bola ressalta de forma estranha, a humidade faz o piso escorregar, é tudo mais rápido. Há quem nunca se adapte, há quem ali tenha forjado lendas e a sua imortalidade naquelas duas, três semanas por ano em que ela domina o calendário.

E depois há Wimbledon, o torneio que todos, de forma mais secreta ou ostensiva, querem ganhar.

Por isso, é ainda mais extraordinário o que fez Carlos Alcaraz no domingo. Aos 20 anos, o espanhol é o terceiro mais jovem a vencer na relva sagrada de Wimbledon, depois de Becker e Borg, e fê-lo ao quarto torneio que disputou na superfície - no terceiro, há umas semanas em Queens’s, também ganhou. Nos dezoito encontros que disputou em relva na sua ainda imberbe carreira, Carlitos ganhou dezasseis.

Temos por isso de assumir definitivamente que estamos perante alguém raro, tão raro quanto um diamante. Ver Alcaraz jogar é quase uma experiência psicadélica, caleidoscópica, nas suas imensas cores e formas, como se todos tivéssemos entrado numa imensa trip para a qual, felizmente, não precisamos de substâncias ilícitas. Quando Novak Djokovic fechou o primeiro set com o 6-1 mais Djokovic possível (granítico, clínico, intransponível), Alcaraz, o menino Alcaraz, respondeu-lhe com um conjunto de pancadas onde a força e a técnica chegam de mãos dadas, um pouco de Nadal aqui, uma pitada de Federer ali. Mas, sobretudo, com uma fortaleza mental à qual talvez só o próprio Djokovic nos tem vindo a habituar. Aquele episódio traumático de Roland-Garros, em que as cãibras o deitaram ao chão, parece longínquo.

O quinto jogo do 3.º set, que durou quase meia hora e acabou com Carlos Alcaraz a quebrar o serviço a Djokovic, diz tudo: há nele um conjunto invulgar de características físicas e emocionais, que surge ainda antes do big three dizer definitivamente adeus. Talvez não merecêssemos tanto, nós, simples adeptos que há anos e anos não temos um minuto de sossego e que pouco nos questionámos sobre “o que restará do ténis masculino depois de Federer, Nadal e Djokovic”, porque eles pareciam eternos. Resta-nos, se o físico não lhe falhar, uma espécie de andróide criado em laboratório, com partes gourmet de ADN dos três e sendo, ao mesmo tempo, tão ele, tão próprio, tão singular, um rapaz de borbulhas na cara que, nos intervalos do circuito e dos treinos na academia de Juan Carlos Ferrero, ainda vive com os pais num 2.º andar em El Palmar, vila murciana com menos de 25 mil habitantes.

Há 10 anos que Djokovic não perdia no Centre Court de Wimbledon, há quatro edições seguidas que a vitória era dele. O triunfo de Alcaraz chega 20 anos depois da primeira vitória de Roger Federer ali, com a mesma carga de possibilidades de início de era, fim de ciclo, tudo o que lhe queiramos chamar. Para derrubar o sérvio, que procurava no domingo igualar Federer com oito vitórias em Wimbledon, Alcaraz precisou de apenas um take. Nadal só à terceira final entre ambos conseguiu vergar Federer. É muito difícil, confesso aqui, cortar a veia do entusiasmo, da euforia, do exagero. O próprio Djokovic assumiu acreditar que ainda não era o momento de Alcaraz o desafiar em relva. E estando o desafio da relva amestrado, o que falta a Alcaraz? Aparentemente, só bater todos os recordes.

O que se passou

Ons Jabeur disse que foi “a derrota mais dolorosa” da sua carreira, depois de perder com surpresa para Marketa Vondrousova na final feminina de Wimbledon.

E por falar em desilusão, depois de um Europeu irrepreensível, a seleção nacional sub-19 perdeu na final com a Itália, equipa que até tinha goleado na fase de grupos.

O Benfica já ganha na pré-temporada e Di María já marca.

Zona mista

Estar aqui, nesta festa, é algo único. Contactar com a cultura da Nova Zelândia é espetacular. Temos sido tão bem recebidas, tem sido fantástico. E, claro, agora fazer parte desta festa, deste evento, é espetacular, é especial para nós, é sinal de que a competição se está a aproximar


E está mesmo. Dolores Silva, a capitã da seleção nacional, foi a porta-voz das primeiras impressões portuguesas à chegada à Nova Zelândia, onde no domingo Portugal se estreia em Campeonatos do Mundo

O que aí vem

Segunda-feira, 17
🎾 ATP 250 de Bastad (14h30, Sport TV1), Gstaad (14h, Sport TV2) e Newport (18h, Sport TV3)
⚽ O Celta de Vigo, dono da melhor canção de centenário da atualidade, joga com o Al Nassr de Luís Castro e Cristiano Ronaldo (20h30, Sport TV1)

Terça-feira, 18
⚽ Saudades do futebol de Champions? Pode acompanhar o Zrinjski Mostar, da Bósnia, frente ao Urartu, da Arménia, a contar para a 1.ª pré-eliminatória (19h, Eleven 1)
🚴 Volta a França, etapa 16, um contrarrelógio que pode ser muito importante para a geral (12h45, Eurosport 1)

Quarta-feira, 19
⚽ O Sporting joga com o Genk em mais um encontro de pré-temporada (20h30, TVI/Sport TV1)
🚴 Volta a França, etapa 17, com quatro contagens de montanha e chegada em alto (12h, Eurosport 1)

Quinta-feira, 20
⚽ Começa o Mundial feminino de futebol com a Nova Zelândia a jogar com a Noruega (8h, RTP1). Já a Austrália enfrenta a seleção da Irlanda (11h, Sport TV1)
⚽ O Benfica faz mais um encontro de preparação, desta vez com o Al Nassr (20h30, Sport TV1)
🚴 Volta a França, etapa 18 (13h, Eurosport 1)

Sexta-feira, 21
⚽ Segue o Mundial feminino: Espanha - Costa Rica (8h30, Sport TV1)
⚽ O Celta de Vigo é o adversário do Benfica em mais um jogo de pré-época (20h30, TVI)
🚴 Volta a França, etapa 19 (13h, Eurosport 1)

Sábado, 22
⚽ Mundial feminino: Inglaterra - Haiti (10h30, Sport TV1) e Dinamarca - China (13h, Sport TV1)
⚽ Pré-temporada: FC Porto - Cardiff (19h, Porto Canal)
⚽ Taça da Liga: Rio Ave - Ac. Viseu (11h, Sport TV2), Vizela - Marítimo (15h30, Sport TV1) e Estoril - Paços de Ferreira (20h30, Sport TV1)
🚴 Volta a França, etapa 20: dia de todas as decisões, com seis contagens de montanha (13h, Eurosport 1)
🏁 F1: GP Hungria, qualificação (15h, Sport TV4)

Domingo, 23
⚽ É o dia da grande estreia de Portugal em Mundiais femininos, frente aos Países Baixos (8h30, RTP1/Sport TV1). Siga ainda o França - Jamaica (11h, Sport TV1)
⚽ Taça da Liga: Portimonense - Estrela da Amadora (20h30, Sport TV1)
🚴 Volta a França, etapa 21: consagração em Paris (16h, Eurosport 1)
🏁 F1: GP Hungria, corrida (14h, Sport TV4)

Hoje deu-nos para isto

Será preciso recuar até 2017 para ver algo semelhante e mesmo assim semelhante nunca seria. À 15.ª etapa dessa Volta a França, Chris Froome tinha apenas 18 segundos de vantagem para Fabio Aru, antes do segundo dia de descanso. Mas o britânico era o vencedor anunciado, apenas à espera da melhor oportunidade de estender a vantagem. O que se tem visto no Tour deste ano é outra coisa: Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar, dois ciclistas primordiais, atacando-se, controlando-se, lendo-se, espectacularizando a corrida como há anos e anos não se via.

Com 15 etapas já corridas no Tour e prestes a entrar na derradeira semana, há 10 segundos a separá-los - vantagem para Vingegaard - e talvez não haja nada mais que os diferencie, tão pares que eles são em talento, resistência, inteligência. Talvez Pogacar seja mais fino, mais explosivo, mais carismático, mas a impassividade do dinamarquês é a sua marca de campeão. Dá vontade de torcer pelos dois. Pela primeira vez em anos, décadas talvez, não sejamos modestos, é impossível saber nesta altura quem vai cruzar as ruas de Paris de amarelo. Ganhe quem ganhar no domingo será, seguramente, merecido. Sorte a nossa, que assim nem precisamos de ressacar do duelo entre Alcaraz e Djokovic.

Vingegaard e Pogacar, duelo ao sol e montanha acima
THOMAS SAMSON/Getty

Tenha uma boa semana e obrigada por nos acompanhar aí desse lado, lendo-nos no site da Tribuna Expresso, onde poderá seguir a atualidade desportiva e as nossas entrevistas, perfis e análises. Siga-nos também no Facebook, Instagram e no Twitter.