Olá, Inês. Vamos falar de bola?
Sabes que eu não domino como tu, não é? Gosto, mas até um certo ponto, porque depois também gosto muito de batons e coisas assim. Não domino as táticas e as cenas, mas gosto do todo.
Não te interessa muito a parte do 4-4-2 e do 4-3-3?
Não. Já sei que o Capucho vai adotar o 4-4-2, não é? Sei isso, mas nunca consigo avaliar essas coisas. Avalio... Primeiro o ir ao estádio, que é uma coisa que mexe imenso comigo, é como ir a um concerto, é sempre uma emoção que te ultrapassa. Adoro fazer daquela multidão, ser uma no meio daquelas pessoas todas. E depois gosto muito de perceber quem é que tem raça, quem é que não desmobiliza... percebes? Nem tinha pensado nisso, confesso, mas se calhar é sempre pelo lado mais emocional.
É a altura certa para fazer aquela pergunta ofensiva: sabes o que é um fora de jogo?
Sei o que é um fora de jogo, mas se me perguntarem assim: 'achas que foi fora de jogo?' Se calhar já fico assim um bocado na dúvida.
Aqueles programas televisivos de debate futebolístico à segunda-feira à noite não te interessam muito, então.
Não, não, isso não me interessa de todo. Nem pensar, não vejo. Não alimento guerras. Durante um tempo mexia comigo a guerra Porto-Benfica. Ficava um bocado cega em relação ao benfiquismo. Mas isso diluiu-se, até estou um bocado desiludida comigo.
Porquê?
Não sei. Gostava dessa picardia, mas depois com as mexidas, o entra e sai do Jesus... Acho que o futebol mudou.
Será que sentes isso pela falta de símbolos no FC Porto?
Na época passada o Rio Ave aproximava-se perigosamente do Porto, não só em termos de tabela classificativa mas em termos de instabilidade de resultados. Temos de admitir que o Rio Ave é um clube mais pequeno, com pouco dinheiro, sem craques... Tanto vive de poder dar um 3-0 ao Benfica [ri-se muito], como perder 4-1 com o Porto ou com o Braga, ou seja, não tem a estabilidade que tinham Benfica e Sporting na época passada. O Porto entrou neste campeonato da instabilidade. Foi uma equipa que perdeu magnetismo.
Lá está, é o lado emocional.
Acho que é a questão emocional. O Lopetegui era um tipo a quem nunca reconheci mérito, por exemplo. Nunca lhe vi carisma. Como não vejo, por exemplo, ao Casillas. Acho que é um tipo muito inflacionado, não percebo o que se vê nele, porque ele é capaz do melhor e do pior. Será que o futebol está todo assim agora? Se calhar está, não é?
Há menos romantismo. Por isso é que os adeptos apreciam quando aparecem aqueles jovens do clube, como o André Silva no Porto.
É só negócio. Bem, mas hoje o jogo tem imensa piada pelo cruzamento dos treinadores, por exemplo. Porque o Nuno começou como treinador no Rio Ave e logo para começo de época defronta o Rio Ave. Imagino a posição dele, que é 'quero ganhar mas não quero assim tanto', não é? 'Não quero fazer mal à minha ex-namorada, porque ainda gosto dela' [risos].
Isso de dizeres que és do Rio Ave é só para seres hipster da bola ou és mesmo do Rio Ave?
É para parecer hipster, claro [risos]. Cresci em Vila do Conde e o meu irmão é rio avista ferrenho, por isso contagiou-me. Sou sócia com as quotas em dia. Comecei com isto há uns dois anos, quando fui a uma final da Taça no Jamor, em que o Rio Ave jogou com o Benfica, e eu na altura ainda tinha um pseudónimo e escrevia n' O Jogo e antes n' O Sexo e a Cidália. Essa ida ao Jamor a ver os benfiquistas com os seus garrafões - isto não é uma coisa do passado, isto é de agora - e depois ver os adeptos do Rio Ave ali contra a nação inteira... A partir daí comecei a seguir furiosamente o Rio Ave.
Vais ao estádio?
Vou várias vezes aos Arcos e já conheci o Tarantini, por exemplo. Comecei a desenvolver uma relação simpática, mas não sei o nome dos jogadores todos, evidentemente. Sei que o Ukra saiu e fico triste, fiquei triste com a saída do Pedro Martins... Não faço a mínima ideia que treinador será o Capucho, sendo que, devo confessar, o Capucho era o único jogador de quem tinha um autógrafo [risos]. Uma vez no Algarve, estava com um amigo - e eu adorava o Capucho e as pernas do Capucho - e pensei 'vou pedir-lhe um autógrafo'. E ele desenhou-me um bonequinho que era um capucho. Quem diria que o Capucho agora iria treinar o Rio Ave? Entretanto já percebo que há algum desânimo com o afastamento da Liga Europa, mas... E a saída do Postiga, foi o nosso pequeno Messias na época passada. Agora já ouvi dizer que há grandes esperanças num tipo que é o Rúben Ribeiro, mas não o conheço a fundo.
Afinal estás bem informada.
Quer dizer, eu vou seguindo, tenho SportTV e tudo [risos]. Vejo os jogos, mas nunca faço aquelas avaliações muito técnicas, como te digo. Gosto de ficar vidrada porque o Tarantini chorou no fim, é o lado emocional, é mais um outro espetáculo. No caso do Porto, que é o meu clube para aí há quarenta anos, devo dizer que na época passada perdi um bocado de interesse. Custa-me dizer isto, porque uma verdadeira portista não pode dizer isto. Olha, também tenho um autógrafo do Pinto da Costa.
Achas que o Pinto da Costa também está diferente?
Acho que também perdeu aquele magnetismo. Houve ali uma força que se dilui, foi como se tivesse apostado em muitos cavalos errados e depois instalou-se um desânimo. O Pinto da Costa perdeu um bocado da 'pica' que tinha. É o que te digo, a dada altura parecia que Porto e Rio Ave estavam no mesmo patamar desportivo.
Vais ao jogo hoje?
Vou ver pela televisão, não estou em Vila do Conde. E vou torcer pelo Rio Ave.
Isso era a minha próxima pergunta.
Torço sempre pelos que têm menos força, acreditando que a minha força lhes vai dar outra força. Nestes cenários sou sempre pelo Rio Ave, mesmo que isso depois proporcione aquela humilhação, mais à escala nacional, do Porto contra o Benfica. Gostava que hoje pelo menos conseguissem que não fosse uma coisa como a Alemanha e as Ilhas Fiji [risos].
O Porto pode voltar a ser campeão já esta época?
Opá, claro que sim, não é?
E aflige-te muito pensar num tetra do Benfica?
Não, porque, como te digo, estou a tornar-me perigosamente numa Gandhi, estou assustada comigo por já não sentir estas picardias. Aliás, já eliminei pessoas no Facebook por comentários anti-Porto, é verdade. Mas agora já não tenho muito isso, não sei. Acho que foi o facto de o Porto ter perdido importância, porque foi um ano particularmente trágico, acho. Infelizmente acho que há muitos portistas desmotivados como eu. Mas espero que agora o Espírito Santo nos ajude [risos].