Trinta e nove remates depois, a França fechou o festival contra Gibraltar em Nice: foram 14 golos contra zero remates do adversário. Esta transformou-se na goleada mais importante da história das qualificações europeias desde o 13-0 da Alemanha a San Marino, em 2006.
Para a história fica também o golo do adolescente Warren Zaire-Emery, que, com 17 anos, oito meses e 11 dias, se tornou no mais jovem a jogar pela seleção gaulesa desde 1914, segundo a BBC.
Já Kyllian Mbappé foi exatamente Kyllian Mbappé. Fez um hat-trick, um dos golos foi sublime (300.º da carreira!), de estrela planetária, de génio, de predestinado, de rapaz capaz de andar às turras com os maiores do futebol. Mas também fez um hat-trick de assistências. Por outro lado, depois de uma goleada já inusitada nos tempos que correm, teve de levar com mais um vendaval cibernético em que foram recordadas as suas palavras sobre o futebol sul-americano, que rotulou como não desenvolvido e pior que o europeu, até porque europeus jogavam contra europeus e assim chegavam mais preparados aos grandes torneios. Alerta eurocentrismo.
Mas aos craques permite-se quase, quase tudo. Kyllian é daqueles futebolistas que está completamente escancarado nas estrelas que nasceu para ser gigante e escrever uma história importante no futebol. A relação com os Campeonatos do Mundo, os muitos golos (hat-trick na final do Catar 2022) e exibições memoráveis, tornam-no uma lenda precoce.
Tem 24 anos. Quase 25. Mas tem 24 (e 11 meses) e é partir daqui que nos agarramos aos números do “Globo Esporte”, que, como tem gente com aquele português açucarado ao barulho, fez as contas. Só três jogadores na história do futebol chegaram mais rápido aos 300 golos do que Mbappé, ainda que dois deles superem o francês apenas por alguns meses. Pelé só precisou de 22 primaveras, imagine-se. O mago magiar Ferenc Puskás conseguiu-o com 24 anos e 21 dias. Segue-se Neymar, o prodígio do Santos, casa de Pelé claro, com 24 anos e oito meses, confirmando o que foi, o que é e o que será mesmo que muitos neguem.
Ou seja, Mbappé, o astro maior do PSG e sempre, sempre sussurrado para o Real Madrid, alcançou a marca dos 300 golos antes de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. O argentino conseguiu-o com 25 anos, já o português, que ainda anda aí para as curvas e com o pé afinado, precisou de 27 anos e três meses. Já sabemos, o ketchup do português salpicou tudo definitivamente depois dos 30. A lista do “Globo Esporte” continua: Robert Lewandowski chegou aos 300 com 27 anos e 10 meses, Zico com 28 anos e 26 dias, Luis Suárez com 28 anos e sete meses, Romário com 29 anos e Zlatan Ibrahimovic com 32.
Estamos perante, portanto, uma barbaridade de jogador. Os últimos jogos pela seleção francesa foram uma outra camada das atrocidades futeboleiras que se acumulam a cada fim de semana: 13 golos e seis assistências nos últimos nove jogos por França, numa epopeia que começou com o tal hat-trick à Argentina na final do Mundial, viajando até aos quatro golos em dois jogos contra os Países Baixos. Na caminhada para o Euro 2024, apenas a Irlanda soube guardar as redes dos seu guarda-redes contra o avassalador Mbappé, um homem supersónico e ciente do caminho para a eternidade.
Quando marcou à Croácia, na final do Mundial 2018, transformou-se no segundo jogador mais jovem a marcar no derradeiro jogo do torneio. Tinha 19 anos e ficou apenas atrás de Pelé, que tinha 17 quando marcou no 5-2 à Suécia, na final de 1958. O francês, professional desde os sweet 16, tem tantos golos (12) e jogos (14) em Mundiais como Pelé. Admirável.
No que toca aos golos em Campeonatos do Mundo, está apenas a um de Lionel Messi e Just Fontaine, dois de Ronaldo senhor Fenómeno Nazário e a quatro do recordista Miroslav Klose. Histórico. Tem apenas 24 anos e, quem sabe, mais três Mundiais no horizonte.
A lista de apurados para o Euro 2024, que será disputado no próximo verão na Alemanha entre 14 de junho e 14 de julho, engordou no sábado. Países Baixos, Roménia e Suíça já garantiram presença no torneio.
São já as 16 seleções que o conseguiram: Alemanha (seleção anfitriã), Albânia, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Escócia, Eslováquia, Espanha, França, Hungria, Inglaterra, Portugal e Turquia juntam-se às três referidas no parágrafo anterior.
Este domingo prosseguem os jogos e as decisões.