O que se sabe sobre a situação atual de Brittney Griner não é muito, o que diz bastante quando estamos a falar de uma das melhores basquetebolistas do mundo. Em resumo, a jogadora de basquetebol norte-americana estava na Rússia para, como fazem várias atletas quando a WNBA está parada, jogar por um segundo clube, quando foi detida no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscovo. A acusação surgiu por Griner estar na posse de estupefacientes como óleos canabinoides, vaporizadores e outros produtos relacionados. Tudo isto num momento em que a relação entre a Rússia e os Estados Unidos não é a melhor, em consequência da invasão por parte dos russos à Ucrânia.
Os serviços alfandegários russos informaram que tinha sido aberto um processo penal pelo crime de tráfico de estupefacientes, uma acusação que poderia levar a uma pena de até 10 anos de prisão. Foi ainda divulgado um vídeo de uma viajante, que parece ser Griner, a passar pela segurança do aeroporto com uma mala e uma mochila, seguido de imagens de alguém a examinar um pacote que aparentemente teria sido retirado da mala.
A partir daqui, são poucas as certezas.
O momento no aeroporto ocorreu em fevereiro, de acordo com os serviços alfandegários, levantando a possibilidade de Griner ter estado sob custódia durante vários dias. A sua última publicação no Instagram foi feita no dia 5 de fevereiro. Sendo assim, fica em aberto a hipótese de o caso ter estado em segredo durante semanas antes de as autoridades russas terem optado por divulgá-lo.
Também não está claro se a Rússia poderá ter identificado Griner como alvo de influência contra os Estados Unidos, que foi um dos países que optou por impor graves sanções à Rússia na sequência da invasão ordenada por Vladimir Putin à Ucrânia. Até porque entre o grupo de mais de uma dúzia de jogadoras da WNBA que estava a disputar as ligas russa ou ucraniana, apenas Griner ainda não regressou aos Estados Unidos, de acordo com um porta-voz da liga norte-americana.
Evelyn Farkas, conselheira de segurança nacional americana, que já trabalhou como vice-secretária assistente de defesa para a Rússia e Ucrânia, disse ao website “Yahoo Sports” que a jogadora pode ser vista como uma “refém de alto nível”, pois poderia servir como uma valiosa moeda de troca entre os dois países.
“Se a quisermos fora da prisão, a Rússia vai ter alguns termos. Pode ser uma troca de prisioneiros. Poderiam também usá-la como uma ameaça implícita ou chantagem para nos levar a fazer algo ou não fazer algo. Seja como for, eles acham-na útil”, afirmou.
A informação divulgada pelos representantes da jogadora e as Phoenix Mercury, clube da WNBA onde joga, não esclarece nada em relação à situação atual de Griner, onde se encontra ou se está em perigo. Numa declaração divulgada no passado sábado, a agente Lindsay Kagawa Colas afirmou: “Estamos a par da situação com Brittney Griner na Rússia e estamos em contacto com ela, com a sua representação legal na Rússia, com a sua família, com as suas equipas, e com a WNBA e a NBA”. A equipa disse o mesmo, acrescentando que a principal preocupação neste momento passa pela “sua segurança, saúde física e mental e o seu regresso a casa em segurança”.
William Partlett, professor na Faculdade de Direito da Universidade de Melbourne e especialista em política russa, garantiu ao mesmo website que a jogadora está em “mais em perigo agora do que teria estado antes da invasão”. É através de negociações que estes casos costumam ser resolvidos, mas neste momento “há muito menos presença consular dos EUA na Rússia para ajudar com o caso de Brittney”, disse.
Assim como Farkas, Partlett acredita que o próprio julgamento da jogadora pode estar em causa: “É provável que o juiz e os investigadores estejam à espera de instruções de cima sobre como proceder e isto pode incluir uma tentativa de usar a sua libertação como moeda de troca”.
O governo norte-americano já fez saber que existe uma equipa a trabalhar nos casos dos cidadãos norte-americanos presos na Rússia, incluindo o da jogadora.
“Sempre que um americano é detido em qualquer parte do mundo é claro que estamos prontos a prestar toda a assistência possível, e isso inclui na Rússia. Temos uma equipa da embaixada que está a trabalhar nos casos de americanos que estão detidos na Rússia. Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para garantir que os seus direitos sejam defendidos e respeitados”, disse Antony Blinken, secretário de estado, à ESPN.
Preocupante é também o facto de este não ser o primeiro caso deste género de que há registo. Entre outros, há o de dois ex-fuzileiros navais. Trevor Reed, que alegadamente entrou numa discussão com agentes da polícia russa, e Paul Whelan, que foi acusado de espionagem.
“É um lembrete para as pessoas que fazem negócios na Rússia, que vivem na Rússia e que viajam para a Rússia de que não existe um estado de direito”, disse Farkas. “Na Rússia, não se está protegido”.
Brittney Griner tem 31 anos e é um dos nomes grandes do basquetebol feminino norte-americano. Vencedora de duas medalhas olímpicas, a última das quais nos Jogos de Tóquio, divide o seu ano entre a WNBA, onde joga nas Phoenix Mercury, e a Europa, representando o Ecaterimburgo desde 2014.