Os dias que Sebastian Vettel passou no Canadá foram iguais dentro e fora da pista: inicialmente, parecia que tudo ia correr bem, mas acabou por ser o oposto. Durante os treinos livres foi um dos mais rápidos, chegando mesmo a colocar o carro na terceira posição. Na qualificação e na corrida, porém, as coisas não correram bem, a estratégia falhou e Vettel regressou a casa com um 12.º lugar e zero pontos.
Fora da pista o problema foi um pouco mais complexo e acabou por envolver pessoas fora do universo Fórmula 1.
Como tem sido hábito por parte de qualquer um dos pilotos da grelha, ao longo da temporada vão sendo apresentados novos desenhos para os capacetes. Em Miami, Lando Norris trocou o amarelo do costume pelo desenho de uma bola de basquetebol; ao longo do mês de junho, Lewis Hamilton tem uma mensagem de apoio à comunidade LGBTQ+ no seu capacete; e Vettel já apelou ao fim da guerra na Ucrânia da mesma forma. Sendo assim, quando o alemão surgiu com um capacete a alertar para a exploração de uma grande área de areias betuminosas em Alberta, no Canadá, não foi surpresa para ninguém.
Ainda que nem todos tenham gostado do gesto.
O piloto da Aston Martin teve como objetivo mostrar “o crime climático do Canadá” — grandes quantidades de areias betuminosas são extraídas para reservas de petróleo. O processo de extração contaminou o ambiente à volta, o que ameaça a vida selvagem e obrigou as comunidades indígenas da área a deslocarem-se.
Sonya Savage, ministra da energia de Alberta, membro do Partido Conservador e apoiante da construção de oleodutos, não ficou nem um pouco agradada com o gesto do piloto e recorreu às redes sociais para responder a Vettel.
"Tenho visto muita hipocrisia ao longo dos anos, mas esta leva o bolo. Um piloto patrocinado pela Aston Martin, com financiamento da Saudi Aramco, a queixar-se das areias petrolíferas. A Saudi Aramco tem a maior produção diária de petróleo de todas as empresas do mundo. Tem a reputação de ser o maior contribuinte para as emissões globais de carbono desde 1965. Em vez de demonizar as areias petrolíferas, que se encontram num caminho para o net-zero [neutralidade de carbono], as pessoas poderiam procurar diminuir a sua própria pegada pessoal de carbono. Talvez um carro a pedal para a Fórmula 1?", lê-se.
Entre a desilusão pelo facto de a integrante do governo ter recorrido a um ataque pessoal em relação ao seu ativismo em prol do ambiente, Vettel acabou por responder à acusação de hipocrisia da seguinte forma: “Sim, eu sou”.
"Estou um pouco desapontado que os políticos saltem para o nível pessoal porque não se trata de mim, trata-se do quadro geral. Sim, sou um hipócrita por fazer o que faço para viver ou por fazer o que amo. Todos nós temos paixões diferentes. Há soluções para o futuro, para o tornar mais sustentável e não depender de combustíveis fósseis e o futuro, nesse aspeto, parece entusiasmante", respondeu Vettel.
A maior surpresa surgiu no passado domingo, quando o piloto optou por outro capacete para a corrida. Isto pouco tempo depois de ter sido vaiado pelos adeptos presentes no circuito durante a parada dos pilotos. Quando questionado sobre as razões da decisão, durante uma entrevista com a "Sky Sports" após a corrida, Vettel disse: "Não quero dizer nada, tenho mais do que um capacete". Insistindo sobre o tema, foi-lhe questionado se teria sido alguma pressão por parte da equipa. “Tem outra pergunta?”, questionou o piloto.
Quem não fugiu do tema foi Mike Krack, o chefe de equipa da Aston Martin. Questionado diretamente se a equipa pediu ao piloto para não usar o capacete com o desenho em questão, garantiu: “Não, não. Ele queria criar consciencialização com a t-shirt e o capacete. E depois, a certa altura, decidiu que estava criada e foi isso, tirou-a. E ele não pode usar a mesma t-shirt todos os dias. Ele informa-nos normalmente do que está a fazer e depois concordamos como o fazer. Mas ele é livre de decidir. Falamos sobre isso”.
Vettel acabou por voltar a usar o desenho com a mensagem de apelo ao final da guerra na Ucrânia, um dos capacetes que tem usado algumas vezes desde a invasão russa no país.