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Mundial 2022

“Creio que ficou óbvio que o Catar estava do lado do regime islâmico”: a tensão das ruas iranianas passou para o Mundial

Alguns iranianos sentiram-se vigiados durante o torneio e tiveram problemas por causa de uma t-shirt a favor das mulheres. A seleção treinada por Carlos Queiroz viveu num limbo emocional

picture alliance/Getty

Quando Saeed Kamalinia, um iraniano de Resht a viver em Chicago há 15 anos, comprou bilhetes para o Campeonato do Mundo só tinha em mente ver futebol. Depois, tudo mudou. O rastilho para o que aparenta ter algo de revolução no Irão foi a morte de Mahsa Amini, uma curda de 22 anos, às mãos da polícia da moralidade, que a havia detido antes por uso indevido do hijab. A viagem de Saeed e de outros transformou-se numa ação ativista, gritariam pela liberdade das mulheres e por outro país. De acordo com a Iran Human Rights, já morreram pelo menos 448 pessoas desde o início dos protestos anti-regime.

A estadia da seleção do Irão em Doha, no Catar, foi uma daquelas histórias que mistura futebol e política. O interesse maior estava na terceira jornada da fase de grupos, contra os Estados Unidos, que transportava os observadores para o Mundial de 1998, em França, quando houve hesitações e flores no pacífico duelo entre as duas nações. No passado, testemunharam-se intromissões políticas e um sequestro de 444 dias na embaixada norte-americana em Teerão. Os temores, neste 29 de novembro de 2022, acabaram derretidos por fotografias, danças e promessas de paz entre cidadãos dos dois países, quais solenes embaixadores, nas imediações do Estádio Al Thumama.