Expresso

Selecionador norte-irlandês pede desculpa por dizer que “as mulheres são mais emocionais que os homens” e “não lidam bem” com golos sofridos

Após perder, por 5-0, contra a Inglaterra, num jogo que bateu o recorde de espetadores numa partida feminina na Irlanda do Norte, Kenny Shiels considerou que, "em todo o espetro do futebol feminino", há tendência para "conceder um golo" e não lidar bem com isso devido ao "desequilíbrio emocional"

Ramsey Cardy/Getty

A noite até prometia trazer boas notícias para a Irlanda do Norte. No histórico Windsor Park, a receção à Inglaterra, em partida a contar para a fase de qualificação do Mundial 2023, prometia ser histórica para o futebol feminino norte-irlandês. E as expetativas cumpriram-se.

15.348 pessoas assistiram ao duelo, um novo recorde de espetadores num embate de futebol feminino na Irlanda do Norte. E por larga margem: o anterior máximo eram os 4.500 que estiveram num jogo contra a Letónia no ano passado. Frente à Inglaterra, a histórica audiência testemunhou um claro triunfo visitante, com um pesado 5-0 para os locais, mas não foi o marcador que verdadeiramente "manchou" a noite.

Porque "manchar" foi o verbo usado pelo "The Guardian" para descrever o efeito que as palavras de Kenny Shiels, selecionador da Irlanda do Norte, tiveram. Na anterior partida, frente à Áustria, a equipa orientada por Shiels sofreu três golos em novo minutos e, contra os ingleses, a Irlanda do Norte encaixou dois golos entre os 52' e os 60' e outros dois entre os 70' e os 79'.

Kenny Shiels considerou, na conferência de imprensa depois do jogo, que, no futebol feminino, "quando uma equipa encaixa um golo, concede o segundo num curto espaço de tempo". E deu as suas razões para defender esta ideia: "Em todo o espetro do futebol feminino, como as raparigas e as mulheres são mais emocionais que os homens, encaixam um golo e não lidam com isso muito bem. Se olharem para as estatísticas, verão equipas a concederem golos ao minuto 18 e 21, e depois ao minuto 64 e 68, porque esses golos são emocionais", descreveu o treinador.

O selecionador disse que o "desequilíbrio emocional" das equipas de futebol feminino é "um problema", "não só para a Irlanda do Norte", mas para "todos os países do mundo."

Os comentários de Shiels não tardaram a ser criticados. Na "BBC Radio 5 Live", Siobhan Chamberlain, antiga guarda-redes de Chelsea, Arsenal, Liverpool ou Manchester United, disse que o treinador deveria "ser responsabilizado" por aquilo que disse. Com 50 internacionalizações por Inglaterra, Chamberlain sublinhou que, "nos cinco minutos depois de sofrer um golo", é "mais provável sofrer um golo, não só no futebol feminino, mas no masculino também".

"Generalizar somente para as mulheres é um comentário um pouco bizarro", opinou a ex-guardiã.

Também Ian Wright, um dos melhores jogadores ingleses dos anos 90 — ainda é o segundo melhor marcador da história do Arsenal —, criticou as palavras de Shiels. Wright escreveu, no Twitter, que o treinador disse "disparates" e que não viu a "quantidade de vezes" que o ex-avançado "chorou em campo".

Perante as diversas reações ao que disse, Kenny Shiels publicou, através do site oficial da Federação da Irlanda do Norte, um comunicado. O técnico "pediu desculpas" pelo seu "comentário" e pela "ofensa que possa ter causado".

"A noite passada foi um momento especial para o futebol feminino na Irlanda do Norte e eu tenho orgulho de orientar um grupo de jogadoras que são um modelo a seguir para tantas raparigas, e rapazes, no país", pode ler-se.