Se a Terra atravessasse um apocalipse, o Barcelona seria uma espécie de artefacto a ser utilizado como caixa negra para, através dele, se traçar o rasto de um vício de milhões chamado futebol. A influência em jogadores e treinadores e a magnitude por força dela alcançada ditam sintomas de eternização, de imortalidade. Ainda assim, como parece que a vida nesta esfera azulada a orbitar sol está para durar, há que lidar com os problemas associados à existência aos quais nem os intocáveis escapam.
A vista para o topo do Montjuïc é tão deslumbrante como a que, no sentido inverso, se tem do cimo da colina para a Cidade Condal. O estádio olímpico que o Barcelona tem usado como casa emprestada esconde-se entre as árvores e o Museu Nacional de Arte da Catalunha. No dia em que a equipa de Hansi Flick se estreia a jogar no seu reduto na época 2024/25, um mar blaugrana corre rumo a ele no sentido inverso ao dos rios, ou seja, subindo até ao pico do relevo. Há nas camisolas que tingem o fluxo uma omnipresença de estampagens com o nome de Lamine Yamal, um best-selling por aqueles lados.
Uma antecipada corrida para o lugar na bancada permite ver no relvado o jogador de 17 anos, ídolo precoce da devota massa adepta, ainda antes de se equipar. Lamine está numa roda que também inclui Nico Williams, adversário do Athletic Bilbao ao qual, durante o Euro 2024, deu a mão na frente de ataque da seleção espanhola que conquistou a competição. A conversa pré-partido está animada. Gavi rega-a atirando as últimas gotas de uma garrafa de água contra Nico Williams.
Um dos pontos de interesse da segunda jornada da La Liga era o duelo entre Lamine Yamal e Nico Williams, um jogador do Barcelona e outro que tantas vezes viu o seu nome nos mesmos títulos de notícias que o emblema culé. Mas não era tudo. A possível estreia de Dani Olmo também acicatava o encontro entre catalães e bascos.
Para quem ainda não tivesse googlado a ficha de jogo, o ecrã gigante, com alguns pixeis defeituosos, mostrou Dani Olmo, reforço vindo do RB Leipzig, na bancada VIP trajado à civil. Até perto do início do encontro, não se sabia se o Barcelona ia conseguir inscrever o internacional espanhol na La Liga de modo a que este pudesse, pelo menos, estar no banco de suplentes. Efetivamente, não o conseguiu fazer. Assim, ficaram 55 milhões de euros na bancada enquanto Hansi Flick improvisava, colocando Raphinha, extremo brasileiro com passagem por Portugal, a atuar como médio ofensivo (o que não o impediu de se fazer notar), a posição de Olmo.
Devido ao limite salarial imposto pela La Liga, a inscrição do reforço era um nó cego. Afinal, o poderoso Barcelona não se tem livrado de relativos constrangimentos financeiros. “São coisas que temos que aceitar e não podemos mudar”, comentou Hansi Flick no final do jogo que o Barça ganhou por 2-1.
Quase três semanas depois de oficializar o reforço, o Barcelona avançou para a inscrição de Dani Olmo, estando este apto a somar os primeiros minutos, mas apenas graças a uma situação fortuita. O central Andreas Christensen lesionou-se no tendão de Aquiles e deverá estar fora durante quatro meses, dando espaço ao registo do atacante. O relatório médico do central foi validado pela La Liga ainda que, de acordo com a rádio espanhola COPE, pessoas ligadas ao jogador digam que o dinamarquês poderá regressar dentro de um mês, dando a entender que o clube terá hiperbolizado o problema físico em causa para resolver a situação de Dani Olmo.
Por se tratar de uma lesão de longa duração, a La Liga permite que 80% do salário de Christensen não seja contabilizado para o limite, podendo assim ser utilizado por outro jogador. Tal exceção só é permitida visto que o organismo que tutela o campeonato espanhol aceitou o prazo que o Barcelona apontou para o regresso do defesa. Se Christensen recuperar antes do previsto, pode ir a jogo uma vez que, até ao mercado de janeiro, a ressalva permanece ativa.
Os culés continuam ativos no mercado. Após ter falhado a contratação de Nico Williams, é sobretudo de saídas que o Barcelona está a tratar. İlkay Gündoğan regressou ao Manchester City, Clément Lenglet rumou ao Atlético Madrid, Vitor Roque, que foi associado ao Sporting, seguiu para o Bétis. Na ponta final da janela de transferências, o plantel ainda não está fechado, mas Dani Olmo já pode respirar de alívio.