O que te pediam nas camadas jovens do Varzim? Não sei se na altura ainda jogavam com líbero, és de 1988.
Eu comecei a líbero. O meu melhor amigo, ainda hoje é, era o jogador de marcação. Eu sobressaía mais porque muitas vezes as bolas já vinham pingadas todas para mim [risos], tecnicamente já era mais refinado, digamos assim. Acabava por dar mais nas vistas do que o trabalho feio que ele tinha de fazer, mas depois, o facto de ter sido sempre trabalhado assim, sofri um bocadinho na transição de júnior para sénior, principalmente na equipa principal, no meu primeiro e segundo anos tive sérias dificuldades. Era II Liga, era aquela liga dos avançados, os campos mais pequenos, como Feirense, havia muito jogo direto e lançamentos [longos], jogavam muitas equipas com dois avançados, o tipo de treinador, não era esta II Liga de agora, que tem mais qualidade. Eu sofri com isso, eu sabia jogar, mas pouco sabia marcar, não era muito agressivo. Lá está, nunca fui exposto a muitos duelos. Depois, a minha leitura de jogo, antecipação e técnica não me serviam de tanto. O que eu era melhor não conseguia potencializar ali, era muito exposto a duelos, ao que eu era menos forte. Tive uma fase em que, no primeiro ano, joguei pouco. Tive a Liga Intercalar, que o Varzim até acabou por ganhar, foi o meu clique, comecei a levar porrada, a dar porrada, andava ali. Cresci um bocadinho no ginásio, não muito mas cresci um bocadinho, deu-me mais capacidade de choque. Percebi que tinha de ser por aí, que tinha de melhorar essa minha parte para ser um jogador muito mais completo.
Achas que fazia bem aos jovens que saltam das formações um ano na Segunda Divisão?
Por exemplo, há um caso: quando cheguei, apanhei numa pré-época o Daniel Bragança. Já lhe reconhecia muita qualidade, tudo o que era exercícios com o [Marcel] Keizer, de posse de bola, eu dizia "este miúdo é incrível, joga mesmo muito à bola", raramente falhava passes. Só que depois, quando íamos a jogo largo, senti "ahhh, já percebi". O Dani tem muito isto, mas se calhar falta-lhe isto. Acho que ganhamos coisas na Segunda Liga, nos 40 jogos que se fazem, é um ano para irmos buscar o que nos falta para podermos voltar e sermos mais fortes. Acho que o Dani agora, com a mesma qualidade, vai ao choque, ganha segundas bolas. Claro que foi muito do trabalho que ele fez aqui com o mister, que nos obrigou a muita coisa diferente, mas sei que os anos que ele passou no Estoril e Farense lhe deram outro tipo de capacidade, para poder estar preparado para este nível. O Dani já tinha quase tudo. Se tivermos uma oportunidade de ir um ano, com o treinador certo e equipa certa, acredito que é algo que nos dá muita aprendizagem e prepara-nos para o futuro.