As notícias que chegam do outro lado do Atlântico são animadoras e dão sinais de melhorias para as mulheres no desporto. Recentemente, as jogadoras da seleção de futebol feminino dos Estados Unidos venceram uma luta de anos na justiça em busca da igualdade salarial, além de terem conseguido uma compensação de 21 milhões de euros por todos os anos em que receberam menos do que a seleção masculina. O problema é que do lado de cá essa não parece ser a tendência.
Através do contacto com agentes, jogadoras e treinadores, em representação de um total de 70 jogadoras da liga inglesa de futebol feminino, o “Telegraph Sport” conseguiu perceber quanto ganham as protagonistas da principal divisão de Inglaterra. Há futebolistas a ganharem ‘apenas’ 20 mil libras (24 mil euros) por ano e, mesmo olhando para os salários mais elevados, percebe-se que as mais bem pagas continuam a ganhar muito menos do que os seus homólogos masculinos.
Os últimos anos têm sido de crescimento. Ganhar a vida no futebol feminino em Inglaterra ou em qualquer outra parte do mundo é um fenómeno muito recente. Até mesmo as jogadoras que começaram a ser pagas por jogar futebol viam-se obrigadas a conciliar o desporto com um segundo emprego para conseguirem pagar as contas. Em alguns casos, esse cenário ainda é uma realidade. No Reino Unido, a situação começou a melhorar quando, em 2011, foi lançada a Women’s Super League (WSL), mas, principalmente, a partir de 2018, quando a liga se tornou profissional.
Aumentou o número de jogadoras, de adeptos e de jogos com transmissão televisiva. Até os salários subiram, mas ainda são uma pequena percentagem daquilo que ganham os homens que desempenham exatamente as mesmas funções.
A investigação descobriu que os salários atuais variam entre as 20 mil e as 250 mil libras (300 mil euros) por ano, mais bónus, nos 12 principais clubes. Entre salários do funcionários administrativos e das jogadoras, o Birmingham City e o Tottenham Hotspur são os clubes que gastam menos dinheiro. No outro extremo estão clubes como o Manchester City e o Arsenal.
Quando se trata do futebol no masculino, os números são astronomicamente diferentes.
Os 10 jogadores mais bem pagos da Premier League levam para casa cerca de 250 mil libras por semana, que é como quem diz, 52 vezes mais do que as melhores jogadoras da liga feminina ganham atualmente.
Um dos motivos prende-se com o facto de alguns contratos estarem desatualizados, por terem sido assinados antes da profissionalização da liga. Mas sobre os salários que, aos poucos, estão a crescer graças a aumentos ou a oportunidades com marcas e patrocínios, Carla Ward, treinadora do Aston Villa que, no seu tempo como jogadora, ganhava apenas 50 libras (60 euros) por jogo, pede prudência. Até porque, considera, o próprio jogo ainda precisa de crescer.
“Se aumentarmos os salários demasiado cedo, isso pode afundar as equipas. É aí que temos de ter muito, muito cuidado para não irmos demasiado cedo”, disse Ward. “Isso porque as multidões ainda não estão lá, as receitas comerciais ainda não estão lá. Estamos a chegar lá, mas também temos de tomar medidas em vez de tentar correr antes de podermos andar. Sejamos realistas e protejamos o jogo das mulheres em vez de o destruir”.
A boa notícia é que a realidade inglesa não é a realidade europeia. Ou pelo menos de um dos países. A mesma investigação concluiu que o gigante europeu Lyon continua a ser o clube que paga os salários mais altos às jogadoras na Europa. O jornal concluiu que algumas das maiores estrelas do clube francês ganham cerca de 500 mil euros por época.