O GP Canadá de 2007 foi uma daquelas corridas cheia de eventos. Acidentes vistosos, penalizações, safety car a entrar quatro vezes em pista. E lá à frente, um rookie chamado Lewis Hamilton a liderar, impassível, do início ao fim, naquela que seria a sua primeira vitória de sempre na Fórmula 1.
Catorze anos depois, Hamilton tem sete títulos mundiais no bolso - igual só Michael Schumacher - e virtualmente todos os recordes que realmente interessam na Fórmula 1. Este domingo, em Sochi, numa pista que nem sequer existia em 2007, o britânico da Mercedes chegou a outro marco, ao número redondo onde mais ninguém chegou: 100 vitórias.
E o centenário de Lewis Hamilton aconteceu talvez inesperadamente, numa corrida tão ou mais atribulada que essa de Montreal, com a chuva a aparecer nas últimas cinco voltas, obrigando, tal como na véspera na qualificação, a decisões no limite, a riscos.
E nesse particular, o grande perdedor do dia foi Lando Norris. O jovem da McLaren seguia em primeiro, bem a conseguir manter Lewis Hamilton à distância, e com a sua primeira vitória de sempre a um pequeno passo. Com o aparecimento repentino da chuva, quase todos os pilotos trocaram para pneus intermédios, Hamilton hesitou e a contragosto também foi à box, com Norris a decidir continuar de duros, até porque as previsões não apontavam para chuva forte.
Acontece que as previsões falharam redondamente: nos derradeiros momentos, uma bátega de água abateu-se sobre Sochi e o McLaren de Norris ficou incontrolável, com o britânico a sair várias vezes de pista até se conformar que trocar de pneus era inevitável. Um fim de sonho inglório para o jovem, que ainda estará a esta hora a rogar pragas à meteorologia e ao seu timing caprichoso.
Com isto, o triunfo ficou entregue de bandeja a Hamilton, que partiu de 4.º, fez um péssimo arranque (baixou para 7.º), mas que voou depois da sua primeira paragem para trocar de pneus, com um ritmo de corrida que rapidamente o colocou perto de Norris e com hipóteses de discutir o triunfo, com ou sem chuva.
Em 2.º, Max foi o que mais ganhou
A vitória 100 de Lewis Hamilton foi também a 4.ª do britânico nesta temporada e a primeira desde 18 de julho, em Silverstone. Um longo período sem ganhar para Hamilton, pouco habituado a estas secas, de tal forma que referiu isso mesmo nas comunicações finais com a equipa depois de passar a linha de meta: este triunfo 100 estava “a demorar a chegar”. Isto antes de agradecer aos estrategas pela decisão de o chamar às boxes para trocar para pneus intermédios - Hamilton inicialmente torceu o nariz à ideia -,o que se veio a provar fulcral.
E a vitória no GP Rússia, a 5.ª de Hamilton em Sochi, só não foi mais saborosa porque o verdadeiro vencedor do dia foi, provavelmente, Max Verstappen. O holandês da Red Bull partiu de último, pareceu a tempos fora de ritmo, apesar da recuperação até aos pontos, mas com o aparecimento da chuva foi dos primeiros a reagir, o que lhe valeu a escalada até ao 2.º lugar. E com isso minimizou quase por completo a troca de motor que o atirou para o fundo da grelha.
O triunfo colocou Hamilton de novo no topo do Mundial de pilotos, com 246,5, mas Verstappen está apenas a 2 pontos - seguramente esperaria estar a mais a esta hora.
Carlos Sainz, que ainda liderou nas primeiras voltas depois de um excelente arranque em que ultrapassou Lando Norris, levou o Ferrari ao 3.º lugar.
O Mundial de Fórmula 1 segue agora para a Turquia, daqui a duas semanas.