Recuar até 1950 é recuar muito tempo, mas não tanto tempo assim quando se fala de futebol. É esse o ano de fundação do Olympique Lyonnais, que nos habituámos a tratar por Lyon, um jovem clube se olharmos para os históricos já mais que centenários espalhados pela Europa.
Com 73 anos de existência, o Lyon já teve os seus momentos de glória e as suas travessias pelo deserto. E em praticamente metade deles há, ou havia, uma constante: o nome de Jean-Michel Aulas. Aos 74 anos, o histórico proprietário do clube francês está de saída, 36 anos depois de assumir a presidência. Isso quer dizer que na vida do Lyon há 37 anos sem Aulas e 36 anos com Aulas. A partir de agora, o empresário, que chegou ao clube com o Lyon na segunda divisão, carregando-o até à elite do futebol gaulês, será presidente honorário do emblema.
De acordo com um comunicado tornado público esta segunda-feira, o Conselho de Administração do OL Groupe nomeou John Textor como presidente e CEO do clube. O empresário norte-americano, que chegou a estar interessado em investir na SAD do Benfica, comprou o Lyon em finais de 2022. Aulas deveria manter-se ainda em funções durante mais três anos, mas o “L’Equipe” sublinha que a nova administração procura mudanças de fundo na equipa, que há muito deixou de fazer concorrência a PSG ou Mónaco, apesar do brilharete que foi chegar às meias-finais da Champions em 2020, quando, em plena pandemia, a competição foi completada em Lisboa.
Mas no início do século, o Lyon era a marca forte do futebol francês. Entre 2001/02 e 2007/08 conquistou sete títulos consecutivos da Ligue 1, algo que nem o Paris Saint-Germain conseguiu fazer. O clube desenvolveu e distribuiu também talento pelos maiores clubes da Europa. Foi de lá que saíram nomes como Karim Benzema, Michael Essien, Florent Malouda ou Eric Abidal.
Jean-Michel Aulas ficará ainda indelevelmente ligado à aposta e investimento no futebol feminino, que tornou o Lyon na mais forte equipa feminina do mundo. A equipa francesa tem 15 títulos internos e é a grande dominadora da Champions nos últimos anos: são oito títulos europeus no total, sete deles seguidos entre 2010/11 e 2019/20.
No futebol masculino, o Lyon segue agora num desapontante 7.º posto, fora dos lugares que dão acesso à Europa.
Bem cedo acusado de gerir o clube como uma empresa - ainda antes de isso ser prática corrente em boa parte dos grandes clubes europeus -, Aulas ficará para a história como um defensor feroz do Lyon, não poucas vezes polémico e sem medo de atacar árbitros, clubes e jogadores ou presidentes rivais. O “Le Figaro" diz que a relação com Textor era “tensa” e daí uma saída que não estava prevista para já.
No comunicado que anuncia a saída de Aulas, o OL Group “agradece de coração ao Sr. Jean-Michel Aulas pelo seu compromisso e dedicação sem reservas ao Olympique Lyonnais durante mais de três décadas, durante os quais venceu mais de 50 títulos entre as equipas masculinas e femininas”. Na declaração, o clube sublinha que as “qualidades de liderança” de Aulas permitiram ao Lyon tornar-se “uma potência no futebol europeu”, mas que agora é hora de “fortalecer a posição do Olympique Lyonnais no futebol mundial, em linha com as maiores ambições da sua ilustre história”.