Fórmula 1

Mick Schumacher sente-se injustiçado: “Depois do acidente, aqueles momentos em família com o meu pai deixaram de existir”

Foi, durante anos, dono e senhor das pistas de Fórmula 1. Arrojado, amado e odiado, arrogante mas genial como poucos, é hoje um ser humano com muitas limitações (quais, não se sabe ao certo) e um filho a seguir-lhe as pisadas no automobilismo. Vem aí o documentário da Netflix sobre Michael Schumacher (estreia no próximo dia 15 de setembro) e não faltam declarações comoventes, nomeadamente do filho, Mick

Bryn Lennon/Getty

Carlos Luís Ramalhão

“Teríamos tanto para conversar.” A frase, dita por um homem grande, adulto, que a cada Grande Prémio mostra a bravura ao volante de um carro de Fórmula 1, é também a de um filho magoado pelo destino. Mick Schumacher, piloto da Haas, seguiu as pisadas do pai, um dos maiores de sempre, carregando nos ombros o peso de um apelido forjado em ouro maciço (o tio, Ralf, nunca aguentou esse peso) e lamenta não poder ter uma conversa com o pai.

Michael Schumacher foi, durante muitos anos, sinónimo de glória. Até ao final do ano passado, detinha o recorde de títulos de Fórmula 1. Embora esse mérito seja agora de Lewis Hamilton, ninguém se atreve a negar o talento de Schumi (para os amigos). E há coisas assim. Governa-se um carro a velocidades estonteantes, vence-se tudo o que há para vencer, por vezes a todo o custo (lembre-se a polémica manobra com que o então piloto da Benetton colocou o rival Damon Hill fora da pista e assegurou o primeiro título) e depois, longe do alcatrão, sofre-se um acidente de ski e, de repente, fica-se em estado vegetativo.

Mick estava lá, em dezembro de 2013, nos Alpes Franceses, quando o pai sofreu um grave acidente.

O piloto alemão bateu com a cabeça numa rocha e ficou com consequências muito graves que quase o mataram. Michael esteve seis meses em coma induzido. Depois disso, poucos falaram sobre o estado de saúde do antigo piloto da Benetton, Ferrari ou Mercedes. Jean Todt, antigo diretor da Ferrari e atual presidente da FIA, deixou algumas dicas depois de uma visita à casa da família, na Suíça, mas nada que esclarecesse as muitas dúvidas existentes.

Pouco ou nada se sabe, portanto, sobre o estado atual de Michael. A família, em particular Corinna, a mulher, têm feito tudo para esconder do mundo a atual condição do génio alemão. O silêncio é quebrado no dia 15, com a estreia do documentário que a Netflix produziu sobre a vida do hexacampeão de F1. A família aceitou finalmente falar sobre o assunto.

Mick, um dos descendentes de Michael, tem a força necessária para mostrar fragilidade. "Depois do acidente, aqueles momentos em família com o meu pai deixaram de existir. (…) Do meu ponto de vista isso é muito injusto", diz o piloto de 22 anos da Haas. “Teríamos tantas coisas para falar. (…) Se fosse possível seria magnífico. Daria tudo para que isso acontecesse,” desabafa.