Antes jogava de óculos, os portugueses distraídos do andebol provavelmente conheceram-no de lunetas postas e a pular no campo, em 2020, quando, 14 anos depois, a seleção regressou a um Europeu para o espanto arregalar muitos olhos. “Felizmente, as pessoas preocupam-se mais connosco”, confirmou hoje, altura em que a seleção cola gente às televisões. Pudera, eles muito fizeram para o reconhecimento aumentar e as expetativas virem a reboque, para os jogadores as abraçarem com a mesma resina que têm nos dedos que se colam à bola.
Rui Silva já não joga de óculos, essa imagem foi-se, vive há três décadas e viveu todas as conquistas dos últimos quatro anos na muche da seleção: o 6.º lugar do tal Europeu do regresso, melhor classificação de sempre, dois Mundiais disputados e os Jogos Olímpicos de Tóquio, para os quais foi uma espécie de carteiro da história, marcando o golo nos derradeiros segundos contra a França que valeu a qualificação. Um Ederzito de óculos e que prefere rematar com a mão para tramar franceses no desporto.
Na Alemanha, onde a seleção nacional fez seis jogos e só perdeu contra a tricampeã mundial (Dinamarca) e os campeões europeus (Suécia), resta apenas um jogo contra os sorrateiros Países Baixos, que Rui Silva conhece dos três encontros de 2022. O capitão sabe e está avisado do “ritmo muito, muito acelerado” em que joga o adversário já sem aspirações no torneio (três derrotas na main round), mas apela ao desfoque nisso. “Temos de nos abstrair. É óbvio que há qualidade e acredito que tenham o orgulho ferido para provarem que podiam fazer mais”, reconheceu o jogador do FC Porto, um pouco baralhado na calculadora.
É arrelia comum e a culpa é de quem lhe perguntou. “Estou um bocado fora das contas”, confessou, mas certo, sempre ciente, de que ganhar aos neerlandeses deverá ser suficiente para garantir a presença na prova de qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris - cautela, é um imbróglio que depende das seleções que terminem com melhor classificação neste Europeu -, que seria mais um marco para esta tigelada de jogadores onde já entram miúdos que entravam na adolescência quando Portugal penava para sequer disputar apuramentos. Como capitão, também é isso pelo qual ele pugna: “Passar a mensagem de que o caminho nem sempre foi fácil, que nem sempre chegámos aqui de forma tão leve, o trabalho foi muito árduo.”
O que faltou no jogo contra a Suécia?
Sabíamos que a Suécia é muito forte e acredito que fizeram um jogo muito bom, foram melhores. A distância no marcador que conseguiram no final da primeira parte fez um bocado a diferença, depois tentámos, andámos atrás do resultado, mas eles foram melhores. Agora é aceitar, trabalhar e focarmo-nos no jogo com os Países Baixos.
Às tantas, parecia um castigo em andamento: à mais pequena falha que vocês cometiam, os suecos reagiam com um golo.
Sim, sabíamos que neste nível e contra uma seleção como a Suécia, os nossos pequenos erros são castigados com um contra-ataque e com golos. Talvez seja a maior qualidade que têm. A verdade é que cometem muito poucos erros no ataque e aproveitam muito bem os erros do adversário. Nos primeiros 20 minutos ainda nos conseguimos precaver contra isso, mas, depois, com algumas falhas nos seis metros e ao nível do remate, eles aproveitaram, criaram aquela vantagem e connosco a correr atrás do prejuízo o jogo ficou bem mais difícil.