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Carlos Carvalhal: “As coisas têm uma lógica construtiva, é isso que temos dificuldade em perceber no futebol e até na vida”

Na ressaca da vitória ao FC Porto, "uma equipa fortíssima", o treinador do Sp. Braga comentou as saídas constantes de jogadores, mudanças no plantel e a aposta nos jovens, que impossibilitam temporadas com objetivos mais robustos. “Deixem-se de contratar treinadores e contratem-se mágicos, o David Copperfield podia ser um grande treinador. E não é"

Carlos Carvalhal regressou ao SC Braga no verão de 2020 (Foto: Diogo Cardoso/DeFodi Images via Getty Images)

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Mérito

“Antes de mais, um abraço fortíssimo aos meus jogadores. Foram fantásticos em termos de coesão, entreajuda, fechar espaços, de querer ganhar, muita vontade de ganhar. Dedico a vitória ao mérito que eles tiveram em conseguir derrotar um FC Porto que não perdia há 58 jogos no campeonato, um grande adversário, uma equipa fortíssima.”

Plano

“Queríamos pressionar um pouco mais à frente, acho que o conseguimos fazer, principalmente condicionar no início da construção do FC Porto, na entrada da bola no Vitinha, que vinha sempre nas costas do Abel Ruiz e também do Grujic nas costas do Ricardo [Horta]. Era importante mantermos a pressão ali porque o Porto mete muitos jogadores entrelinhas, tem jogadores de toque, interessava-nos jogar com uma linha de 4 e outra linha de 4 para o Porto não se movimentar entrelinhas. Acho que o conseguimos fazer, acho que emperrámos muito a dinâmica do Porto. Por outro lado, sempre com um olho na baliza, essa é a nossa intenção, é o nosso ADN. Independentemente de estarmos a ganhar 1-0, acho que não viram um jogador nosso a mandar-se para o chão ou a passar tempo. Fomos sempre positivos no jogo, temos sido sempre. Procurámos defender o golo, mas nunca descurar a possibilidade de fazer o segundo. O Porto tem uma ou duas boas oportunidades, com o Taremi foi excelente. Acabámos por vencer um jogo dificílimo. O Sérgio Conceição está aqui a fazer um trabalho absolutamente fantástico.”

Época

“Igualámos os pontos do ano passado, com estas coisas todas, vendas de jogadores, aposta nos miúdos. Não vou repetir-me, já passei a cruzada de ter de falar nisto muitas vezes. Tive de o fazer. Temos responsabilidades até ao fim, vamos à procura de fazer pontos e, se possível, fazer melhor do que o ano passado no campeonato nacional.”

Braga diferente? Palavras de Pepe

“Somos defensivos em função da qualidade do adversário e onde o adversário coloca unidades para nos desmontar. O adversário tinha Pepe e Mbemba abertos, tinha o Grujic e trouxe o Vitinha para trás, com o apoio dos laterais. Com um posicionamento destes, nós mantivemos o posicionamento no 4-4-2, tentámos manter a pressão à frente com o Abel e Ricardo Horta, tentar não deixar que a bola entrasse dentro da nossa equipa, acho que o conseguimos na maioria do tempo. Depois, tentar explorar o que o jogo pedia. Se o jogo pedisse transição rápida, temos de manifestar a transição rápida, aí tínhamos de finalizar as jogadas porque o Porto se reagrupa muito bem e rapidamente. Se num momento não pudéssemos fazer, ficávamos com a bola, levávamos o jogo para a largura, de um lado e outro, tentámos tirar a pressão do porto, fomos procurando fazer isso. Temos um mérito tremendo porque jogámos contra um adversário que, obviamente, se já não perdia há 58 jogos no campeonato deve ser por alguma coisa, de certeza absoluta.”

Podia ter dado mais a época?

“As coisas têm uma lógica construtiva, é isso que temos dificuldade em perceber no futebol e até na vida. As coisas não nascem feitas. É impensável vendermos os jogadores que vendemos, assumirmos os jogadores que no ano passado não jogavam tanto e de repente pô-los a jogar à quinta-feira e domingo, quinta-feira e domingo… não é possível. Também não é possível substituir os jogadores que saíram e de uma penada pôr uma equipa a funcionar. É preciso trabalho, uma lógica de construção. Sempre disse, as nossas equipas têm tendência para crescer durante o campeonato. (...) Agora, fazer assim [estala os dedos], deixem-se de contratar treinadores e contratem-se mágicos, o David Copperfield podia ser um grande treinador. E não é."