Ascender ao Mont Ventoux é o mais próximo que há no ciclismo mundial de subir à lua. Ao contrário da vegetação verdejante que se encontra, por exemplo, no Alpe d'Huez, na 'montanha careca' não há árvores, mas sim uma aridez nua, inóspita, sem nada que faça sombra. Um cenário ausente de abrigos ou esconderijos.
O Ventoux ergue-se na região da Provença, que o chama de "gigante" ou "colosso". Vista de longe, a torre que fica no cume é imponente, marcando a paisagem como aviso constante de que ali há uma besta de 1.909 metros de altitude. Ao não ter vegetação nem qualquer tipo de proteção, a principal característica daquela montanha é a sua exposição ao vento, a qual o batizou de Ventoux — "ventoso".
Há três hipóteses de subir àquela superfície lunar, todas a rondar os 20 quilómetros de ascensão. Mas, tanto ou mais do que a dureza pura da subida, é a exposição ao vento que massacra os que se atrevem a chegar ao teto da Provença de bicicleta. Sem nada que os proteja, a inclinação, o vento e o ambiente desprovido de verde convidam ao pesadelo e abrem caminho ao sofrimento.
O Mont Ventoux Dénivelé Challenge é uma corrida de um dia que, sem o prestígio lendário das etapas do Tour de France, tem o "colosso da Provença" como protagonista. A edição de 2022, com duas subidas ao ponto mais alto da montanha, foi autoritariamente vencida pelo português Rúben Guerreiro, que chegou à meta após 4 horas, 32 minutos e 35 segundos, 53 segundos à frente de Esteban Chaves, seu companheiro na Education First.
Fiel ao seu estilo destemido, o ciclista de 27 anos atacou de longe, mas "não esperava ir sozinho", confessou no final. A distância foi-se alargando, Rúben manteve-se "focado" e "ao seu ritmo" numa corrida "muito dura" e, lá em cima, festejou. Fiel à sua alcunha de "cowboy de Pegões", ao cruzar a meta levou as mãos perto da anca, como que sacando de uma pistola imaginária que disparou para o horizonte, orgulhoso do tiro certeiro que tinha acabado de realizar.