O ofício de Rashid é vender falcões. Parece uma vida pacata e relaxante. Está numa loja no Souq Waqif, o lugar mais feliz de Doha e que confunde viajantes forasteiros quanto à natureza do regime, por ser tão harmonioso, colorido e cheiroso. Rashid, do Bangladesh, vai contando coisas vulgares e fala sobre os preços, que podem ascender aos 5.000 euros. Depende do tamanho e do berço, já que alguns aprendem a comer e a procurar alimento desde pequenos.
“Toda a gente tem um falcão, dos mais velhos aos mais novos. Fazem corridas e caçam”, conta com uma voz mansa e tímida. No interior da loja estão algumas daquelas feras elegantes viradas para onde lhes convém, cercadas por prateleiras que carregam bules com tons diferentes e o que parece ser uma coroa no topo do edifício. Veem-se também tecidos mal amanhados e esquecidos, e ainda uma máquina de costura, o que sugere a presença de algum tipo de ecletismo. Também estão outros na rua, entre o sol e a sombra, quem sabe para atrair visitantes. Alguns têm os fabulosos olhos vendados.