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Liga dos Campeões

A Liga dos Campeões aterrou em Lisboa e tudo o que precisa de saber está aqui

2020 e a infelicidade de uma pandemia mundial tornaram Portugal o epicentro da recuperação ao nível das competições desportivas. O primeiro passo será dado nesta semana, com Lisboa a receber as oito equipas que vão lutar pelo título da Liga dos Campeões. Assim se jogará esta competição, num formato nunca antes visto

Visionhaus/getty images

Luis Cristóvão

A pandemia travou o futebol, mas o futebol respondeu-lhe na mesma moeda. O profissionalismo da indústria futebolística deu claros sinais de resistência a um ambiente muito adverso, onde várias outras áreas ainda lutam por conseguir dar resposta. O futebol foi voltando aos poucos, na Alemanha, em Portugal, em Espanha, Itália e Inglaterra, com a França a ser o único dos grandes campeonatos a não retomar a atividade para finalizar a temporada. No conjunto destes países, o balanço só pode ser muito positivo. Poucos casos encontrados nas equipas das divisões principais, todos eles controlados pela capacidade de resposta imposta nas respetivas Ligas. As provas que se reiniciaram após a pandemia terminarão todas conforme o projetado.

O fecho de época teve algumas lesões musculares, com o calendário apertado a ser o grande contra a ser ultrapassado por jogadores e treinadores, mas os jogos, na sua maioria, devolveram-nos a emoção e as sensações que a competição sempre nos proporcionou. O grande excluído destes planos de resposta foi o adepto, que não pôde ainda regressar aos estádios. Agora ilustram-se as bancadas vazias com tarjas e cachecóis que os recordam e as transmissões televisivas recuperam gravações sonoras para aproximar o som ambiente ao que estávamos habituados.

Se cada país foi capaz de reorganizar o regresso conforme as respetivas respostas de combate à covid-19, fazê-lo numa escala internacional lançava desafios bem mais complexos. A UEFA viu as suas provas interrompidas, com a Liga dos Campeões e a Liga Europa a ficarem a meio dos oitavos de final. Imaginar um regresso às viagens entre países para jogos disputados em casa e fora de cada equipa era um cenário considerado impossível. A solução passou por encontrar um quadro competitivo inovador. A capital portuguesa foi a cidade escolhida para encontrar o campeão europeu, num trabalho onde a Federação Portuguesa de Futebol e o Governo português se anteciparam perante a necessidade da UEFA encontrar um palco.

LISBOA, A PRIMEIRA A RESPONDER

Este verão, andar pelas ruas do centro de Lisboa tem, muitas vezes, o sabor de uma viagem no tempo. Infelizmente, não para um tempo muito bom. O centro da cidade voltou a ter muitas portas fechadas, muitas lojas vazias, muito menos ação e animação do que aquilo a que nos habituara a turistificação da cidade. Foi também no tempo das ruas vazias que se escreveu o início da história da Liga dos Campeões se disputar em Portugal. Daniel Ribeiro, diretor de Serviços a Seleções da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e com larga experiência na organização de eventos desportivos, revela-nos que foram “as garantias de segurança, o protocolo médico, a capacidade hoteleira, a envolvência dos clubes na cedência dos estádios e o acordo orçamental” os pontos fundamentais do sucesso da candidatura portuguesa. Em cerca de dez dias, escolheram-se os hotéis e os parques desportivos que funcionarão como centros de treino para as equipas que disputam a prova, obtendo da parte do Governo todas as garantias necessárias. “A vontade de vencer este desafio era imensa e com o empenho e envolvimento de todos apresentámos uma proposta à qual a UEFA ficou com poucas dúvidas de que a nossa candidatura era a mais acertada.”

Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, deixou claro no momento do anúncio que muito do mérito desta organização caberia a Fernando Gomes e Tiago Craveiro, que lideraram a equipa da parte da FPF. Sem necessidade de “Plano B”, a total confiança depositada na organização portuguesa, que já anteriormente deu mostras da sua capacidade de realização, juntou-se o facto de Lisboa deter as características ideais para consumar a estratégia de uma Liga dos Campeões em formato de prova de seleções.

Para Daniel Ribeiro, “Lisboa apresenta num raio de 60 quilómetros dois estádios do mais alto nível, nove centros de treino de alta qualidade, uma variedade de hotéis com perfis urbanos, de praia, de campo e golfe. Que outra cidade pode oferecer tanta variedade com muita qualidade?”, pergunta-nos. E é na confluência do desporto com as necessidades de investimento na economia portuguesa que o Governo se veio associar.

A recuperação da confiança daqueles que visitam o país e tornam o turismo uma das áreas que maior rendimento oferece em Portugal não se faz apenas no combate direto à pandemia, nem na diplomacia rea­lizada para tentar reabrir fronteiras com os paí­ses europeus que mais população envolvem nas visitas ao nosso país. A realização de grandes provas desportivas funciona como um investimento publicitário e 2020 acabará por trazer a Portugal, além desta Liga dos Campeões, o regresso da Fórmula 1.

A concentração da competição na cidade de Lisboa terá como principais palcos o Estádio da Luz e o Estádio José Alvalade. Mas foram mais os municípios incluídos, porque os centros de treino irão espalhar-se, para lá da capital, por Alcochete, Estoril, Mafra, Oeiras e Seixal. Também a norte tiveram que ser garantidos planos para a execução de jogos dos oitavos de final, algo que acabou por não ser necessário.

Mas a FPF garantiu que Porto e Guimarães detinham todas as condições para receber a prova. Assim, Portugal organizará a fase final da Liga dos Campeões com um centro em Lisboa, ao mesmo tempo que, no mesmo período, a fase final da Liga Europa será organizada pela Alemanha, que escolheu quatro cidades, Colónia, Duisburgo, Dusseldorf e Gelsenkirchen, para a sua realização. Daniel Ribeiro salienta “a certeza de que os portugueses estarão à altura na organização de um evento tão complexo e preparado num curto espaço de tempo no meio de uma pandemia. Será um evento único que será sempre recordado que foi realizado em Lisboa e em Portugal”. A história já começou a ser escrita.

A PROVA DOS 50 MILHÕES

O Gabinete de Estudos de Marketing para Desporto do Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM), com a coordenação do Prof. Daniel Sá, elaborou o estudo de impacto económico que a organização da prova terá para o país. A estimativa supera os 50 milhões de euros, mesmo tendo em conta que a prova não terá adeptos no estádio. “Para a cidade que acolhe a final da Liga dos Campeões as vantagens serão várias. Além do potencial de visibilidade de que a cidade e o país beneficiam, existe um conjunto de impactos económicos diretos devido a estes sete jogos”, refere o estudo.

Ao nível do impacto económico, está previsto que 49% sejam atribuídos a atividades de restauração. Destaca-se ainda a acomodação, as viagens, as atividades turísticas, entre outras, para uma estimativa de 16 mil adeptos sem bilhete para jogos na cidade de Lisboa, mais 3300 no dia da final da prova. Em tempos diferentes, há um ano, cerca de 100 mil adeptos do Liverpool viajaram até Madrid no dia anterior à final da Liga dos Campeões, preenchendo as ruas da capital espanhola com as cores do seu clube. Mesmo num contexto de pandemia, haverá um fluxo de adeptos a viajar para Portugal, tendo em conta que estarão presentes oito equipas no nosso território e que duas delas, as finalistas, acabarão por permanecer duas semanas no país.

Segundo os dados cedidos por Daniel Ribeiro, “cada comitiva [das oito equipas presentes] irá ter entre 70 a 120 elementos. Alguns clubes têm uma operação maior do que outros. Da parte da UEFA, a começar pelas equipas de arbitragem, delegados UEFA, comités e staff de apoio, são cerca de 200 pessoas”. O estudo do IPAM acrescenta mais números, como os cerca de 400 jornalistas presentes e 200 elementos ligados à produção televisiva, que estará a cargo da própria UEFA. Juntando-se ainda um número elevado de convidados da organização e a centralização em Lisboa de diversas operações de comunicação, pode ter-se um sinal mais concreto do impacto que a prova representa.

Com o primeiro jogo em Lisboa marcado para o dia 13 de agosto, os próximos dias serão de chegada para as diversas equipas. O Paris Saint-Germain, uma das equipas que garantiu ainda em março a presença nos quartos de final da prova, chega a Lisboa no dia 11, como garantiu o seu diretor de comunicação, Yann Guerin. Os planos logísticos de cada equipa são, como habitualmente, reservados e terão que respeitar todo o protocolo médico imposto pela UEFA, que foi realizado entre a Unidade de Saúde e Performance da FPF com a colaboração e a orientação da Direção-Geral da Saúde. Foram várias as reuniões para se articular um “plano bastante robusto, com canais de comunicação diretos e procedimentos claros em necessidade de ação”. Por outro lado, “não será propriamente fácil encontrar os jogadores das equipas nas ruas de Lisboa. Os contactos com as equipas serão “bastante limitados pela situação que vivemos e pela privacidade das comitivas. Quanto menor for a exposição que a comitiva tem com pessoas fora do seu grupo, menor será o risco”, confidencia Daniel Ribeiro.