O fim da fase de grupos deste Euro2024 dá-me a oportunidade de esboçar breve balanço sobre os jogos disputados.
A primeira consideração - e de longe, a mais satisfatória - é a alegria que sinto enquanto português pelo sucesso da nossa seleção, que assegurou a passagem à fase seguinte final com mérito (e sem precisar da calculadora).
A este propósito, fica a opinião de quem sente aquela equipa como sua, mas que respeitará sempre as opções de quem tem legitimidade para as tomar: Roberto Martinez fez muito bem em apostar num onze alternativo, tendo em conta o enorme talento que tem em mãos. O sucesso também se faz de motivação e, como diz António Sérgio, por detrás de cada atleta há um homem.
Às vezes corre bem - quem não se lembra do sensacional hat-trick de Sérgio Conceição na baliza de Oliver Kahn, quando Portugal derrotou a Alemanha por três a zero, num jogo do Euro 2000 que já não precisávamos vencer? -, às vezes não. Faz parte.
Que venha a Eslovénia, com os ensinamentos que a Geórgia nos deu. E por falar em Geórgia, vale a pena sublinhar - sem pinga de nacionalismo provinciano - que a equipa de arbitragem liderada pelo suíço Sandro Schärer cometeu aquele que foi provavelmente o erro mais evidente da competição até à data: o de não assinalar um penálti muito claro, por agarrão de Lochoshvili a Cristiano Ronaldo. Esse foi um daqueles que a UEFA dificilmente perdoará. O mais certo que árbitro e VAR estejam já de malas feitas para regressar a casa. Aos mais alto nível, erros assim pagam-se caro.
Quem merece continuar em competição é Soares Dias e equipa: os árbitros portugueses tiveram prestações muito competentes nos jogos realizados até agora e é quase certo que serão premiados com a continuidade no certame. A confirmar-se, é algo que nos deve encher de orgulho.
A outro nível, o meu profundo desagrado pela escolha de palavras com que Steve Clark, técnico escocês, comentou a atuação de Facundo Tello, argentino que dirigiu o jogo da Escócia com a Hungria.
Uma coisa é criticar tecnicamente o trabalho dos árbitros, outra é recorrer a um discurso quase xenófobo para pôr em causa a qualidade e, se calhar, seriedade do juiz da partida. Foi muito feio, totalmente desnecessário e de um mau perder épico.
Clark referiu-se a um alegado penálti (não assinalado) por alegada infração sobre Stuart Armstrong. O lance foi extremamente discutível, por levantar uma dúvida muito comum neste tipo de jogadas: o avançado escocês protegeu a posse de bola com o corpo quando se deu o contacto com o defesa que vinha atrás ou foi ele quem procurou esse contacto, colocando o corpo na trajetória de corrida daquele? Neste tipo de lances, a minha análise é quase sempre a mesma: se o atacante inicia contacto deliberadamente, movimentando-se para o lado de onde vem o adversário, não pode ser premiado por isso.
De resto, arbitragens globalmente muito competentes e com decisões acertadas em lances relevantes (recordo o golo bem anulado aos Países Baixos por fora de jogo de Dumfries, cuja proximidade e colocação foram suficientes para impactar na possível movimentação do guarda-redes adversário).
Nota final para o apoio inestimável que a tecnologia continua a oferecer à verdade desportiva, salvando muitos golos (e pontos) só nesta etapa da prova.
De novo, uma chapada de luva branca a tantos que ainda desejam que o futebol volte a ser o que foi noutros tempos.
É lidar.