A Aethel Partners, uma empresa inglesa que se apresenta como gestora de ativos em dificuldades, fez uma proposta para adquirir o Chelsea, de que Roman Abramovich se começou a desfazer devido às sanções impostas pelo mundo ocidental à Rússia e aos seus milionários.
De acordo com a imprensa inglesa, a proposta — que concorre com mais de 20 propostas credíveis, segundo noticia a "BBC" — pretende a injeção de 50 milhões de libras no clube no imediato (uma espécie de fundo de maneio para resolver os problemas no curto prazo), sendo que o negócio total está avaliado em 2 mil milhões de libras (cerca de 2,4 mil milhões de euros).
Sem experiência prévia no futebol, Ricardo Santos Silva e Aba Schubert são os nomes que estão por trás desta gestora de private equity, tipo de entidades que investem em empresas em dificuldades, para as reestruturar e vender posteriormente.
A Tribuna Expresso tentou contactar Santos Silva, mas sem sucesso até ao momento. Contudo, conseguiu confirmar junto da sua assessoria que foi entregue a proposta e que os valores citados são reais. Não há, porém, comentários sobre onde é que conseguirá o financiamento para a operação, nem se há investidores a acompanharem.
Os nomes do português, que chegou a ser funcionário do Banco Espírito Santo de Investimento, e da norte-americana, não são novos em Portugal: em 2015, um ano depois da sua constituição, a Aethel Partners quis adquirir o Banco Efisa, banco de investimento que pertence ao Estado desde que nacionalizou o BPN. Nesse processo, o investimento seria feito juntamente com outros investidores através de um veículo, chamado Pivot, em que havia acionistas como o ex-ministro Miguel Relvas e o ex-governador do Banco Nacional de Angola Mário Palhares. A proposta rondava os 38 milhões de euros, acima da concorrência.
Só que a autorização do Banco Central Europeu (BCE) para esta operação nunca chegou, e o contrato caiu. A venda do Efisa foi então abortada (em 2022, o Governo prepara a liquidação deste banco estatal).
Interesse de mais de 3 mil milhões pelo Novo Banco
A Aethel não foi bem-sucedida nessa operação, mas não desistiu da banca portuguesa. Sondou o Banco de Portugal e o Ministério das Finanças para adquirir o Novo Banco em 2017. Não chegou a haver uma proposta formal, mas a carta de intenções apontava para uma compra por 3 mil milhões de euros, sujeita a condicionalismos devido à situação do banco, acrescida da intenção de colocar mais mil milhões para capitalizá-lo. Muito acima dos valores pagos pela Lone Star, que nada pagou, comprometeu-se a pôr mil milhões de euros e conseguiu que o Fundo de Resolução colocasse até 3,89 mil milhões no banco.
Também aqui não houve sucesso para a firma com sede em Londres — o banco foi para a americana Lone Star. Só que houve um problema: Sérgio Monteiro, que na altura estava a liderar o processo, admitiu no Parlamento, na recente comissão de inquérito ao Novo Banco, que o Banco de Portugal temia que houvesse uma ligação da Aethel à família Espírito Santo: “sei que houve essa preocupação e posso confirmá-la”.
Ligações ao GES?
A Aethel veio negar qualquer ligação à família Espírito Santo. “Falsas e difamatórias” foi como classificou as declarações de Sérgio Monteiro, num comunicado em que a firma londrina garantia que “não tem nem nunca teve qualquer relação com a família Espírito Santo”.
Há poucos meses, em outubro, o Expresso contou que, de acordo com a fuga de investigação Pandora Papers, a Aethel Partners tomara posse de uma companhia off-shore, a Clippon Finance, no Panamá, que serviu para o Grupo Espírito Santo pagar subornos na Venezuela. Um cavalo de tróia do GES? Santos Silva respondeu que a Aethel compra “ativos em dificuldades” e que a aquisição da Clippon “foi efetuada nesse contexto”.
Esta empresa, com a qual colabora Miguel Relvas (em 2018 foi contratado pela Dorae, empresa do grupo, que fez um acordo com o Governo da República Democrática do Congo para aplicar a tecnologia blockchain na certificação das minas de cobalto e coltan), também adquiriu a licença de exploração das minas de ferro de Moncorvo (a antiga MTI – Ferro de Moncorvo chama-se hoje Aethel Mining Portugal). E aí a Aethel já enfrentou problemas com um sócio nesse investimento.
Ofertas até sexta
Depois de incursões falhadas no setor bancário português, a gestora liderada por um português quer adquirir um clube nas mãos de outro português. O russo (com passaporte português num processo agora investigado pela justiça nacional) Roman Abramovich colocou o Chelsea à venda, mas não conseguiu continuar a liderar o processo devido à efetiva colocação de sanções como resposta da União Europeia à invasão da Ucrânia levada a cabo pela Rússia.
As propostas pelo clube inglês, que já serão mais de 20 nomes, podem ser apresentadas ao governo britânico. O prazo termina esta sexta-feira, 18 de março, e a transação pretende limitar os impactos de perdas de patrocinadores e congelamento de contas.