O tempo muda a perspetiva sobre os assuntos. Geralmente, atenua as sensações vividas à data da efetiva concretização dos acontecimentos. Ser pai aos 17 anos só agora se revelou uma vantagem para Fernando Varela, hoje com 36. Antes de ter estabilidade, teve um filho e isso tem os seus custos. Além de jogar à bola, Fernando pôs-se a trabalhar numa pizzaria, convidando mais alguns euros a entrarem na conta.
A 30 de janeiro de 2005 nasceu Gustavo. Passaram 19 anos desde esse dia, o mesmo tempo que Fernando demorou a olhar para a paternidade precoce como uma boa decisão. A miúda diferença de idades é o que lhe vai permitir jogarem um contra o outro na 11.ª jornada da II Liga, momento em que o Alverca se vai deslocar ao Seixal para defrontar a equipa B do Benfica e duas pessoas que moram na mesma casa vão dividir tarefas: um leva o bom humor para casa, o outro leva o mau.
“Alguém vai ficar triste”, antecipa Fernando Varela à Tribuna Expresso no momento em que Gustavo acaba de regressar da Alemanha com dois golos marcados contra o Bayern Munique, na Youth League, a Liga dos Campeões dos mais novos. “Agora só marca para a semana”. Fernando é defesa-central e Gustavo é ponta de lança. A antítese posicional vai fazê-los calcar as mesmas zonas e não é descabido que possam acontecer alguns arrufos. “Além de pai e filho, somos muito amigos. Vamos desfrutar. Vamos gozar um com o outro, normalmente, faz parte. Acima de tudo, amamo-nos”, continua o jogador do Alverca que diz dar, mas também receber dicas do seu rebento.
O desafio da mulher da família
Não se pode chamar surpresa a qualquer presente. Por muito bem embrulhada que possa ser uma bola, o formato que a faz rolar pela relva fora denuncia o que o papel quer esconder. Nunca foi preocupação que Fernando tivesse com os presentes que dava a Gustavo. Seria aborrecido que um pai escolhesse dar ao filho, no aniversário ou no Natal, algo que fez parte da vida de ambos desde que se conhecem como parte um do outro.
“Quando assinei contrato profissional com o Estoril, altura em que deixei a pizzaria, toda a gente em casa trabalhava. O Gustavo tinha que vir comigo para os treinos. Ficava na sala de refeições e convívio do centro de estágios enquanto nós treinávamos. Ele teve contacto com a bola desde cedo. Houve uma vez em que nós estávamos em reunião no campo e ele entra por ali com uma bola. O mister Tulipa ficou sem saber o que dizer, mas todos perceberam. Naquela altura, ele não tinha com quem ficar”, recupera o progenitor.