Enquanto que a maioria dos atletas estão determinados em marcar presença nos Jogos Olímpicos de 2021, em Tóquio, há uma modalidade onde a desistência está mais perto de ser regra do que exceção.
O torneio de ténis já perdeu diversos jogadores tanto do lado masculino, quanto do feminino. Uns nomes mais inesperados do que outros, como é o caso de Serena Williams, Simona Halep, Roger Federer e Rafael Nadal, mas as desistências continuam a surgir. E já não são a conta-gotas. O comentador de ténis Pedro Quadros Carvalho confirmou à Tribuna Expresso que, do Top 50 masculino, já desistiram 23 atletas e do feminino um total de 15.
A verdade é que o ténis e o torneio olímpico nunca andaram de mãos dadas, uma vez que nunca foi uma parte importante da temporada. Mas o prestígio de vencerem uma medalha olímpica e o orgulho de representarem os seus países é algo a que muitos atletas dão importância. Se o colocaram de lado este ano é porque este ano não é como todos os outros.
“É uma competição que é pura e simplesmente em termos de status, de currículo, experiência, é quase como se fosse um género de uma exibição e não uma competição”, explica o tenista português Gastão Elias à Tribuna Expresso.
O primeiro motivo que levou às desistências é, então, a pandemia provocada pela covid-19. Os Jogos Olímpicos foram adiados em 2020 por esse motivo, mas a verdade é que estes atletas vão a jogo ainda com o mesmo cenário. Tóquio continua a registar um aumento de novos casos, sendo que, recentemente, chegou ao número mais alto dos últimos seis meses - 1308 novas infeções. O que leva os atletas a desistir vai desde o facto de terem testado positivo e não conseguirem recuperar a tempo, como é o caso do britânico Daniel Evans ou do australiano Alex de Minaur, até às restrições impostas pela organização.
Uma das principais restrições prende-se com o facto de o número de pessoas que pode acompanhar cada atleta ser muito limitado. Chegam a ficar de fora preparadores físicos, nutricionistas ou psicólogos. Este foi um dos motivos que levou Serena Williams a desistir, visto que não poderia levar consigo a filha Olympia. Além disso, a já famosa ‘bolha’, criada em outras ocasiões por diferentes ligas, que desta vez vai impedir “o espírito Olímpico, que lhes permite [aos jogadores] conviver com outros atletas e assistir a outros eventos de outras modalidades”, realça Pedro.
Ainda assim, o principal motivo para tantas desistências parece ser outro. O calendário dos circuitos ATP e WTA é bastante preenchido. Os jogadores terminaram recentemente uma série de torneios na Europa e no final de agosto começa o Open dos Estados Unidos. O que significa que, com os Jogos Olímpicos, o que espera os tenistas é uma série de viagens entre três continentes, em pouco mais de um mês.
Gastão Elias explica que o torneio tem “calhado muito fora de mão para o circuito”, como aconteceu com o Rio de Janeiro e agora com Tóquio. Isso torna-se um problema porque deixa o calendário de cada atleta sem qualquer tempo livre. “Os jogadores sabem da importância que têm as semanas em que não competimos, são semanas que temos para recuperar o corpo, para descansar mentalmente”, diz Gastão.