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Entrevistas Tribuna

Suds é diretor de Football Intelligence na Atalanta e “nem tudo é matematicamente possível de resolver no futebol”. Por enquanto, claro

Licenciado em matemática, Sudarshan Gopaladesikan começou por trabalhar na Microsoft, mas um contacto com Zidane e Ancelotti mudou-lhe a vida. Especialista em análise de dados e estatística, esteve no Benfica, onde diz que tirou um “doutoramento em futebol” e está, agora, num dos clubes modelo do futebol internacional. Tentando usar a big data para “melhorar a cadeia de informação relacionada com a performance”, o norte-americano explica, em conversa com a Tribuna Expresso, o seu trabalho, no qual “a parte mais difícil é quando os dados mostram algo que vai no sentido inverso ao que os olhos veem”
FIFA

Sudarshan Gopaladesikan — ou Suds, como também lhe chamam — era mais um matemático que se juntara a uma grande empresa nos Estados Unidos. Em 2014, o recém-licenciado foi para a Microsoft, mas a paixão pelo futebol e o “estar no local certo à hora certa” mudaram-lhe a vida.

Um e-mail a perguntar se se queria reunir com Carlo Ancelotti mudou-lhe a vida. A ideia era discutir caminhos a desbravar no então pouco explorado casamento entre o futebol e a estatística avançada, num encontro que também teve Zinedine Zidane à mistura.

Passaram 10 anos daquela reunião que começou a escrever uma nova história para Sudarshan. Após a experiência com o Real Madrid, o norte-americano foi trabalhar para o Benfica, respondendo a questões que a estrutura lhe colocava, antes de ir para Atalanta, onde é diretor de football inteligence nos vencedores da Liga Europa.

Mas o que faz Suds? Em conversa com a Tribuna Expresso após ter participado no Thinking Football Summit organizado, no Porto, pela Liga de Clubes, o matemático explica como se utilizam os dados e os modelos estatísticos num clube de futebol de elite, trazendo o melhor do conhecimento das universidades para um emblema modelo como a Atalanta. Definindo-se como um “super suplente”, capaz de acrescentar quando é chamado, destaca a “vantagem” que pode ser “olhar para os jogadores de forma diferente do que o resto do mercado”, arte em que a equipa de Bergamo se tem destacado.

No entanto, por muitos algoritmos e números e estatísticas que existam, Suds não duvida: “O mais importante será sempre como utilizas a informação. O foco está nas pessoas.”

Todos sabemos o que faz um treinador ou um jogador. No teu caso, pode ser menos óbvio. Como definirias o teu trabalho?
Diria que sou a pessoa responsável por melhorar a cadeia de produção de informação relacionada com a performance dentro do clube. Perdoa-me se divagar um pouco, mas vou tentar responder utilizando analogias. Pensa nos dados como um excelente restaurante ao qual vais com a tua namorada. Quando vais lá, não importa só que a qualidade da comida seja boa, mas a qualidade do serviço também importa. Preocupo-me bastante em ter bons produtos e um bom menu, mas também com a apresentação do prato e o serviço que prestamos. A estatística perfeita no futebol ainda não existe, pelo que, com o que temos disponível, é fundamental colocar o foco em como apresentamos o conhecimento que obtivemos graças aos dados.

Num trabalho, até agora, sobretudo relacionado com o mercado de transferências?
Sim, sobretudo com o mercado de transferências. Quando constróis uma cultura de dados dentro de um clube, devemos tentar começar pelas coisas onde podemos ter mais impacto. É mais fácil criar confiança se conseguires mostrar o impacto da estatística no resultado final. É possível ter impacto na análise de jogo ou em certos aspetos físicos, mas é muito mais fácil entender os resultados no mercado de transferências em comparação com tudo o que influencia estratégias de jogo ou a prestação física de um atleta.

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