O Mister Jorge Jesus? Tive a felicidade de ser treinado por grandes treinadores. José Mourinho (omelhor do mundo), Fernando Santos, Ronald Koeman, Radomir Antić, entre outros. Na verdade o mister J.J. é sem dúvida um dos melhores do mundo. Só quem trabalhou com ele sabe o seu verdadeiro valor, todos os jogadores ficam muito mais completos depois de trabalharem com ele.
Até a maneira com se anda dentro de campo muda. A maneira como treina, a forma como olha para o jogo, a preparação do mesmo é completamente diferente dos outros, nada do que faz é copiado, sai tudo da cabeça dele, como pensa e vê o jogo. A partir daí, vê os jogadores que tem e adapta as suas ideias, nunca deixando de lado a parte tática que é fundamental para a maneira como ele vê o jogo. Um jogador pode ter mais ou menos qualidade, mas taticamente tem de estar disponível para correr e pensar o jogo.
Três anos da minha carreia foram vividos diariamente com ele, tenho muitas histórias com ele, nem todas podem ser contadas porque envolvem outras pessoas também e não tenho o direito de falar sem a sua autorização. Mas, pronto.
Num desses treinos, e como ele é muito ativo e interventivo, aconteceu algo que demonstra isso mesmo. Estávamos a fazer um treino taticamente por setores, ataque e defesa, com intensidade, onde a linha de cinco que defendia tinha que reduzir o espaço em relação a bola e aos adversários, enquanto os atacantes trocavam a bola lateralmente com alguns passes frontais para a referência da frente no ataque e que devolvia a bola novamente para trás, até encontrar espaço para entrar na área para finalizar.
Num desses movimentos, o atacante entra na área para finalizar, acaba por levar uma grande porrada na perna; não cai e nem consegue finalizar a jogada. Vem o mister a correr aos gritos, dá uma dura no jogador e diz: “Aprende como se faz”. Então, o J.J. disse aos jogadores para repetir o lance, mas desta vez era ele o jogador que ia finalizar. Quando a bola entra nele para finalizar e o jogador fez falta, ele mostrou como se caía na área, dando um grande mergulho. Impressionante como caiu no relvado, parecia o Futre nos tempos áureos da sua carreira. “É assim oohhhh...”, dizia ele . Isto demonstra bem o quanto ele vive o treino e o jogo.
Outra vez, num estágio no Novo Hotel de Setúbal, estávamos a conversar e de repente diz ele: “No dia em que treinar um grande, porque vou treinar, e as feras trabalharem comigo, vão ser muito melhores e vamos ganhar tudo”.
Para finalizar conto mais uma. Num jogo contra o Gil Vicente, onde fiz três golos, e o mister já não era o treinador do Vitória de Setúbal, recebo uma mensagem a dizer: "Parabéns pelos livres que te ensinei a marcar”.
Resumindo, não fico admirado com o sucesso de J.J., era algo previsível para mim, só gostava de o ver treinar um grande clube na Europa, porque não o Real Madrid.