Futebol internacional

Um drama desolador em Dortmund ofereceu ao Bayern a 11.ª Bundesliga consecutiva

O Borussia Dortmund precisava de vencer o Mainz, em casa, para conquistar o título nacional que lhe foge desde 2012. Cedo começou a perder, depois falhou um penálti, a seguir sofreu o 2-0. Raphael Guerreiro ainda reduziu, o Bayern marcou e sofreu, o que dava o título ao Dortmund, mas pouco depois Musiala colocou os bávaros na frente outra vez. Sule empatou em Dortmund, inutilmente, e as lágrimas e a dor regaram o relvado do Signal Iduna Park

Lars Baron

Aquela gente de amarelo não sabia o que era festejar um título nacional desde 2011/12, numa altura de vacas gordas em que até celebraram duas Bundesligas consecutivas. A obra foi de Jurgen Klopp e de um grupo de futebolistas geniais. De lá para cá, ou seja, nos últimos 10 anos, o Bayern Munique não facilitou e foi o papão insaciável.

Este sábado estava tudo pronto para uma festa gloriosa. Para tal, Raphael Guerreiro, Hummels, Brandt e companhia tinham de ganhar o Mainz, em casa, ou imitar o que o Bayern fizesse no campo do Colónia. Mas isso só aconteceu durante alguns minutos…

Como tantas vezes, os arquitetos das desgraças futeboleiras magicaram tudo ao milímetro: o Mainz marcou primeiro por Andreas Hanche-Olsen. Depois, numa boa oportunidade para corrigir aquele arranque desastroso, Sébastien Haller teve um penálti para deixar tudo empatado.

Um adepto colocava o indicador nos lábios, talvez a pedir calma aos companheiros de bancada ou então para mandar calar aqueles que já andavam a azedar o ambiente, os sempre presentes profetas da desgraça. Haller falhou, superado por Finn Dahmen. Algumas mãos foram atraídas para as cabeças. O desespero começava a cutucar o coração dos apaixonados adeptos do Borussia Dortmund.

Para agravar esta narrativa, cinco minutos depois, aos 24’, Karim Onisiwo meteu o segundo golo na baliza de Gregor Kobel. Estava oficializada a promessa de tragédia no Signal Iduna Park. No primeiro tempo, estranhamente, o Dortmund causou muito pouco perigo. O último infortúnio dos primeiros 45 minutos prendeu-se com a lesão de Karim Adeyemi. Entrou para o seu lugar o mítico e fiel Marco Reus, o que coincidiu com a melhor versão da equipa de amarelo e preto. Youssoufa Moukoko, o tal jovem prodígio, entrou ao intervalo para tentar mudar o fado desta história infeliz.

Lars Baron

Enquanto a maquinaria de Edin Terzic tardava a carburar, o Mainz mantinha o seu jogo que escorria veneno por todos os lados, ora defensivo, ora desdobrando-se num ataque a uma velocidade alucinante. Aos 57’, numa altura em que Sammer já bufava na tribuna, Onisiwo voltou a surgir em boa posição e atirou uma bala ao poste.

A urgência tomou conta dos adeptos e jogadores do Dortmund quando faltava mais de meia hora para o final, assemelhando-se a um jogo a dar os seus últimos suspiros. Com Giovanni Reyna e Moukoko, a equipa melhorou – o toque de bola do primeiro é especial. Haller continuava a tentar, seria um conto de fadas tremendo se pudesse ser herói depois do que viveu no início da temporada. Hummels já ia aparecendo na área. Escasseavam as boas decisões. O discernimento é a primeira vítima quando há pressa para chegar ao golo. O Mainz continuava a executar o seu exercício de resistência sem nunca perder de vista os três ferros no horizonte.

O futebol recompensou Guerreiro, um dos melhores em campo, aos 69’. O internacional português combinou com o bom do Reyna e meteu na baliza com o pé direito, 1-2. O treinador do Borussia Dortmund pedia uma avalanche de amor e de apoio aos adeptos. O milagre, que antes nada tinha que ver com milagre e sim o desfecho mais óbvio, até podia ter acontecido, não fossem Reus e Haller falhar golos que normalmente não falham.

O golo do Colónia ao Bayern Munique, aos 81’, foi recebido como se fosse Natal. O banco do Dortmund implorava por mais energia aos adeptos. Já cheirava a título, mas era perigoso contar com o maior rival. Jude Bellingham, impossibilitado de jogar e a caminho do Real Madrid, entregava águas aos colegas e puxava também ele pelos adeptos, invertendo os papéis. E o Bayern, sem surpresa, não demorou muito a marcar outra vez, por Jamal Musiala. A dor de Terzic ficou patente.

O Dortmund ainda empatou, por Sule, mas era tarde demais. Seguiram-se as lágrimas, o aperto no peito, a desilusão. Mais uma oportunidade perdida (João Cancelo celebrou o título alemão depois de ter conquistado, à distância, o inglês). O sol prometia uma tarde maravilhosa. Inesperadamente, o inferno brotou no relvado do Signal Iduna Park. Mas os adeptos não deixaram cair, cantaram para eles e ofereceram uma das imagens do ano.