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Macedónia do Norte: pouco arrojada taticamente, pouco complexa, mas contundente e agressiva (um retrato do adversário de Portugal)

O treinador e analista Blessing Lumueno traça o perfil da Macedónia do Norte, equipa que eliminou a Itália do play-off e que no último ano também bateu a Alemanha. Para estar no Catar, Portugal terá de aproveitar os espaços e evitar a agressividade dos balcânicos, uma equipa que joga simples, em poucos toques

MB Media/Getty

A seleção que destroçou o sonho italiano e há um ano desfilou vencedora em Duisburg, acalenta a esperança de conseguir um apuramento histórico para um Campeonato do Mundo. E se as estatísticas mostram muita coisa mas escondem o essencial, neste caso ajudam a entender a forma estratégica como esta equipa entra em campo. Costumam ser subjugados na posse de bola, no número de remates dentro e fora da área, bem como nos pontapés de canto ou no número de faltas conquistadas próximo da área adversária.

O selecionador Blagoja Milevski fez parte do período mais marcante do Estrela Vermelha de Belgrado, da extinta Jugoslávia. Apesar de não ter tido participação directa por não ser figura em 1991, viveu de perto a conquista a orelhuda, então conhecida como Taça dos Clubes Campeões Europeus, e a vitória na Taça Intercontinental, agora substituída pelo Campeonato do Mundo de Clubes. Desta feita, com responsabilidade directa, tenta com a qualificação para o Mundial do Catar entrar na história, conseguindo assim o maior sucesso desportivo de sempre do país.

A sua seleção pode definir-se, de forma geral, como sendo pouco arrojada do ponto de vista tático, sem grande complexidade nas dinâmicas, e com um seguimento das jogadas previsível. Partem do momento defensivo onde a agressividade é uma constante, para ataques pouco elaborados, com poucos passes, e com movimentos fáceis de identificar.

Organizam-se para defender num sistema de 1-4-4-1-1, onde o médio ofensivo (Elmas ou Bardhi) é o responsável por ajudar o avançado (Milan Ristovski) na pressão às primeiras linhas de construção e no condicionar do médio defensivo adversário. São contundentes a encurtar a distância para a bola, e muito agressivos na tentativa de a roubar ou forçar o erro. Quando atacam, o médio ofensivo fica entre linhas e o avançado a batalhar com os centrais. Há ordens para o avançado usar e abusar dos movimentos de profundidade, o que beneficia o irmão do antigo jogador do Sporting, por não ser muito refinado para jogar nos espaços curtos. É melhor nos duelos e a finalizar do que propriamente a jogar de frente para a equipa.

Ao médio mais ofensivo é pedido para definir ou aparecer de uma segunda linha. O jovem que sobressai em Nápoles, Elmas, deverá ser o escolhido. Tem o protagonismo que a sua qualidade merece, e é um dos que poderá surpreender pela criatividade se tiver espaço para isso. Falhou o jogo em Itália, mas deverá regressar ao onze pela qualidade e também pelo estatuto que tem.

Na linha média há Trajkovski, o herói de Palermo, pela esquerda. Joga com o pé direito para procurar por movimentos interiores e finalizar, e abre o corredor ao lateral-esquerdo. Junta-se muitas vezes a M.Ristovski nos, e para, os duelos, jogando quase como segundo avançado. Uma posição que não lhe é totalmente estranha por também a ocupar no seu clube. Dos médios, é o jogador mais preguiçoso a defender, e depois de ultrapassado demora muito tempo a reagir para entrar novamente em ação defensiva.

Há Bardhi, como médio centro. Constrói com muita qualidade, joga bem sob pressão, e executa bem. Tem alguma dificuldade no último passe, não obstante disso liga a equipa, limpa o jogo, e é bastante abnegado a defender. Contra a Itália jogou numa posição mais adiantada, e por isso teve menos bola - partiu da frente para receber de costas. Contra Portugal, jogando na posição que ocupa normalmente na seleção, jogará de trás para a frente. Sabendo-se que não será o jogo ideal para que a sua qualidade apareça, tendo em conta que a equipa não quererá elaborar muito o jogo no seu meio-campo defensivo, tem um entendimento muito bom com Elmas, e não tem receio de saltar da linha da construção para a criação se as circunstâncias o exigirem.