Mundial Feminino 2023

Passado um ano, eis novamente o “problema” das bolas paradas a impor limites a Portugal

No Europeu de 2022, a seleção sofreu sete golos em cantos ou livres laterais em três jogos. Agora, no Mundial, a derrota contra os Países Baixos foi imposta na sequência de um canto, momento que também proporcionou uma das mais claras ocasiões das neerlandesas. Ana Borges reconhece que a equipa tem “um problema com as bolas paradas”, enquanto Francisco Neto considera que tem havido uma “melhoria” coletiva neste aspeto, mas que Portugal ainda “não está no patamar” que pretende

Lars Baron/Getty

A cena parece extraída do verão de 2022 para o de 2023, como se entrasse num buraco espaço-tempo para avançar 12 meses no calendário e milhares de quilómetros, de Leigh, nos arredores de Manchester, para Dunedin, a sul da ilha sul da Nova Zelândia. Do Europeu do ano passado para a estreia no Mundial, talvez nada agite mais o banco da seleção nacional do que uma bola parada defensiva.

O sobressalto assistiu-se diversas vezes há 12 meses, quando a equipa encaixou sete golos em cantos ou livres laterais em três partidas. Agora, como que recuperando fantasmas, o prenúncio veio ao minuto 12 do desafio contra os Países Baixos, na histórica estreia num Mundial.

Depois de Carole Costa ter enviado a bola para canto, logo Francisco Neto começou aos berros para a área portuguesa, tentando ajustar posicionamentos. Uma das adjuntas do selecionador fez o mesmo, gritando para as jogadoras nacionais.

De nada valeu: Stephanie van der Gragt saltou mais alto e fez o 1-0. Nos últimos quatro encontros que disputou em grandes fases finais, Portugal sofreu oito vezes de bola parada.

Pouco depois do 1-0, as vice-campeãs do mundo voltaram a ter nova chance para marcar através de canto, com Jil Roord a aparecer só, sem marcação, diante de Inês Pereira. O remate foi por cima, mas o susto ficou lá.

Após o encontro, na conferência de imprensa, Francisco Neto lamentou a situação, ainda que diga que “houve outras [bolas paradas]” em que a equipa foi “competente”, conseguindo “disputar as primeiras bolas”. São aspetos que temos vindo a trabalhar muito desde o Europeu. Temos sentido uma melhoria, mas não estamos ainda no patamar em que queremos", explicou o técnico, aos comandos de Portugal desde 2014.

Na zona mista depois da derrota em Dunedin, Ana Borges, a mais internacional futebolista portuguesa de sempre, falou frontalmente sobre esta questão. A jogadora do Sporting assumiu que a equipa tem um "problema" com as bolas paradas", sendo que esses “erros” se “pagam caros”. Borges falou sobre a questão dos centímetros, dizendo que as adversárias eram “muito altas em relação à jogadora portuguesa”, abordando um fator ao qual Francisco Neto costuma fugir, pedindo que se encontrem outras fórmulas para contrariar essa diferença.

Harriet Lander - FIFA/Getty

Frente às vice-campeãs do mundo, Portugal conseguiu nivelar o duelo, incomodar os Países Baixos, obrigar jogadoras de elite a estar pouco confortáveis em campo e até a perderem tempo. No entanto, o que de bom foi feito esbarrou, em termos de marcador, no trauma das bolas paradas, num guião parecido ao do verão de 2022.

Frente à elite do futebol, a seleção, por muito que “suba o nível”, como Francisco Neto pediu na antevisão ao jogo, esbarra numa situação que impõe limites à fasquia que a equipa quer superar, tendo de recomeçar tudo de novo, remando contra a adversidade causada pelos golos sofrido de bola parada.

No Europeu do ano passado, Portugal sofreu aos 2' contra a Suíça, aos 7' contra os Países Baixos e aos 21' contra a Suécia. Agora, voltou a partir atrás ainda dentro dos primeiros 15 minutos.

Sobre o fantasma das bolas que começam paradas e sobrevoam a área, Francisco Neto disse, no final do campeonato continental do último verão, que “estrategicamente foi o ponto” em que viu que era preciso “crescer e melhorar”. Agora, no maior palco de todos, essa evolução continua por fazer, seguindo como limitação ao patamar competitivo máximo a que a seleção pode aspirar.