Diz-se que pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita e o Chelsea de Todd Boehly tem feito valer esse ditado popular. Desde que o milionário norte-americano comprou o clube, a cada janela de transferências a equipa de Londres abre a carteira e gasta milhões, muitos milhões, mas os erros estruturais parecem manter-se temporada após temporada. E quase 200 milhões de euros em contratações neste verão depois, o Chelsea entrou a perder na Premier League.
É certo que não teve sorte com o calendário: pela frente, logo a abrir, recebia o campeão Manchester City, no jogo grande da 1.ª jornada da liga inglesa. E a vitória da equipa de Pep Guardiola, por 2-0, construiu-se porque, muito longe de deslumbrar, é uma estrutura bem mais adulta e organizada que a do Chelsea. Guardiola surpreendeu, ao deixar Phil Foden no banco, apostando no reforço Savinho para o lado esquerdo do ataque. Mas o primeiro golo do City surgiria quando o brasileiro e Doku trocaram de flancos: um cruzamento do belga na esquerda encontrou Haaland, que venceu na luta de corpos com Fofana e Cucurella e rematou certeiro.
Na reação, viu-se um Chelsea atabalhoado, com capacidade para chegar à área, mas com Nicolas Jackson e Christopher Nkunku perdidos em carambolas e más decisões. Do outro lado, as oportunidades tão-pouco brotavam e foi de longe, com um remate de De Bruyne, que o City voltou a criar perigo. Ainda sem Rodri, era Kovacic a assumir o papel de roldana no meio-campo.
Jackson ainda marcou antes do intervalo, mas estava em fora de jogo no início da jogada. O senegalês e Nkunku, em dia de imensa desinspiração, seriam sacrificados na 2.ª parte, com Enzo Maresca, o novo treinador do Chelsea, a lançar Pedro Neto aos 57’. O efeito do português, contratação para esta época, foi imediato e só não marcou pouco depois de entrar porque Rico Lewis fez um corte providencial ao segundo poste, quando o extremo já se preparava para rematar.
Neto deu gás à melhor fase do Chelsea, altura em que o City, com Rúben Dias e Bernardo Silva a titulares, desistiu da iniciativa de jogo, entregando-a ao adversário, talvez por não confiar na sua capacidade de se organizar e criar jogo. Não estava muito longe da verdade. Antes de sair, Nico Jackson viu-se em frente a Ederson e rematou à queima, para defesa por instinto do brasileiro, numa jogada que começou em Pedro Neto. Mas o gás do Chelsea esgotou-se rapidamente. Nos últimos 10 minutos, mais um português fez a estreia oficial pelo Chelsea, Renato Veiga, formado no Sporting e ex-Basileia, que entrou para substituir o lesionado Marc Cucurella.
Já com o jogo em fase adormecida, Mateo Kovacic aproveitou um mau alívio da defesa do Chelsea para recolher a bola a meio-campo e cavalgar em direção à baliza. Marc Guiu, mais um reforço, ficou a olhar, Moisés Caicedo ainda mais, e o croata rematou forte, marcando à ex-equipa, num lance em que Robert Sánchez podia ter feito mais. Nesse momento, as indiscretas câmeras de televisão apanharam Todd Boehly a levantar-se do seu lugar e a deixar a tribuna presidencial.
Faltará muito ainda por definir para a nova época do Chelsea. Enzo Maresca deixou mais de uma dezena de jogadores fora da convocatória, tal é o tamanho do plantel que tem à disposição. João Félix ainda poderá chegar. Mas está difícil encontrar um ponto por onde começar tudo de novo.