Andriy Shevchenko, lenda do futebol ucraniano, antigo avançado do AC Milan e do Chelsea, entre outros, e ex-selecionador do seu país, sublinha a importância do jogo entre a Ucrânia e a Escócia, a contar para o play-off de acesso ao Mundial do Catar. A relevância do encontro é duplamente sublinhada pelas lágrimas de Oleksandr Zinchenko, o internacional que promete luta com “emoções incríveis” em campo e fora dele.
Será o primeiro jogo da Ucrânia após a invasão por parte do exército de Vladimir Putin. Se vencerem, os ucranianos defrontarão o País de Gales, na final do play-off de acesso ao Campeonato do Mundo.
Apesar da importância ampliada uma vez por cada civil morto nas ruas do seu país, Zinchenko lembrou: “Cada ucraniano quer uma coisa: parar esta guerra. No que toca ao futebol, a equipa da Ucrânia tem o seu próprio sonho: queremos ir ao Mundial e dar estas incríveis emoções ao povo, porque os ucranianos merecem-no tanto, neste momento”.
Shevchenko, figura maior da história da Ucrânia no que ao desporto diz respeito, diz que o encontro é “muito mais do que futebol”. “O jogo com a Escócia é a esperança do país”, disse à "BBC" o antigo avançado, que treinou a seleção no Euro 2020. “A motivação é incrível. Na minha opinião, temos de pôr o resultado de parte e concentrar-nos no jogo. (…) Temos de jogar para os adeptos, para toda a Ucrânia, os que estão em casa, os que defendem o país e aqueles que tiveram de o deixar”, disse Shevchenko.
O atual selecionador ucraniano é Oleksandr Petrakov. “Não há necessidade de os influenciar ou dizer alguma coisa. Eles são jogadores experientes e percebem tudo perfeitamente”, disse o técnico sobre o estado dos seus selecionados, que se viram obrigados a preparar o encontro fora do seu país, a maioria na Eslovénia.
Não há campeonato na Ucrânia, o jogo está parado desde o início da guerra. Jogadores do Dínamo e do Shakhtar andaram pela Europa a disputar amigáveis com clubes da Alemanha ou de Itália. Petrakov confessa que a preparação da eliminatória não foi fácil: “É uma tarefa muito difícil quando cada jogador está a pensar no pai, na mãe, nos parentes próximos que ficaram na Ucrânia”. “Claramente, eles sabem a enormidade da missão. Estou a trabalhar sob imenso stress, mas estamos a tentar atingir o nosso melhor, alcançar o resultado, e a nossa equipa está completamente preparada para lutar”, acrescentou o selecionador.
Os soldados no terreno estarão preocupados com outros confrontos, mas serão certamente os primeiros a querer saber como se portaram os seus compatriotas na relva. O defesa do Shakhtar Artem Fedetskyi, 53 vezes internacional pela Ucrânia, garante ao “The Guardian”: “Eu estive nos sítios mais perigosos da guerra. (…) Os soldados falam muito de futebol (…) Eles querem que a nossa equipa se qualifique para o Mundial, é o sonho deles”.
O futebol em campo deverá ser disputado como é costume, mas tem havido um espírito solidário à volta do jogo. Um grupo de adeptos ucranianos e escoceses combinou cantar o hino nacional da Ucrânia nas escadas do Estádio de Hampden Park, antes do encontro.
Se a Ucrânia atingir o Mundial, será apenas a segunda vez desde a independência, em 1991. Originalmente marcado para 24 de março, o jogo de quarta-feira foi adiado pela FIFA depois de a Rússia ter invadido o território ucraniano.