“Ohhh Kevin de Bruyyyyneee, ohhhh Kevin de Bruyyyyneee”
Enquanto no campo a superioridade da sua equipa sobre o rival citadino era evidente, nas bancadas os adeptos do Manchester City iam prestando tributo ao capitão de equipa e melhor jogador desta máquina de futebol no cômputo global dos últimos seis anos. Ao autor de dois golos e uma assistência no dérbi.
Para que o City derrotasse, por 4-1, o Manchester United, muito contribuiu o brilhantismo de Kevin de Bruyne, um médio que, massacrado por lesões, foi perdendo regularidade e momentos importantes ao longo do passado recente, o que, porventura, o impediu de ascender a um patamar ainda mais elevado. Por vezes, quando o todo-campista com pinta de Tintim acelera, tentando mudar de velocidade, notam-se os efeitos das lesões que o foram limitando, mas na inteligência, na leitura do espaço e na qualidade da execução a mestria mantém-se.
Sem os lesionados Rúben Dias e Cristiano Ronaldo, João Cancelo e Bernardo Silva foram os portugueses na equipa local e Bruno Fernandes o luso nos visitantes — Dalot não saiu do banco. Com a canhota feita varinha mágica de Mahrez a fazer os outros dois golos do City, Manchester voltou a pintar-se de sky blue, com o azul celeste dos líderes da Premier League.
Dias antes de receber o Sporting, o Manchester City demorou somente cinco minutos a marcar, com Bernardo Silva a servir Kevin de Bruyne para o 1-0. O Manchester United foi ao Etihad jogar como aquilo que é: um conjunto muito inferior ao de Guardiola. Rangnick apostou numa estrutura sem um ponta-de-lança, com quatro médios — Fred, McTominay, Pogba e Bruno Fernandes — e dois avançados — Sancho e Elanga — que partiam das alas em busca de ferir a defesa adversária.
Aos 22′, o plano pensado pelo técnico alemão funcionou na perfeição. Pogba e Bruno Fernandes ligaram numa saída, com o francês a solicitar Jadon Sancho. De regresso ao clube do qual saiu para rumar ao Borussia Dortmund, o inglês bailou à frente de Walker e Rodri e, com classe, fez o 1-1.
Mas uma jogada concreta, fruto da grande qualidade de algumas individualidades do Manchester United, não consegue maquilhar anos de competência de um lado e incompetência de outro. Seis minutos depois do empate, um lance brilhante de Foden — que não terá querido ficar atrás do seu amigo de adolescência Sancho — só foi travado pela agilidade de David de Gea. No entanto, depois de alguns ressaltos e carambolas, a bola foi parar aos pés de De Bruyne, os melhores para o City e os piores para o United. 2-1.
Na segunda parte assistiu-se ao acentuar da superioridade de uns e inferioridade de outros, resumindo as trajetórias de ambos ao longo das últimas épocas. O Manchester United nem pressionava como se pensaria que faria com Rangnick nem era consistente a defender e perigoso a sair em transição como, por vezes, logrou fazer neste tipo de cenários com Solskjaer.
As defesas explosivas de David de Gea iam evitando o avolumar do resultado — Cancelo, num tiro acrobático, esteve perto do melhor golo da carreira —, mas os contornos de goleada chegaram nos pés de Mahrez — auxiliado por De Bruyne, claro.
Aos 68′, o belga fez a bola viajar para a entrada da área. A direção era a correta, mas a bola vinha do céu, lá do alto, pouco amigo de pés que não saibam transformar objetos voadores em remates precisos. Só que um pé capaz disso é o de Mahrez. Transformando o rude em suave, o argelino disparou para o 3-1.
Já com De Bruyne substituído, e nuns minutos em que o Manchester United implorava pelo apito final, veio o 4-1. Isolado por Gundogan, Mahrez, milimetricamente em jogo, fixou o resultado.
Com esta vitória, o Manchester City garante triunfos em ambos os dérbis da cidade na Premier League 2021/22. Tem mais 22 pontos do que o seu rival. Nas bancadas estava Alex Ferguson, que quando Manchester era vermelha apelidou o City de “vizinho ruidoso”. Quase nove anos depois da saída do escocês do banco de Old Trafford, Manchester é azul celeste, o City é o dono da cidade e o United é o vizinho penoso.