É impiedoso o sol naquele final de manhã.
Na bancada do pequeno estádio do sindicato, em Odivelas, um grupo de homens, alguns juntos, outros cada um por si, disputa uma ténue fila de sombra, lá no topo, enquanto assistem atentos ao jogo que acabou de se iniciar. Defrontam-se 1º de Dezembro, da Liga 3, e perto de meia centena de futebolistas por ora desempregados, jogadores que foram de terceira, de segunda e até de primeira divisões, muitos de fora, emigrantes, muitos com estirpe de Seleção Nacional quando jovens, alguns são há muito profissionais, mas outros há que nunca foram senão amadores. A vê-los, há empresários, olheiros, diretores desportivos, rostos familiares nas lides da bola, ex-futebolistas que negoceiam os atuais e presenças volta e meia na TV, em conferências de imprensa, flashes, a gesticular contra arbitragens dos bancos, dirigentes que o são em clubes cimeiros, de craveira.
Ouço que um deles negoceia um lateral.
— Aquele, à direita. O puto é bom. China, é para a China. O mercado lá ‘tá a mexer outra vez, e pagam bem.
Outros reconhecem atletas que estão sem clube pelos clubes onde jogaram.
— Pá, há o Kadú, que era do FC Porto. O Délcio, do Benfica. E o Evandro? Não o vejo… É aquele?!
Evandro já começara a correr em volta do relvado antes mesmo do começo. Correria durante a primeira parte e mais correria parte da segunda. Não pisa relva além das linhas. É metódico. Mantém sempre passada vigorosa. É largueirão, mais forte que alto, um panzer na gíria do futebol. Tranca o rosto, baixa-o para olhar o relógio, medir tempo e medir pulso. Termina a corrida encharcado em transpiração, mas não parece exausto, antes capaz de mais uns bons quilómetros. Senta-se. Descalça-se. Alonga-se. Conversamos sobre a relva.