Expresso

Nélson Veríssimo: “Não vou criticar quem, a 20 metros da baliza, rematou e tentou fazer golo. Não podemos castrar um jogador”

O treinador do Benfica falou antes da segunda mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, contra o Liverpool (quarta-feira, 20h, TVI), após perder por 0-2 em Lisboa. Nélson Veríssimo salientou que a equipa deve ser equilibrada e, apesar de acreditar na reviravolta, lembrou que não pode "atirar-se para o jogo de forma muito aberta"

PATRICIA DE MELO MOREIRA/Getty

A ausência de Rafa e o Liverpool

“Relativamente ao Rafa, todos sabemos da importância que tem na nossa equipa, é um jogador com características diferenciadas, temos de lamentar a sua ausências, mas, de qualquer forma, temos soluções no plantel que certamente vão dar uma resposta positiva. Portanto, a questão é perceber o que vamos encontrar no jogo e encontrar o jogo que se adeque mais à estratégia.

Vamos com a ambição natural de quem acredita muito no que está a fazer, sabemos que levamos uma desvantagem de dois golos para Inglaterra, mas acreditamos que as coisas podem mudar. Se fazemos um golo primeiro, a eliminatória muda, ou pelo menos o rumo do jogo pode mudar e vamos com essa ambição. Apesar de termos perdido o jogo da primeira mão, fizemos a análise e certamente que vai haver situações e espaços que poderemos explorar, e nas oportunidades que tivermos teremos de ser muito eficazes na concretização. E consistentes no nosso processo defensivo, tendo em conta a forma de jogar do Liverpool.”

Benfica tem-se visto algumas vezes a perder nos jogos

“Temos de estar sempre preocupados quando sofremos golos, da mesma forma em que temos vindo a fazer consecutivamente golos. Agora, é preciso perceber de que forma surgem esses golos sofridos e trabalhar de forma a que esse erro não volte a acontecer. Sabemos que contra este Liverpool e os seus jogadores, há determinados comportamentos que devemos evitar, no sentido de fechar caminhos no posicionamento das nossas linhas defensivas, ter muita atenção aquilo que é o jogo de largura deles, mas também o jogo de profundidade.

Encontramos no Liverpool muitas dinâmicas coletivas trabalhadas há muito tempo, os jogadores individualmente acrescentam qualidade e, portanto, temos de ter consciência que temos de estar numa noite muito boa para não permitirmos os espaços que o Liverpool quer explorar. Temos vindo a trabalhar para isso e naturalmente acreditamos que vamos conseguir fazer o tal golo para relançar a eliminatória, além de estarmos com a consistência defensiva necessária para não sofrermos golos novamente.”

Os últimos 20 metros do campo e a definição das jogadas

“Acreditamos que o posicionamento da equipa, em termos ofensivos, tem de lá estar, mas também temos de dar liberdade e capacidade para o jogador decidir. Olhando para o que foi o nosso jogo com o Liverpool no último terço, sentimos que tivemos qualidade quando chegámos à frente, mas nem sempre tomámos as melhores decisões. Não vou criticar um jogador que, a 20 metros da baliza, já só tem os olhos na baliza, rematou e tentou fazer o golo em benefício da equipa.

Agora, antes de tomarmos essa opção, temos de olhar e perceber que há colegas que, em determinados momentos, estão em condição mais favorável. Fizemos essa análise e tivemos algumas situações com esse cariz, de respeitar a desmarcação e colocarmos a bola nesse colega com melhores condições para finalizar, mas não podemos estar a castrar um jogador que está à frente da baliza e pode rematar.

Agora, naturalmente que temos de ter a capacidade de perceber que, além da capacidade de rematar à baliza, pode haver colegas nossas em melhor posição, a quem passar, e depois sim, haver mais probabilidade de fazer o golo. Mas sim, tem muito que ver com o nosso posicionamento, mas depois as decisões e liberdade para os jogadores criarem e darem azo à sua criatividade e imaginação.”

Vai fazer alguma gestão a pensar no clássico com o Sporting?

“Não. Percebo a pergunta, mas não nos podemos esquecer que estamos numa eliminatória a que não chegávamos há cinco ou seis anos, estamos à porta — embora admitamos que numa posição desfavorável — de conseguir chegar às meias-finais da Liga dos Campeões, que neste formato o clube nunca conseguiu chegar. Vamos com essa perspetiva, com essa ambição, com esse sonho de que é possível, e vamos entrar com a equipa mais forte. Temos de olhar para a estratégia para o jogo e, em função disso, escolher os jogadores e acreditar que as coisas vão correr bem.”

O que vale mais: passar às ‘meias’ ou garantir a qualificação para a próxima época?

“Fez umas contas que ainda não tinha pensado nisso… mas obviamente que sim, pensei nisso. O jogo mais importante é com o Liverpool, indiscutivelmente. Sabemos os resultados que temos tido e a diferença pontual para os adversários mais diretos, não é uma questão de escolhas, mas de dar a mesma importância a todas as competições em que estamos envolvidos, independentemente de, depois, os resultados serem positivos ou negativos. O nosso foco é no jogo de amanhã [quarta-feira], assumindo que estamos numa posição delicada. O jogo com o Sporting vem a seguir.”

A cobiça por Darwin Núñez

“É a lei do mercado. Obviamente que jogadores como o Darwin e outros, que também são cobiçados, claro que o presidente e o staff os querem manter a todos, mas estamos num mercado de concorrência em que os clubes também precisam de dinheiro para a sua gestão diária. O Darwin está a ter uma evolução muito gande esta época, tem a sua qualidade inata e está a construir o seu caminho individualmente, está a suscitar a cobiça de vários clubes e se, no final da época, tiver de sair, temos de aceitar essa saída. Em Portugal, temos de perceber que as coisas são mesmo assim, temos de encarar isto de uma perspetiva de contratar jogadores, valorizá-los, potenciá-los e depois, provavelmente, há jogadores que não conseguimos manter e o Benfica não foge a isso.”

É mais importante marcar primeiro ou segurar o ímpeto do Liverpool?

“Olhando para o Liverpool, temos de controlar tudo na dinâmica do Liverpool, pela qualidade de jogo e individualidades que tem. O objetivo passa por fazer golo primeiro do que o Liverpool, com a consciência de que não podemos sofrer. A nossa abordagem tem de ser muito equilibrada e não nos podemos atirar ao jogo de forma muito aberta, porque aí vamos criar espaços para o Liverpool aproveitar, temos de ter essa consistência de aguentar, porque acreditamos que vai querer resolver o jogo nos primeiros minutos.

O nosso momento há de aparecer, a nossa oportunidade e golo também, depois temos de garantir o nosso equilíbrio, foi para isso que preparámos a equipa. Amanhã vamos com essa ambição e com essa crença que é possível, foi essa a mensagem que passámos porque também acreditamos.”

O que diz aos adeptos do Benfica?

“Mais do que eu dizer, é também sentirmos o que os adeptos nos transmitem e sentimo-lo quando fomos a Amesterdão e nos jogos que temos feito em casa, onde os sócios também estiveram connosco nos jogos que não correram bem. A quantidade de gente que sabemos que vai estar em Inglaterra, sentimos que querem apoiar a equipa e que estão connosco, mas que temos a responsabilidade de dar algo em troca, que é jogar bem e lutar pela vitória, eles sentirem que a equipa fez tudo para o conseguir. E, acima de tudo, que teve uma abordagem que transmite a ideia de que a equipa acredita que é possível.”

A equipa pode voltar mais moralizada de Inglaterra?

“Acredito que sim, aliás, olhamos para aquilo que tem sido o rendimento desta equipa na Liga dos Campeões, na fase de grupos e na forma como respondeu na eliminatória com o Ajax e no primeiro jogo com o Liverpool, e acho que tem tudo para correr bem. Os jogadores não têm dúvidas das suas capacidades e a equipa tem capacidade para dividir o jogo com o Liverpool, é isso que moraliza as equipas.”