Dongo é um vilarejo de pouco mais de 3 mil habitantes construído ainda na época romana nas margens do Lago Como, no norte da Itália. Está a poucos quilómetros da Suíça, país que conseguiu a proeza de se manter neutral nas duas guerras mundiais que devastaram a Europa no início e a meio do século XX. Os dois países têm relações históricas há séculos e já depois da II guerra mundial começar, no auge do poder de Benito Mussolini, ainda disputaram dois jogos amigáveis (a Itália perdeu um e empatou outro).
Nesta zona da Lombardia, fala-se italiano de um lado e do outro da fronteira e há pouco mais de 76 anos foi palco de um dos acontecimentos mais brutais da II guerra mundial.
Em abril de 1945 a Itália estava dividida ao meio. O sul era governado por forças leais aos aliados que tinham desembarcado na Sicília dois anos antes e virado o destino da guerra.
A norte, Benito Mussolini, Il Duce, governava a República de Saló, um Estado-fantoche do regime nazi. O líder fascista já tinha sido capturado pelos aliados, mas uma espetacular operação de um comando de paraquedistas nazis tirou-o da prisão, nos montes Apeninos e instalou-o no poder.
A 28 de abril de 1945, em Milão, Il Duce embarcou num comboio de tropas nazis que fugiam para a Suíça. Viajava com Carla Petrucci, a amante. Ia de fato, meio disfarçado. Mas já a chegar à fronteira, em Dongo, o comboio foi intercetado pela resistência italiana comunista, os "partigiani".
Não houve combate porque os soldados alemães concordaram em abrir mão dos passageiros italianos a troco de poder seguir viagem. Os 60 italianos - líderes fascistas e as famílias - foram obrigados a apear-se e Mussolini nem sequer foi imediatamente reconhecido.
Quando isso aconteceu, foi levado para outro vilarejo com a mulher. Os resistentes descreveram um homem "de rosto de cera" mas "sem medo" e como se "tivesse desistido de viver". No dia seguinte, a 29 de abril, depois de um "julgamento popular" do comando de partigiani foi fuzilado com a mulher. Outros vinte passageiros foram igualmente executados.
Os corpos de Mussolini e de Petrucci foram levados para Milão onde foram expostos à multidão, pendurados de cabeça para baixo numa bomba de gasolina. Il Dulce seria sepultado numa campa sem nome, mas o cadáver foi resgatado por apoiantes fascistas e acabou por ser sepultado num jazigo da família. É um local de culto e o município teve de proibir a venda de memorabilia fascista.
Nunca se soube quem disparou contra o ditador italiano, o primeiro líder fascista a tomar o poder na Europa. Em 1934, cinco anos antes da guerra começar, Mussolini usou o futebol para promover a ideologia fascista e organizou o segundo Mundial da história, que terminaria com a vitória da Itália.
Sete meses depois e já depois da guerra, Itália e Suíça voltaram a disputar um jogo de futebol amigável. Terminou empatado a quatro bolas. Lauro Amadò, um suíço de Ticínio, o destino onde Mussolini nunca chegou, fez três golos para os helvéticos.