Quando apareceu na equipa principal, na 2.ª Divisão, ainda por lá andavam futebolistas como Denilson, Oli, Ito e Toni Prats. O menino Joaquín Sánchez foi ganhando o seu espaço, era como um furacão pela direita. Potente e galgando metros com o pé dominante mais perto do cal, era um caso sério, com rumores que falavam num vento imparável. No final dessa temporada 2000/01, o Betis subiu de divisão ao lado do grande rival da cidade, juntamente com Tenerife, deixando o Atlético Madrid de Dani e Hugo Leal para trás, para mais um ano de angústia.
Quatro temporadas depois, já com 23 anos e com um Europeu e um Mundial disputados, jogou a primeira final da carreira profissional com o seu querido Betis. O Osasuna, treinado por Javier Aguirre, ainda levou a contenda para o prolongamento, mas os andaluzes venceram mesmo, com golos de Ricardo Oliveira e Dani Martín. Joaquín, já com o número 17, jogou os 120 minutos. Aquele troféu, que o clube conquistara apenas uma vez em 1977 (e uma liga em 1935), acompanhou-o a ele e a Susana no altar, quando disseram “sim” na igreja.
A seguir a esse duplo feito (Copa & boda), em 2006, mudou-se para o Mestalla, a troco de 25 milhões de euros. Com os clássicos como Morientes, Villa, Albelda, Baraja, Vicente e Canizares, com contributos de Miguel e Hugo Viana, o Valencia terminou na quarta posição e alcançou os quartos de final da Liga dos Campeões. Quique Flores era o treinador.
Por ali, Joaquín voltaria a conquistar a Copa del Rey, desta vez contra o Getafe de Michael Laudrup, que contava com os finos, finíssimos Rubén de la Red e Esteban Granero. Os de Valência ganharam por 3-1 e Joaquín nem saiu do banco, o que se tornou num assunto incómodo que evita comentar, tal como a relação com o então treinador, Ronald Koeman. Mas isso não beliscou o seu espírito festivo, mítico, já que foi na ressaca dessa conquista que, no balneário, surgiu uma icónica fotografia sua ao lado da taça, sem roupa e com o indicador esticado a sorrir para o céu. “Essa fotografia é uma montagem, eu não estou nu. Creio recordar-me que nessa foto eu tinha cuecas”, disse à "Marca", em novembro de 2018, entre risos e fintas verbalizadas.
Depois de várias temporadas no Valência, Fiorentina e Málaga, onde tropeçou em Manuel Pellegrini, o seu atual treinador em Sevilha, Joaquín regressou ao Betis. E assim, num piscar de olhos, já vamos na sétima época desde o retorno da lenda viva e útil. E têm sido tempos felizes.
Esta época, com o treinador chileno que deixa um legado de bom futebol e decência por onde passa, o Betis está a lutar por uma vaga na Liga dos Campeões e, tão ou mais importante, tenta conquistar a terceira Copa del Rey da história.
“Já não sei como falar para vocês, se como companheiro, amigo ou capitão, mas vou fazê-lo como bético porque sei o que sentem as pessoas que estão ali fora”, disse Joaquín, no vestiário, antes da segunda mão da meia-final da Taça. “Só o sacrifício leva à glória. O meu tio disse-me que não há nada mais bonito do que fazer as pessoas felizes. Vamos para a final!” Depois da vitória, por 2-1, em Vallecas, com golo decisivo de William Carvalho, o Betis empatou em casa (1-1) e garantiu a passagem à ansiada final, onde Joaquín vai reencontrar o Valencia, que tem Gonçalo Guedes como um dos trunfos da competitiva equipa de José Bordalás.
Aos 40 anos, serão 41 em julho e com a promessa de continuar, Joaquín Sánchez procura transformar-se no jogador mais importante do Betis, pelo menos no mais triunfador, com duas das três Copas do museu do Benito Villamarín. Com o coração que mete no jogo, com a alma de bético e com um humor que o torna mais normal e menos divino, ganhando ou perdendo, o futebolista será sempre um dos mais importantes desta história feliz pintada a verde e branco.
Se quisermos ser justos com o homem natural de Puerto de Santa María, o jogador até já ganhou duas Taças com o Betis, a primeira delas foi nos juniores, quando bateram o Real Madrid, em 1999. Na semifinal, conta o “El País”, os andaluzes passaram por cima do Barcelona, com quatro golos de um tal de Dani, com a camiseta 9. “Quem é aquele miúdo que joga pela direita?”, perguntou na bancada Louis van Gaal, o então treinador do Barça, a Lorenzo Serra Ferrer, que na altura era o diretor da formação blaugrana. Joaquín, com a camisola 7, fez três assistências.
E agora, mais uma vez, Joaquín e o Betis olham nos olhos a glória, uma espécie de hipótese renovada da imortalidade. “A verdade é que me apaixona esta competição, como a todos os béticos”, explicou o veterano. “É um torneio muito bonito e especial. Tenho amor à Copa e não páro de sonhar com uma noite mágica.”
Com outro tipo de futebol, menos potente e urgente, mais maduro e conhecedor, Joaquín só quer uma coisa nesta noite de sábado. “Daria tudo para levantar a Copa, de verdade. Poder estar noutra final 17 anos depois é uma recompensa tremenda por tantos anos de sacrifício. É viver outra noite mágica e o sonho de levantar outra Taça e fazer feliz a minha gente...”