Expresso

Horas após ter sofrido dores que “nunca tinha sentido na vida”, Taylor Fritz cumpriu a profecia que o pai lançou a caminho de Indian Wells

O norte-americano, de 24 anos, conseguiu a maior vitória da carreira ao vencer o torneio de Indian Wells. O californiano tornou-se no primeiro jogador a derrotar Nadal em 2022, mas antes da final uma entorse no tornozelo direito colocou a sua presença no duelo em risco, levando mesmo a sua equipa técnica a desaconselhar que disputasse o encontro. Filho de pai e mãe tenistas, Fritz — já famoso pelas suas recuperações quase milagrosas — cumpriu um "louco sonho de criança"

Matthew Stockman/Getty

O Indian Wells Tennis Garden é a casa do torneio de Indian Wells, o "paraíso do ténis", competição disputada no vale de Coachella, perto de onde se celebra o festival anual que reúne música, celebridades e outfits da moda. O Stadium 1 de Indian Wells é o segundo maior court fixo de ténis do mundo e, lá, Taylor Fritz derrotou Andrey Rublev nas meias-finais do torneio, garantindo-lhe acesso à primeira final de um Masters 1000 na carreira. E logo ali na Califórnia, a uns 234 quilómetros do seu Rancho Palos Verdes natal.

Mas os caminhos do paraíso podem ser duros. E o triunfo perante Rublev passou fatura a Fritz. Uma entorse no tornozelo direito debilitou-o e, horas antes do embate mais importante da carreira, a presença do norte-americano na final era uma incógnita.

Do outro lado, à espera, estava Rafael Nadal, a lenda dos 21 torneios do Grand Slams e dos 20 triunfos e zero derrotas em 2022. E, também, experiente nos trilhos da dor.

Taylor Fritz esteve uma hora a ser visto por um médico, antes de realizar uma sessão de aquecimento antes da final. E, aí, o sofrimento do californiano atingiu níveis máximos. "Nunca tinha tido uma dor assim na vida e pensei em desistir porque não queria que as pessoas me vissem com tantas dores", assumiu o jogador. Os três elementos da sua equipa técnica aconselharam-no a não disputar a final.

"Eu quero jogar. Eu consigo fazer isto. Quero entrar no court com o Rafa". Foi esta a resposta final que, segundo revelado pelo treinador Paul Annacone, o tenista lhe deu. E, lá em campo contra Nadal, Fritz venceu por 6-3 e 7-6 (5), erguendo o troféu de Indian Wells, de longe o maior triunfo da sua carreira, e terminando com a invencibilidade do espanhol na presente temporada — e com a série de 11 finais seguidas ganhas por Rafa.

A decisão de jogar foi tomada em cima do encontro. "A minha equipa não queria que eu jogasse, mas eu tinha de, pelo menos, tentar. Eles disseram que não concordavam, mas que me apoiariam e eu pedi-lhes desculpa por ser tão teimoso. Incrivelmente, não senti nada de especial durante o encontro", disse Fritz à imprensa depois da final.

Desde Andre Agassi, em 2001, que um tenista dos Estados Unidos da América não vencia no evento considerado o quinto major. Este foi somente o segundo título do percurso de Fritz, juntando-se ao de Eastbourne em 2019 e permitindo-lhe subir até à 13.ª posição do ranking ATP — que tem tido problemas técnicos e, por engano, coloca Fritz em 8.º. Se tudo isto já é, por si só, motivo de felicidade, há contornos familiares que aumentam a dimensão do atingido pelo atleta.

Taylor Fritz começou a jogar ténis aos dois anos, influenciado pelos seus pais, ambos tenistas. A mãe, Kathy May, chegou a ser top 10 do ranking feminino e a atingir os quartos de final de Roland Garros e do US Open.

Quando era criança, os pais tinham por hábito levar Taylor a ver o torneio de Indian Wells, conduzindo as cercas de dois horas que separam a localidade de Rancho Palos Verdes até ao tennis paradise. E, segundo uma história contada pela ATP, numa dessas viagens o pai de Taylor disse ao filho que, um dia, este venceria o título de Indian Wells. E o dia chegou.

Taylor Fritz com a sua mãe, antiga jogadora de ténis
Clive Brunskill/Getty

"Este era um dos meus loucos sonhos de criança. Ganhar aqui é muito especial. Ainda me parece completamente surreal que tenha conseguido vencer", confessou o jogador após a final, voltando a sublinhar que "é até ridículo" ter entrado em court com as dores que sentiu no aquecimento.

Para Taylor Fritz, recuperações de problemas físicos que se assemelham a pequenos milagres não são novidade. No torneio de Roland Garros de 2021, o norte-americano saiu do court numa cadeira de rodas, tendo de ser operado a uma lesão no joelho. Menos de um mês depois, Fritz estava a jogar em Wimbledon, chegando à terceira ronda do Grand Slam inglês, só perdendo em cinco sets contra Alexander Zverev.

Após nova recuperação que parecia impossível, Fritz dizia para si, constantemente, "no way, no way" ("não é possível, não é possível"), sinal evidente da improbabilidade do alcançado. Há muito considerado uma promessa do ténis — terminou o ano de 2015 como número 1 do ranking júnior, após vencer o US Open da categoria e bater, ao longo dessa temporada, futuras estrelas como Tsitsipas, Shapovalov ou Rublev —, Fritz, que em 2019 se tornou no norte-americano mais jovem no top 25 desde Andy Roddick, vai dando passos para se tornar na referência no ténis masculino que os EUA não têm tido.

"Todas estas entrevistas vão ser muito difíceis para mim porque eu choro com muita facilidade quando estou feliz", disse o vencedor de Indian Wells após a final. As lágrimas que não paravam de lhe escorrer pelas lágrimas eram bem diferentes da frustração que assumiu sentir quando a possibilidade de nem entrar em campo para defrontar Rafa Nadal parecia bem real. Mas, habituado a superar a dor, Fritz cumpriu o sonho do menino que ia ver os ídolos a Indian Wells.